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Que leigo nunca se sentiu deslocado quando, ao compartilhar uma garrafa de vinho, alguém desanda a falar de características como corpo, tanino, acidez… Esse tipo de análise é muito comum na enologia, que estuda o vinho desde o plantio da uva até os primeiros goles. Apesar de parecer algo muito distante do cidadão comum, qualquer pessoa, em tese, teria a habilidade de aprender mais sobre a bebida, e é isso que a série Gotas Divinas defende.
Na trama desta produção da Apple TV+, acompanhamos a trajetória de Camille Léger, uma escritora frustrada que tem uma relação tempestuosa com seu pai, Alexandre Léger, um dos enólogos mais importantes no universo do seriado. Tudo muda quando ela recebe uma ligação de seu pai e descobre que ele está morrendo. Ao mesmo tempo, é feito um convite para que ela largue sua vida na França e viaje para Tóquio, onde ele mora, para uma conversa.
Quando chega lá, Camille descobre que o senhor Léger faleceu e que receberá uma herança dele, apesar de não se encontrarem há mais de dez anos. É neste momento que surge o problema principal da série: a escritora, que não toma uma gota de álcool, percebe que pode herdar a maior e mais cara coleção de vinhos finos do mundo, mas precisa passar por um teste provando seu conhecimento sobre a bebida.
Leiga versus expert
A dificuldade aumenta quando a personagem principal toma ciência de que seu pai deixou um outro possível herdeiro para coleção, o especialista Issei Tomine, aprendiz e quase um filho adotivo do Sr. Léger. Em um primeiro momento, Tomine parece arrogante, mas é revelado que ele ainda depende de seus pais e não recebe bem por seu trabalho no mundo dos vinhos. Para ele, a possibilidade de herdar a grande coleção é o combustível necessário para se manter na profissão e mostrar para a mãe que há um plano por trás de sua escolha.
Um dos pontos fortes de Gotas Divinas é o seu cuidado em retratar as diferenças culturais entre a França e o Japão, algo que fica claro desde o primeiro episódio. Além de apresentar as barreiras linguísticas, com diálogos em francês, japonês e até inglês, mostra como o povo japonês é mais cerimonioso do que o francês. Para Camille, isso não é um problema, pois ela cresceu em Tóquio com o pai. Porém, fica clara a mudança em seu comportamento uma vez que ela chega ao país.
Outro trunfo da produção da Apple é a atriz Fleur Geffrier no papel de Camille. Ela sabe mostrar as diversas emoções da protagonista com toda aquela situação que envolve sua repulsa pelo álcool e as memórias tristes com o pai. Também torna a jornada para entender o mundo dos vinhos muito mais interessante ao espectador.