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Chumbo nos nazistas

“Guerra sem Regras” é ação para quem reclama que o cinema não é mais o mesmo

"Guerra sem Regras", do Prime Video, é um dos melhores filmes de ação do ano
Henry Golding, Alan Ritchson, Henry Cavill e Eiza González: o elenco principal de "Guerra sem Regras" (Foto: Lionsgate/Divulgação)

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Se Os 14 Punhos de McCluskey – em que o ator ficcional Rick Dalton (Leonardo DiCaprio), de Era uma Vez em... Hollywood, faz justiça transformando um bando de nazistas chorões em “chucrute frito” – existisse fora do universo cinematográfico de Quentin Tarantino, seria muito parecido com o mais novo trabalho do diretor Guy Ritchie. Guerra sem Regras, que acaba de chegar ao Prime Video e já é o filme mais assistido da plataforma no Brasil, marca o retorno triunfante do estilo malandro e retrô do cineasta inglês. Ao lado de Beekeeper: Rede de Vingança, é a ação mais divertida deste ano. 

Baseado em uma história real (mais ou menos), o longa apresenta um relato ficcional da Operação Postmaster, que começa em 1942. Ao som de uma trilha sonora ao estilo Ennio Morricone, conhecemos o agente especial britânico Gus March-Phillips (Henry Cavill, em seu melhor) e o oficial dinamarquês Anders Lassen (um musculoso Alan Ritchson, que rouba a cena) se passando por pescadores suecos em uma missão perigosa por águas infestadas de nazistas na costa africana. 

Sem saber, a Kriegsmarine, que se prepara para inspecionar o navio dos ingleses, está prestes a ser enviada em uma viagem só de ida para o inferno. March-Phillips, Lassen e seus homens desencadeiam um delicioso ataque de fogo e fúria contra as doninhas fascistas, que lembra a icônica cena de derrubada dos Camisas Vermelhas por Franco Nero em Django Livre. Com guitarras tocando ao fundo, eles transformam os nazistas em peneiras humanas. A direção de Ritchie é confiante e contida – a violência é primorosamente visceral, mas nunca se transforma em algo exageradamente gráfico. 

Com o aval de Churchill

Após esta abertura explosiva, o filme volta algumas semanas até o momento em que as autoridades britânicas informam o primeiro-ministro Winston Churchill (Rory Kinnear) sobre o feroz bombardeio aéreo da Luftwaffe. Com a Grã-Bretanha à beira do abismo e as opções diminuindo – incluindo a impensável rendição a Hitler – um momento de pura magia cinematográfica se desenrola. 

O Brigadeiro Gubbins (Cary Elwes), conhecido simplesmente como “M”, e seu assessor, o tenente naval e futuro autor de James Bond, Ian Fleming (Freddie Fox), propõem uma solução audaciosa (o chefe de Fleming e as ousadas façanhas de March-Phillips e seus homens estavam entre as inspirações do jovem para a icônica série de espionagem). A dupla aconselha Churchill a formar uma unidade clandestina para sabotar as operações de reabastecimento dos submarinos alemães em Fernando Pó, ilha controlada pelos espanhóis. Os riscos não poderiam ser maiores – se fossem pegos, o Parlamento exigiria a cabeça de Churchill, com consequências terríveis para a nação e para o mundo. Totalmente consciente dos riscos, o primeiro-ministro dá luz verde à missão secreta.

A decisão de apresentar Churchill com destaque no filme é uma jogada ousada. Retratar figuras históricas familiares é sempre complicado porque o público tem imagens pré-concebidas sobre suas aparências e maneirismos. Aqui, Ritchie pode ter se beneficiado ao dar-lhe menos tempo de tela (espelhando o que fez Tarantino com Churchill em Bastardos Inglórios), proporcionando ao público mais oportunidades de saborear a peculiaridade de Cary Elwes e seu companheiro. Mas esta é uma preocupação relativamente menor em uma comédia de ação que mostra plenamente os pontos fortes de seu talentoso diretor. 

Peckinpah aprovaria

Após o ato inicial, Guerra sem Regras se divide em narrativas paralelas. De um lado, Marjorie Stewart (Eiza González) e Frederich Heron (Babs Olusanmokun) lideram uma unidade de inteligência cuja primeira missão é se infiltrar em um trem repleto de oficiais alemães para espionar os planos de guerra dos nazistas. Embora a dupla nem sempre funcione perfeitamente na tela, os personagens criam um dos momentos de maior suspense do filme, quando o disfarce de Marjorie é quase descoberto.  

Enquanto isso, M incumbe o dissidente March-Phillips de reunir uma equipe de terra para destruir um navio de abastecimento italiano e a frota que o acompanha em Fernando Pó. A equipe mostra uma ótima química quando sua missão sai do curso e descobre que Geoffrey Appleyard (Alex Pettyfer), que M enviou antecipadamente, foi capturado por agentes da Gestapo. A notícia faz os homens pararem num centro nazista nas Ilhas Canárias, orquestrando uma ousada missão de resgate. 

Numa sequência que deixaria Sam Peckinpah de queixo caído, March-Phillips, Lassen e os seus homens aniquilam sozinhos mais de 100 nazis para libertar o seu camarada. É como dar carta branca aos meninos de Meu Ódio Será sua Herança, armados com tudo, desde metralhadoras a arcos e flechas, para causar estragos no Terceiro Reich – um toque de mestre. 

Sexy e estimulante

Como os fãs de Ritchie sabem, o cineasta é excelente em pulverizar bandidos enquanto oferece um tesouro de referências culturais para um cinéfilo. Guerra sem Regras, porém, teria se beneficiado com a construção mais cuidadosa de seu principal vilão, Heinrich Luhr (Til Schweiger). Claro, ele é um nazista fedorento, mas um mergulho mais profundo em sua depravação poderia ter intensificado o impacto emocional do filme. 

O filme compensa o desenvolvimento do personagem com seu ritmo rápido e estética sedutora, com referências a clássicos como Casablanca e o amor de Ritchie pela franquia 007. O élan do diretor brilha ainda mais quando Eiza canaliza Jessica Rabbit em uma versão sensual da música Mack the Knife, que é perfeitamente intercalada com cortes mostrando o caos realizado por Cavill e seu grupo lá fora. O resultado é uma mistura de acelerar o coração, algo sexy e estimulante. 

Aqueles que lamentam que o cinema não é mais o mesmo deveriam ser os primeiros da fila a assistir a Guerra sem Regras. Este é o pastiche no seu melhor, uma homenagem extravagante às emoções elegantes do passado. Para citar a fala de Al Pacino em Era uma vez em... Hollywood: Que filme!  

© 2024 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.

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