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Tony e sua máfia

Há 25 anos estreava “Família Soprano”, uma das maiores séries de todos os tempos

Tony Soprano sentado em sua poltrona: desde 1999, uma imagem icônica
Tony Soprano (James Gandolfini) sentado em sua poltrona: desde 1999, uma imagem icônica (Foto: Divulgação Max)

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Um homem de meia-idade aguarda em uma sala de espera, enquanto contempla aborrecido a estátua de uma mulher. Depois de um suspiro de tédio, é finalmente chamado por outra mulher: “Mr. Soprano?”. Duas poltronas confortáveis, uma estante de livros e o silêncio constrangedor da primeira consulta. Assim estreou, 25 anos atrás, Família Soprano. E ninguém sabia o que aquele mafioso iria dizer.

O espectador mais íntimo dos filmes do gênero poderia fazer duas apostas. Talvez a série fosse um Os Bons Companheiros (1990)mais longo. O filme, estrelado por Robert De Niro e Joe Pesci, basicamente pegou os personagens de O Poderoso Chefão (1972)e os colocou numa mesa de bar, contando piadas perigosamente familiares. Ou quem sabe o seriado seguiria a linha de Máfia no Divã (1999), comédia em que o mesmo De Niro decide enfrentar suas neuroses.

Os dois estariam errados. É certo que David Chase, o criador da série, deve muito aos dois filmes, porém Família Soprano se separa de ambos – e de tudo o que veio antes na TV – já no quinto episódio da primeira temporada. Chase “vira a chave” e a entrega a você, como se perguntasse: até onde você está disposto a entrar na cabeça de Tony Soprano?

Édipo ao avesso

Há dois eixos na temporada inicial que se mantêm nas temporadas seguintes: os conflitos familiares do pai de família e os “desafios profissionais” do chefe de Nova Jersey. O grande embate de Tony é com sua mãe, que resiste ao tratamento médico, por preguiça, e também por uma profunda convicção na falta de sentido da vida. Já no trabalho ele tem de enfrentar seu tio, Junior Soprano, em uma disputa por território.

Tudo é bem amarrado e o desfecho é surpreendente, em que a contenda de Tony com sua mãe vira Édipo ao avesso. O ritmo da narrativa diminui nas temporadas seguintes. É esperado do espectador uma saudável paciência. Família Soprano, como um romance, recua, avança, até pausa. Há espaço para todos os acontecimentos de uma vida, desde uma viagem para Nápoles, até os delírios de um sonho, à moda David Lynch. 

Doutora Melfi, a terapeuta de Tony, interpretada por Lorraine Bracco, que co-protagonizou Os Bons Companheiros, é a pessoa que busca entender tudo isso, como se fosse uma de nós. Gostamos de estar nesta posição de observadores neutros, sem qualquer envolvimento. Mas a série obriga quem a assiste a fazer a escolha moral de absolver ou condenar Tony.

Culpa e redenção

David Chase nunca se declarou católico, apenas “interessado em religião”. Como qualquer ítalo-americano, é óbvio que sua educação passou por tais ensinamentos. Assim, temos em Família Soprano muito da tensão entre culpa e redenção, além de visões místicas, principalmente a partir de Paulie Walnuts, um dos capangas de Tony. Paulie, aliás, é o único que tem um fim bem diferente de seus colegas, por coincidência ou não.

Há um mal central que se irradia por todas as esferas. Ele tem tentáculos no Estado, universidade, polícia, política e na periferia, representada pelos mafiosos. O limite são os filhos de Tony, que ficam incólumes, pelo menos aparentemente. De toda forma, todos os outros estão “danados” e pagam, de uma forma ou de outra, por seus pecados.

Um novo documentário em duas partes, Um dos Nossos: David Chase e a Família Soprano (Wise Guy: David Chase and The Sopranos), será lançado no dia 7 de setembro, na plataforma Max. Agora é o criador de Tony Soprano que aparece sentado na poltrona em que seu personagem sentou há 25 anos. Pelo trailer, descobrimos que Livia Soprano é mais importante do que pensávamos, pois a série é sobre, fundamentalmente, a mãe de Chase.

“Eles disseram que foi um ataque de pânico”, foi a primeira fala do protagonista encarnado pelo ator James Gandolfini. Ele nega que tenha qualquer problema e, em seguida, nega que tenha feito qualquer coisa de errado. Família Soprano te leva a pensar se você mesmo não está também negando o mal dentro de si. Assim como no que vai dizer quando for perguntado, seja na consulta com seu psicólogo, seja no seu último e definitivo julgamento. 

  • Família Soprano
  • 1999-2007
  • Seis temporadas (86 episódios)
  • Indicado para maiores de 18 anos
  • Disponível no Max

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