Um corpo desconhecido é encontrado em um local ermo por um policial. Essa é a premissa básica de inúmeros episódios de séries investigativas, como CSI, True Detective e The Sinner. Em Corpos, o novo fenômeno da Netflix, essa ideia basilar ganha novos tons graças à ficção científica.
Na minissérie de oito episódios, o espectador acompanha quatro detetives investigando o mesmo assassinato em eras distintas de Londres: em 1890, 1941, 2023 e 2053. Não é só o crime que é idêntico. Os corpos que aparecem nas quatro datas são da mesma pessoa – quem assiste descobre isso logo no primeiro episódio, mas os policiais não têm ideia.
Separados pelo tempo em um primeiro momento, os investigadores não conseguem colaborar diretamente para chegar a uma conclusão rápida sobre o mistério. Mas a evolução das tecnologias e da sociedade ajuda cada um deles a chegar cada vez mais perto da solução do caso. É muito curioso quando o detetive Hillinghead, da Londres vitoriana, sugere coletar digitais da cena do crime. Seu superior caçoa da ideia, muito avançada para a época.
Quem ajuda o espectador a ligar os pontos para valer é Iris Maplewood, a detetive do futuro. Ela vive em uma sociedade distópica controlada por um único homem que tem o mesmo lema falado por outros personagens ao longo dos 163 anos em que a série se passa. Ou seja, o homem em questão é um dos principais suspeitos.
Para estômagos fortes
Mesmo que entregue sem muita enrolação que os “corpos” do título são de uma única pessoa, o seriado consegue manter o mistério vivo ao segurar a revelação de como o mesmo cadáver foi parar em quatro períodos distintos. Isso acontece graças a uma simples técnica: o roteiro não segue uma forma linear.
As cenas são alternadas entre as épocas e não há, no começo, um destaque específico a um dos quatro investigadores. Além de fortalecer o interesse do espectador pelo misterioso crime, a escolha ajuda Corpos a passar a impressão de ser quatro séries em uma só. Há uma investigação criminal à la Sherlock Holmes, um conto sobre a corrupção policial em meio à Segunda Guerra Mundial, uma história atual sobre o medo de terrorismo na Europa e, por fim, uma ótima série de ficção científica.
Vale avisar que a minissérie é bastante gráfica em sua violência, uma herança de sua origem no mundo dos quadrinhos. A história veio ao mundo pela primeira vez entre 2014 e 2015, quando a empresa DC publicou Corpos em oito revistas escritas por Si Spencer. O autor, que morreu em 2021, tem o primeiro episódio do hit da Netflix dedicado a ele. Resumindo, é um bom produto para quem tem estômago forte e é fã de histórias em quadrinhos com uma pegada mais modernosa.