Desentendimentos entre irmãos são eventos comuns no mundo do rock. Desde o sessentista Beach Boys até o britânico Oasis, passando pelos nossos Mutantes, grupos que se separaram por desavenças entre rapazes provenientes do mesmo ventre já entraram para a mística do gênero. E é sempre bom quando uma dessas bandas de parentes reatam, algo que São Paulo terá a chance de presenciar na próxima terça (14) com o show do The Black Crowes.
Os corvos negros iniciaram sua trajetória nos anos 80, num subúrbio perto de Altanta, Geórgia (EUA). Mas o mundo só tomou conhecimento de seu rock revivalista na década seguinte, com o lançamento do disco de estreia, Shake Your Money Maker, repleto de canções animadas, casos de Jealous Again e Hard to Handle (cover do soulman Otis Redding), e poderosas baladas, como She Talks to Angels. A grande força da formação vinha dos vocais dilacerantes de Chris Robinson e dos riffs de guitarra de seu irmão Rich Robinson.
A banda teve uma ascensão meteórica na primeira metade dos 90 e chegou até a se apresentar no Brasil, numa edição do extinto festival Hollywood Rock encabeçada por Jimmy Page e Robert Plant. Depois desse auge, o Black Crowes nunca mais repetiu os sete milhões de cópias vendidas de seu primeiro álbum, mas manteve uma base de fãs engajada, identificada não apenas com o som retrô, mas também com o visual meio hippie de seus integrantes.
O que atrapalhava a harmonia era apenas o clima nada amistoso entre os irmãos. Segundo os próprios relatam, numa turnê dividida com o Oasis, as brigas eram tão feias que os ingleses Noel e Liam Gallagher deixavam seus camarins para ver o bicho pegar entre Chris e Rich. Na década passada, os irmãos inteiraram seis anos sem dirigir a palavra um ao outro, situação agravada pelo fato de que Chris queria ter maior domínio sobre a marca Black Crowes, transformando o irmão num sócio minoritário e os demais integrantes em meros funcionários.
O milagre da reconciliação
Por isso mesmo, quando os dois apareceram no programa do radialista Howard Stern anunciando que voltariam aos palcos para celebrar os 30 anos de Shake Your Money Maker, o mundo do rock reagiu incrédulo. O apresentador, que também se mostrava surpreso com a reunião, quis saber como o milagre havia acontecido. “Temos um amigo em comum que ajudou bastante”, contou Rich. “Eu estava tocando minhas composições com outros músicos por aí, mas sempre havia uma metade de mim que estava faltando. A lacuna era óbvia: era o meu irmão”, completou.
Agora não falta mais nada. Com a maturidade que veio com o tempo (mas ainda não veio para o Oasis), os irmãos regressaram para a estrada escudados por novos integrantes e passam por São Paulo para uma única apresentação no Espaço Unimed, 27 anos após incendiar o estádio do Pacaembu, quando estavam na crista da onda. Steve Gorman, baterista que mais tempo permaneceu na formação e hoje tem um litígio legal com os irmãos, diz que esse reencontro só está acontecendo porque eles precisam da grana. Pode até ser verdade. Mas os fãs só querem que Chris e Rich nunca mais passem um Natal separados.