Sem muito alarde (injustamente), a Netflix lançou no último domingo (11) o documentário Irmãos por Escolha. O longa-metragem brasileiro, dirigido por Gabriel Mattar, é o primeiro do gênero a ter total acesso ao processo de treinamento dos cadetes da AMAN (Academia Militar das Agulhas Negras), tornando-o uma estreia imperdível para quem deseja saber mais sobre a árdua rotina dos militares no Brasil.
Gravado entre 2019 e 2020, o filme captura o dia a dia de cerca de 400 cadetes em diferentes etapas dos quatro anos do curso de formação da academia. Também há registros da formação das 26 integrantes da primeira turma que aceitou mulheres na AMAN. Segundo Mattar, que escolheu o tema inspirado pela perda de seu irmão, a missão do documentário é entender os laços de irmandade construídos entre os soldados em formação.
“Irmãos por Escolha poderia ter sido feito em qualquer outro universo acadêmico ou esportivo, pois seu tema fundamental é o ganho da maturidade por meio de superação de obstáculos. Porém, devido à natureza do campo bélico, os obstáculos físicos, psicológicos e emocionais são mais extremados, tornando o drama mais intenso e a superação ainda maior”, defende o diretor, em apresentação no site da produção. “O filme aborda questões essenciais como inteligência emocional e trabalho em grupo e atua como fomentador do debate nacional sobre o jovem, sua participação na sociedade, sua transição para vida adulta, seus potenciais e responsabilidades.”
Estresse emocional
Diferentemente de muitas películas documentais, Irmãos por Escolha não se apoia no conceito de talking heads, aquele tipo de cena previsível com algum especialista comentando sobre determinado assunto no centro da tela. Mattar e sua equipe interferem pouco na rotina da AMAN e apenas focam suas câmeras em personagens específicos, trazendo assim uma espécie de narrativa que mostra a evolução do cadete. Ocasionalmente, algum comentário é incluído para trazer maior contexto, mas grande parte do roteiro (e do processo de formação) se sustenta apenas com a exibição dos acontecimentos de maneira artística.
Um exemplo desta abordagem se dá quando a carta de uma mãe com saudade de seu filho é lida para toda a turma. O foco da câmera não permanece em quem lê o conteúdo, mas sim nas reações de determinados personagens, reforçando o estresse emocional que faz parte da formação dos Agulhas Negras.
Há também uma grande preocupação em mostrar a grandiosidade dos desafios físicos impostos aos cadetes. Ficam evidentes o tamanho da montanha e as condições climáticas onde é realizado anualmente o “Estágio Básico de Escalador Militar”. Em provas como essa, a união entre os jovens é importante para a motivação. As canções e caminhadas em grupo são vitais para aguentar a dureza da escalada. Além de ressaltar a proximidade entre os “irmãos”, a passagem destaca a beleza natural do lugar.