O comediante John Mulaney não é o que podemos chamar de novato. Além de ser uma das principais estrelas do lendário Saturday Night Live, entre 2008 e 2013, o americano estrelou três especiais de comédia da Netflix e é um dos dubladores por trás da animação Big Mouth, que está prestes a chegar ao fim após oito temporadas de sucesso. Mas foi somente agora, com o lançamento do seu quarto stand-up para a plataforma, que ele se solidificou como um dos grandes nomes da comédia na atualidade.
Em Baby J (seu apelido de infância), o comediante revisita seu passado. É possível classificar seu êxito profissional como estrondoso entre a plateia americana, mas foi uma trajetória muito prejudicada pelo vício em álcool e drogas. Raramente algum ator de comédia se mostra tão honesto sobre aspectos obscuros da vida pessoal, e é isso o que torna o novo stand-up um dos principais destaques na plataforma de streaming.
Ciente do peso por trás do tema, Mulaney começa seu set de piadas com uma brincadeira não muito boa sobre a morte de seu avô. Depois disso, a coisa engrena e as risadas fluem levemente por cerca de uma hora, todas às custas de sua luta pessoal.
Zero glamour
Diferentemente de muitos especiais de comédias que esbarram no tema, o uso de substâncias não é glamourizado. Todos os seus malefícios são citados. Desde ações erráticas até os prejuízos na carreira e nas relações com amigos e família.
Não faltam piadas sobre cenários desconfortáveis que Mulaney passou até sua sobriedade, como não ser reconhecido na clínica de reabilitação, ter vendido um Rolex para poder comprar drogas escondido de seu contador ou ser alvo de uma intervenção com a presença de comediantes como Fred Armisen, Seth Meyer e Bill Hader. Mesmo gerando longas risadas, os cenários fazem o espectador entender como o buraco do vício não tem fundo.
Isso é reforçado no final do stand-up, quando Mulaney lê trechos de uma entrevista dada em dezembro de 2020, apenas duas semanas antes de ser internado. No papo publicado na edição americana da revista GQ, o comediante citou casas mal-assombradas, o cereal matinal colorido Froot Loops e outros absurdos em respostas alucinadas que são motivos de risada para ele agora, mas que também funcionam como um alerta para pessoas com problemas semelhantes.
Com toda essa honestidade e maturidade, Baby J vira um novo marco zero para a carreira de John Mulaney. Ao fazer piada com seus problemas, ele evita que isso seja explorado por tabloides sensacionalistas e fica com o caminho livre para focar nos seus próximos passos como um comediante cinco estrelas.
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