Amber Heard e Johnny Depp escancararam suas vidas erráticas no tribunal| Foto: Netflix/Divulgação
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“É um dos primeiros grandes casos de ofensa contra a honra, ligados ao Me Too, a ser julgado.” Essa é uma das diversas falas de youtubers e influenciadores destacadas para resumir Johnny Depp x Amber Heard, o novo lançamento da Netflix que analisa como os dois atores do título foram de casal apaixonado a inimigos no tribunal.

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Mais do que apenas um bom resumo do caso, acompanhando os principais acontecimentos desde que ambos se conheceram, em 2009, até a conclusão do processo, em 2022, a minissérie com três episódios retrata como a triste história de duas pessoas disfuncionais virou um tópico discutido de maneira banal em podcasts e no TikTok, como se fosse um simples jogo de futebol.

Isso fica cristalino em algumas das sequências escolhidas para representar os fãs de cada um dos envolvidos. De um lado, temos um homem adulto que, escondendo sua identidade com a máscara de um super-herói, grava diversos vídeos defendendo Depp cegamente. Do outro, uma mulher esbravejando que Amber é vítima do “patriarcado”, sem ao menos esperar um veredito da juíza ou a apresentação de provas.

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Essas duas opiniões extremas, apesar de erradas, reforçam como o julgamento foi importante no debate sobre o cancelamento, algo cada vez mais comum no mundo artístico. Lembremos que Depp, famoso por seus papéis em Piratas do Caribe Edward Mãos de Tesoura, perdeu a chance de trabalhar em grandes produções assim que sua ex o acusou publicamente de agredi-la, em 2016.

Com um editorial publicado pelo jornal The Washington Post sobre a suposta violência, dois anos depois, Amber virou uma espécie de heroína do movimento conhecido como Me Too, em que atrizes e atores foram a público revelar abusos que sofreram por figuras importantes da indústria de Hollywood. Foi por essa publicação que Depp, até então visto como “um monstro”, decidiu agir legalmente.

Sem maniqueísmo  

Mesmo que faça questão de esclarecer que Depp tinha uma base de fãs maior em sua defesa, a minissérie representa ambas as partes como poderosas. Afinal, Amber também ganhou muito apoio por sua ligação com o Me Too. O documentário foge dessas duas visões extremas e costura a narrativa de que os envolvidos são muito mais do que um ator injustiçado e uma mulher corajosa com influência.

Todos os depoimentos são organizados de maneira cronológica, alternando as vozes do ex-casal, que se conheceu durante a produção do longa Diário de um Jornalista Bêbado. Para quem não está familiarizado com o caso, é uma boa forma de ficar por dentro e entender como o capitão Jack Sparrow conseguiu limpar parte da sua imagem e vencer a luta na corte. Isso também ajuda a entender o tom adotado por cada um quando pressionados contra a parede.

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São apresentados vídeos e áudios que revelam Amber sendo agressiva com o ex-marido. Outros conteúdos trazem o ator agindo de maneira completamente errática enquanto embriagado ou coisa pior.

A falta de inocência dos dois fica ainda mais nítida conforme a minissérie avança. Em um dos momentos mais absurdos, muito comentado à época, a atriz fez suas necessidades na cama em que o marido dormia para se vingar de uma briga e culpou os dois yorkshires dele. Há também espaço para fotos do dedo decepado do “mãos de tesoura”, resultado de uma garrafa de vodka atirada violentamente por sua ex.

A era dos memes 

Todos esses fatos são floreados com as reações de subcelebridades das redes sociais, indicando como esse meio, bem como a imprensa tradicional, foi moldando a visão do público sobre o caso. Em determinado momento, Johnny Depp x Amber Heard coloca na tela diversos memes que surgiram por causa de uma única fala no julgamento que foi capaz de desmontar a imagem de um dos prestigiados advogados, que cunhou o termo “megalitro”. Isso prova que, atualmente, um vídeo engraçadinho de 20 segundos têm muito mais poder do que o material bruto gravado na corte, que ultrapassou as 200 horas de filmagens.

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Seja pela crítica à facilidade de mexer com a opinião pública ou por mostrar os resultados de duas pessoas problemáticas que não respeitam o matrimônio, a minissérie merece seu posto entre os produtos mais assistidos da Netflix nesta semana. Mesmo que você não seja fã de nenhum dos atores, assistir é importante para compreender o atual momento da cultura do cancelamento. E também para confirmar que Johnny Depp, que não é nenhuma flor que se cheire, merecia de fato ser inocentado.