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Se você tem algum interesse em cinema e gosta da extensa obra de Clint Eastwood, já está sabendo que Jurado Nº 2 foi boicotado pelo seu próprio estúdio (Warner), limitando sua exibição em cinemas e fazendo pouquíssimo esforço para que a obra ganhasse indicações em premiações. A especulação mais recorrente é que os executivos não gostam do posicionamento político conservador do cineasta. E, nem o fato dele estar com 94 anos, apresentando um trabalho compatível com o melhor de sua carreira, sensibilizou os burocratas. Cabe, portanto, a você – agora que Jurado Nº 2 chegou à plataforma Max – fazer justiça com seu próprio controle remoto e prestigiar o filmaço.
A história é simples e direta, levando a um dilema moral, como é típico na trajetória de Eastwood. Justin Kemp (Nicholas Hoult) é convocado para participar do júri sobre o assassinato de Kendall Carter, uma jovem que apareceu morta ao lado de uma ponte após discutir com o namorado num bar. A questão é que Kemp, um alcoólatra em recuperação, estava nesse bar na mesma noite chuvosa e, com a apresentação do caso no tribunal, passa a suspeitar de que ele é o autor do crime, pois ao sair do local, atropelou algo (pensou ter sido um veado, mas pode ter sido Kendall).
O júri reunido tem tudo para determinar a condenação do namorado, James Sythe, um encrenqueiro de marca maior com histórico de violência. Além disso, quem representa a família de Kendall é a convincente defensora Faith Killebrew (a sempre ótima Toni Collette), que aspira uma carreira política e sabe que o caso pode contribuir para sua ascensão. Mas, na hora de deliberar, Kemp é consumido pela culpa e tenta mostrar para os colegas jurados que o namorado pode ser inocente, ao mesmo tempo em que não se enche de coragem para assumir o b.o. – ele tem muito a perder, especialmente por ter uma esposa grávida em casa, prestes a parir.
Um menino que desabrochou
A condução de Eastwood é sóbria e vai revelando camadas do drama moral a cada momento que avança. Mas a competência do diretor, que não é novidade nem para o progressista mais alucinado, ganha uma boa ajuda de Nicholas Hoult. É bem possível que estejamos acompanhando o auge de um dos maiores atores desta geração. Aos 35 anos, o inglês não tem a menor dificuldade de lidar com os holofotes. Isso porque, aos 13, ele já protagonizava com Hugh Grant e Toni Collette a terna comédia romântica Um Grande Garoto.
De lá para cá, acompanhamos o crescimento do grande garoto, com seu ecletismo invejável. Uma hora ele estava em blockbusters da franquia X-Men ou Mad Max, outra hora estrelando filmes cultuadíssimos, como A Favorita ou O Menu (nunca um foodie sem noção será tão bem representado nas telas). Ele pode ser tanto o assistente do Drácula Nicolas Cage em Renfield, como pode encarnar o Lex Luthor no Superman que será lançado em 2025. Pode fazer a voz do dono do gato Garfield, como, quem sabe, roubar a cena na versão de Nosferatu que estreia na semana que vem.
Nas cenas em que divide com os experientes J.K. Simmons (um xerife aposentado que abre os olhos do júri) e Kiefer Sutherland (seu mentor no Alcoólicos Anônimos e futuro advogado), e com a esposa vivida por Zoey Deutch, Hoult não deixa dúvidas de que chegou no pico. A passagem mais arrebatadora é no reencontro com Toni Collette, 22 anos depois de Um Grande Garoto, num banco em frente ao tribunal. O diálogo sincero conduz para um final aberto que pode irritar o espectador mais convencional, mas que seria um arremate formidável para a carreira de Eastwood. É ele dizendo para quem está na poltrona: você decide, você é a estrela desse show. Obrigado por isso e tudo mais, Clint.
- Jurado Nº 2
- 2024
- 114 minutos
- Indicado para maiores de 12 anos
- Disponível no Max, Claro TV+ e para locação na Amazon, Apple TV e Microsoft