Não é exagero dizer que Kanye West (ou YE, como agora ele prefere ser chamado) é um dos maiores fios desencapados que já ricochetearam pelos mundos da música e da moda. Por sua vez, Kim Kardashian e seu clã representam a futilidade de uma boa parte das mulheres modernas, além da busca desenfreada pela fama.
O casamento desses dois, apesar das excentricidades, foi até tranquilo se comparado ao que aconteceu durante a separação. Kim vs Kanye: O Divórcio do Século, disponível no Max (ex-HBO Max), ilumina aspectos importantes desse processo, com o rapper e estilista lutando para manter o casamento e a empresária e celebridade recorrendo aos melhores advogados dos Estados Unidos para se livrar do marido.
A realização é da mesma equipe da Discovery por trás de Johnny vs Amber: O Último Julgamento, sobre a disputa judicial entre os atores Johnny Depp e Amber Heard. No formato, as obras são idênticas: um episódio dá voz ao homem e o outro traz a versão da mulher. Pessoas próximas e advogados cedem depoimentos, que são intercalados por imagens de arquivo e de tribunais. Ao final dos dois documentários de 50 minutos, cabe ao espectador formar seu juízo sobre o litígio.
No caso de Kim vs Kanye, é muito difícil comprar a bronca do músico. Seu episódio é generoso com sua produção artística. Kanye é tratado como um gênio do hip hop e alguém que rendeu muito dinheiro para a indústria da moda, com seus designs de calçados e vestimentas urbanas. Mas o documentário também expõe suas contradições, sua diagnosticada bipolaridade e seu comportamento irascível diante das câmeras de paparazzi e nas redes sociais.
Conservador de araque
Kanye passava por uma fase conservadora quando a crise com Kim explodiu. Além de declarar apoio a Donald Trump (após ele mesmo ter se lançado como candidato à presidência dos Estados Unidos), soltar um álbum com sonoridade gospel e letras religiosas (Donda, de 2021) e realizar cultos dominicais, o rapper queria que a então esposa usasse roupas mais comportadas em suas aparições públicas e no reality show Keeping Up with the Kardashians. Também brigava para que sua filha mais velha, a então pré-adolescente North West, não tivesse sua imagem explorada em vídeos do TikTok, contrariando a concepção da mãe, que achava o aplicativo adequado para a garota se expressar criativamente. Corta para maio de 2024 e Kanye não se cansa de circular com sua atual esposa Bianca Censori praticamente nua e North pinta como a estrela e a diretora de seu novo videoclipe, Talking.
Portanto, é preciso ser muito ingênuo para acreditar que ele queria mesmo manter o casamento por acreditar na instituição da família. Ou que ele comprou uma mansão do outro lado da rua em que vivia com Kim apenas porque desejava ter acesso a North e seus outros três filhos, e não para espionar e intimidar a ex-mulher. Sua parte da história termina com ele sozinho e isolado, descontente com a vitória de Kim e cancelado por ter dito no Instagram que ia “matar a judeuzada”, entre outros absurdos raivosos. Com Kanye não é “se ele vai te decepcionar”, é “quando ele vai te decepcionar”.
A questão capciosa é que, apesar dos pesares, ele é um artista. Já criou discos experimentais impressionantes (caso de Yeezus, de 2013), ao mesmo tempo em que é o único rapper a liderar o Hot 100 da Billboard em três décadas diferentes, incluindo aí um hit escrito com Paul McCartney (FourFiveSeconds). E Kim Kardashian é o quê? Kim vs Kanye não esconde que sua única ambição era ser famosa, projeto que ela começou fazendo amizade com Paris Hilton, outra nulidade. Casar-se com Kanye fazia parte do plano de tirá-la da lista de subcelebridades e elevá-la ao primeiro time. Ao lado do cônjuge genial, Kim passou a se sentar na primeira fila dos principais desfiles de moda, algo muito valorizado por ela e pelos jornalistas de fofoca que narram sua jornada no doc. Um desses milongueiros da imprensa livre chega a chamar as Kardashians de “a nossa família real”. Pobre América.
Por outro lado, Kim vs Kanye defende que ela nunca deixou de ser uma mãe exemplar, mesmo nos momentos mais desgastantes do processo de separação. Kim sai como vítima da situação e é bem plausível que seja isso mesmo, após anos tendo de aturar um encosto como Kanye, preço alto que pagou para mudar de patamar na alta sociedade. O material disponibilizado pelo Max serve para situar quem está longe desse mundinho frívolo e não faz ideia de como as coisas têm funcionado nele. Maiores considerações sobre o compromisso do casamento ou sobre os reais problemas de um casal que pensa em se divorciar você não encontrará aqui. O show business é contra papos de encontro de almas e amor eterno.
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