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Maestro paranaense Waltel Branco morre aos 89 anos

O músico Waltel Branco, em março de 2011 | Albari Rosa/Arquivo Gazeta do Povo
O músico Waltel Branco, em março de 2011 (Foto: Albari Rosa/Arquivo Gazeta do Povo)

O maestro Waltel Branco, um dos grandes nomes paranaenses da música, morreu no último dia 28 de novembro, no Rio de Janeiro, aos 89 anos de idade. A notícia do falecimento só foi divulgada nesta quinta-feira (13), 15 dias após a morte do músico nascido em Paranaguá, no litoral do Paraná, que começou a carreira em Curitiba. O músico participou de composições como o tema do filme A Pantera Cor-de-Rosa e de trilhas sonoras de novelas como Escrava Isaura e Irmãos Coragem.

Waltel participou de cerca de mil discos e colaborou com artistas como Tom Jobim, Henry Mancini, Astor Piazolla, Dizzy Gillespie, Nat King Cole, Quincy Jones, João Gilberto, Baden Bawell, Roberto Carlos, Djavan, entre tantos outros, com quem transitou em ritmos tão diferentes como a bossa nova, funk, samba e música clássica. A família não divulgou a causa da morte.

“Ele vivia para a música e a música dele era muito intuitiva, insubstituível”, comentou o produtor musical curitibano Virgilio Milléo, diretor de um documentário sobre a vida de Waltel que estrear em breve.

Arquivo Gazeta do Povo: Waltel Branco, o maestro oculto

Bem-humorado e generoso, como os mais próximos costumavam descrevê-lo, Waltel morava há um ano no Rio de Janeiro com uma filha, após voltar a viver por quatros anos até 2017 em Curitiba, onde iniciou a carreira com uma jazz-band na década de 40.

“Infelizmente não se tem mais músicos e maestros como ele. Waltel transitou por vários sons diferentes, ele tinha essa capacidade, mas era muito simples ao mesmo tempo”, ressalta Milléo, que compilou 101 músicas do músico para download em um site próprio.

O jornalista Felippe Aníbal, que atuou na Gazeta do Povo, está escrevendo a biografia do maestro e ficou consternado com a notícia. “Waltel era um ser-humano extraordinário e um gênio criativo. Compôs até o fim. Deixa um legado inestimável, maior do que se imagina. Quanto mais se pesquisa sobre o maestro, mais se descobre sobre sua obra”, contou o jornalista ao jornal Tribuna do Paraná.

Carreira

Nascido em 22 de novembro de 1929 por um acaso em Paranaguá - a família tinha decidido passar um fim de semana no Litoral e foi surpreendida pelo nascimento do filho dois meses antes do previsto -, Waltel começou sua trajetória musical aos 12 anos. Aventurou-se no canto gregoriano por sua tradição católica e tomou gosto pelos acordes do violão. Explorou a música clássica e incidental e, desta vez não por acaso, acabou se tornado um dos maiores nomes da regência e composição do Brasil.

Em 1943, um ano antes de ser ordenado padre, deixou o seminário e seguiu para Cuba, acompanhando a cantora Lia Ray como arranjador, diretor musical e violonista. A pedido do próprio presidente cubano Fidel Castro, de quem foi amigo, participou de um projeto para recuperar a autenticidade da música cubana.

Em 1950, mudou-se para os Estados Unidos, onde estudou com o maestro Stanley Wilson e Henry Mancini. Da parceria com Mancini saiu seu trabalho mais conhecido: os arranjos do tema de A Pantera Cor-de-Rosa, filme de 1963 em que o ator inglês Peter Sellers eternizou o inspetor de polícia trapalhão Jacques Clouseau. Morou também na Europa e Ásia e especializou-se em trilhas sonoras

Ainda nos EUA, o paranaense recebeu um convite do próprio Roberto Marinho, fundador da Rede Globo, para se juntar a Radamés Gnatalli, César Guerra Peixe e Guido de Moraes para compor um dos maiores times de compositores de trilhas para novelas. Ficaram na conta dele os arranjos de sucessos das novelas Selva de Pedra, Escrava Isaura e Irmãos Coragem.

Entre as décadas de 1960 e 1990, trabalhou com dezenas de músicos de renome. De Roberto Carlos a Cauby Peixoto, de Astor Piazzolla a Baden Powell, de João Bosco a Zé Ramalho, de Novos Baianos a Cazuza, de Gal Costa a Mercedes Sosa, de Alceu Valenca a Djavan - que diz dever a Branco a história de seu sucesso como músico.

À procura de uma gravadora, Djavan foi recebido por dois produtores na Som Livre na década de 70. Um deles era Branco, que encorajou o talento do alagoano. “Watel foi determinante nesse momento. E ele me chamou a atenção nesse mesmo dia por outra coisa. Ele disse ‘Seu violão é ruinzinho, né? Você quer um violão? E u te dou um’. E me surpreendeu de novo”, relembrou Djavan em entrevista à Fundação Cultural de Curitiba em 2013. E o instrumento que o cantor ganhou do paranaense fez história. “É o violão que tenho até hoje e com o qual gravei todos os meus discos”, diz o autor de Flor de Liz e Sina .

Em 2016, Paranaguá homenageou o maestro batizando com o nome dele o conservatório musical da cidade litorânea. Em 2012 recebeu o título de doutor honoris causa pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) como compositor, arranjador e multi-instrumentista paranaense. Waltel transitou por inúmeros ritmos populares – do samba-canção à Bossa Nova, do jazz fusion à MPB, do samba às trilhas de novela – ao longo de sua carreira.

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