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Imagine a dor que deve ser acabar em outra realidade, em um lugar onde seu filho e sua esposa não são mais sua família. É justamente essa a situação de Jason Dessen, o protagonista de Matéria Escura, nova série do Apple TV+. A produção, que adapta o livro homônimo do americano Blake Crouch, está fazendo a cabeça dos fãs de ficção científica e pode seduzir até mesmo os não tão adeptos deste filão.
Com um começo lento, a história contextualiza o espectador dentro da vida de Dessen. O personagem, um homem inteligente, toca uma rotina pacata ensinando física em uma universidade, sem receber o reconhecimento que deveria e se sentindo insatisfeito. Esse aspecto de sua personalidade entra em voga quando seu amigo, Ryan, conquista um prêmio único no universo da ciência e se reaproxima do professor para chamá-lo para uma nova empreitada.
A oferta pode mudar tudo, mas o projeto acaba suspenso quando Dessen é sequestrado. Ele acaba drogado por um homem mascarado e acorda em uma realidade paralela, onde tudo é parecido com onde morava, mas as relações, totalmente diferentes. É aqui que começa todo o drama do professor, que deve usar de sua inteligência e da criação de novos contatos para tentar voltar para sua família e para a vida que antes não valorizava tanto.
Ciência para pensar
Como de costume em tramas que misturam ficção científica e suspense, as peças vão se encaixando aos poucos. Mas vale notar que, a partir do terceiro episódio, o roteiro começa a ferver e tornar a experiência irresistível para quem gosta de maratonar séries.
Para os fãs de ciência, Matéria Escura também atende bem. Todas as teorias que aparecem nas cenas são baseadas em ideias reais. Isso também acontece no livro, pois Crouch se preocupou em consultar o especialista Clifford Johnson, professor de física quântica da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos. Se você já ouviu falar do gato de Schrödinger, o terreno não será tão estranho e bem interessante.
Outro destaque é o elenco, com Joel Edgerton, Jennifer Connelly e a brasileira Alice Braga. Todos os atores estão bastante investidos em seus personagens e sabem criar nuances para diferenciá-los entre uma realidade e outra.
Responsável pelo protagonista, Edgerton elogiou bastante a trama em uma entrevista recente à revista Variety. “A melhor ficção científica é aquela que oferece um conceito que permite amplificar certos temas”, disse. “A ideia de poder ter acesso a outra versão da sua vida realmente investiga pensamentos sobre arrependimento e se ‘a grama é realmente mais verde’ do outro lado.”
Os tons filosóficos são a cereja no bolo da experiência de assistir a Matéria Escura, que tem um episódio disponível gratuitamente para quem não assina o Apple TV+ e outros oito para assinantes. Pode ficar tranquilo que essa história de realidades paralelas está longe da baboseira ofertada em Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo. O seriado se aproxima muito mais de produtos como Black Mirror e a versão mais recente de The Twilight Zone.