Um dos desafios de Bruce Miller nas filmagens da primeira temporada de "The Handmaid's Tale", produção da Hulu hoje exibida pela Paramount no Brasil, foi fazer as tomadas em que Joseph Fiennes contracena com Elisabeth Moss em cenas de sexo.
"Tente fazer isso sem que a cena resulte em algo sensual", desafia o diretor, ressaltando atributos físicos dos atores.
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A frase ilustra o pesadelo em que Offred (personagem de Moss) se encontra quando a série começa. Ela vive em Gilead, onde instaurou-se uma ditadura especificamente violenta com as mulheres.
A maioria delas tornou-se infértil, e as que podem ter filhos passam a servir ao Estado como reprodutoras oficiais. É nesse contexto que Offred tem relações com Fred (Fiennes), este casado com Serena (Yvonne Strahovski), que assiste a todas as cópulas.
Adaptada do livro da canadense Margaret Atwood, de 1985, a obra tornou-se símbolo feminista na cerimônia do Globo de Ouro que a consagrou como melhor série, em janeiro, a mesma em que atrizes vestiram-se de preto contra o assédio sexual e outras formas de opressão.
Embora pareça resposta a expressões de machismo de Donald Trump, Miller diz que o roteiro começou a ser escrito antes de o atual presidente dos EUA vencer a eleição.
Produtor, showrunner e roteirista da série, Miller falou sobre seu trabalho no Rio2C, encontro do setor criativo e a indústria do audiovisual que vai até domingo. Sua palestra foi uma das mais disputadas.
Ao jornal Folha de S. Paulo, o diretor, produtor e roteirista disse que a obra funciona como alerta atemporal contra o autoritarismo.
"É bom sempre olhar ao redor e identificar pistas para entender os riscos de como as coisas serão mais tarde. Vocês estão tendo os seus tumultos políticos no Brasil, nós também estamos nos EUA. É importante dizer que a série [por meio de flashbacks] mostra eventos importantes que resultaram naquela sociedade".
Não foi preciso "fazer tanta pesquisa" para entender Estados totalitários. "Não é como se tivessem aparecido um dia, pela manhã", diz. Ele cita a Alemanha nazista, a Coreia do Norte e o Irã, uma democracia que fechou-se em censura e retaliação a costumes.
E o que levou ao regime autoritário na fictícia Gilead? "Foi o medo da queda brutal nos índices de nascimento", diz Miller. Calcificou-se a teoria de que Deus estaria punindo a humanidade. "Não haveria outra explicação para que bebês parassem de nascer. O medo de desagradar Deus é a base para toda a coisa", explica.
A segunda temporada estreia nos EUA no fim do mês. Não há previsão para o Brasil.
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