O americano Sam Peckinpah (1925-1984) foi um dos grandes rebeldes do cinema. Fez filmes que influenciaram gerações de cineastas, mas sempre teve uma relação conturbada com estúdios e morreu sem conseguir realizar diversos projetos. Seu maior filme é o faroeste Meu Ódio Será Sua Herança (no original, The Wild Bunch), feito em 1969, história de um grupo de foras-da-lei comandados pelo veterano Pike (William Holden) que se veem às voltas com a lei e soldados mexicanos liderados pelo corrupto e sanguinário general Mapache (Emilio Fernández).
Com seu visual bruto e as impressionantes cenas de tiroteios em câmera lenta, Meu Ódio Será Sua Herança foi um marco do cinema de faroeste e também do cinema da contracultura. O filme teve enorme influência em diretores como Quentin Tarantino e o chinês John Woo. Segundo Woo, Meu Ódio Será Sua Herança foi o filme que o fez decidir se tornar cineasta: “Quando vi aquelas cenas brutais em câmera lenta percebi que o cinema era uma arte de verdade”.
Outros diretores famosos, como Francis Ford Coppola, Martin Scorsese, George Lucas, Oliver Stone e Paul Schrader, já confessaram sua admiração pelo estilo visceral e agressivo dos filmes de Peckinpah. “Ele reinventou o faroeste em Meu Ódio Será Sua Herança”, disse Stone certa vez. Os críticos europeus, especialmente os da prestigiada revista Cahiers du Cinéma, viram em Sam Peckinpah um visionário genial.
A vida do cineasta foi tão conturbada e violenta quanto seus filmes. Ele viveu muito tempo em uma fazenda na Califórnia, em meio a uma família carregada de problemas pessoais. Enquanto crescia acostumado à vida rústica do campo, o jovem Sam cultivava sua paixão pelas peças de Tennessee Williams (À Margem da Vida era sua favorita) e pelos faroestes de pioneiros como John Ford.
Rebelde frustrado
Sam Peckinpah começou a trabalhar em teatro e TV nos anos 50 e, em pouco tempo, tornou-se assistente de Don Siegel, outro famoso rebelde do cinema americano – que usou Peckinpah como ator no clássico de ficção-científica Vampiro de Almas, de 1956. Em 1961, ele fez seu primeiro filme, O Homem que Eu Devia Odiar, já mostrando uma adoração pelos faroestes. Um ano depois, dirigiu o soberbo western Pistoleiros do Entardecer, último filme de Randolph Scott. Os estúdios hollywoodianos imediatamente chamaram o novo talento, mas tentaram tornar seus filmes comercialmente mais acessíveis, o que provocou imensa frustração em Peckinpah. Esse sentimento, combinado com uma personalidade raivosa e autodestrutiva, fez dele um homem amargurado e por vezes violento, que passou por vários casamentos e teve sérios problemas com álcool e drogas.
Peckinpah dirigiu Juramento de Vingança, em 1965, mas logo depois se disse “envergonhado” do filme, por causa dos cortes impostos pelo estúdio. Quatro anos mais tarde, voltou a enfrentar tais problemas para fazer Meu Ódio Será Sua Herança. No filme, William Holden interpreta o chefe de uma quadrilha de bandidos que aterroriza o Texas em 1913. Robert Ryan faz um ex-integrante da gangue, obrigado pela polícia a caçar seus antigos comparsas. Meu Ódio Será Sua Herança é uma das obras visualmente mais impactantes da história do cinema. Para criar as impressionantes cenas de tiroteios, o diretor usou uma técnica especial: filmagens simultâneas com diversas câmeras, em diferentes velocidades. Depois, na mesa de montagem, juntou cenas em tempo real, em câmera lenta e aceleradas, transformando a carnificina, na tela, em um balé surreal.
Bob Fosse, Oliver Stone e John Woo são apenas alguns dos diretores que imitariam o “estilo Peckinpah de montagem”. Como disse o crítico Michael Sragow na revista The New Yorker “o que Cidadão Kane foi para os amantes do cinema em 1941, Meu Ódio Será Sua Herança foi para cineastas em 1969”.
O filme, na versão do diretor, está disponível no streaming Max (ex-HBO Max) e também pode ser alugado na Apple TV.
Boicote do agro ameaça abastecimento do Carrefour; bares e restaurantes aderem ao protesto
Cidade dos ricos visitada por Elon Musk no Brasil aposta em locações residenciais
Doações dos EUA para o Fundo Amazônia frustram expectativas e afetam política ambiental de Lula
Painéis solares no telhado: distribuidoras recusam conexão de 25% dos novos sistemas