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Em Meu Pai, Anthony Hopkins interpreta o personagem Anthony (sim, o mesmo nome do ator octogenário), um engenheiro aposentado que se torna cada vez mais confuso, irritado e obcecado com seu relógio de pulso. O roteiro, baseado em uma peça produzida por Florian Zeller em 2012, retrata as dificuldades de uma família que possui um membro afetado pela doença de Alzheimer, que afeta a memória, a cognição e outras funções mentais importantes.
No começo de maio, o filme de 2020 retornou ao streaming brasileiro e hoje está disponível em plataformas como Netflix e Belas Artes à La Carte. O momento propicia que os assinantes desses serviços tenham contato com o longa-metragem, seja pela primeira, segunda ou até uma terceira vez, desde que o estoque de lencinhos esteja à mão para enxugar as inevitáveis lágrimas.
Um dos principais motivos para assistir (ou reassistir) Meu Pai é a atuação de Hopkins, que lhe rendeu o Oscar de Melhor Ator, em 2021. Chega a ser redundante recomendar o filme por isso, visto que Hopkins é um titã da atuação. Basta assistir a clássicos como O Homem Elefante, O Silêncio dos Inocentes e até ao filme mais recente, Armageddon Time, para se certificar disso. Porém, nessa produção, a interpretação do veterano é um novo marco em sua carreira, tornando difícil que algum espectador não se emocione com a história do patriarca afetado por problemas de memória.
Um dos momentos mais marcantes se dá quando Anthony (o personagem) lembra-se de sua mãe e começa a chorar com saudade de casa, dizendo que sente estar “perdendo todas as suas folhas” no final de sua vida. Essa cena é de cortar o coração de qualquer pessoa que tenha fortes laços afetivos com sua família.
Outro grande trunfo de Meu Pai é a adaptação da peça em si, feita pelo próprio Zeller. A forma como a história foi escrita, usando o ponto de vista do pai doente, distancia esse drama de outros com argumentos similares. A Academia de Cinema reconheceu esse valor e também premiou Meu Pai com o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado.
Possível trilogia
Meu Pai não é uma obra que careça de continuação. Contudo, como a adaptação faz parte de uma trilogia no teatro, é natural que surja a pergunta: o filme ganhará uma parte 2?
Na realidade, uma outra peça da trilogia já foi lançada nos cinemas, em 2022, com o nome de Um Filho (disponível no Prime Video, Now e para locação em outros serviços). Embora traga Hopkins no papel de outro pai chamado Anthony, o personagem não é o mesmo. O filme explora as dificuldades de Pete (interpretado por Hugh Jackman) em lidar com a depressão do filho adolescente. Essa “continuação” passou meio que batido, certamente por não chegar perto da qualidade da produção antecessora. Mesmo com a ótima atuação de Jackman, não é difícil perceber que ele não está no mesmo patamar da estrela de Meu Pai, que também rouba a cena nesse longa.
A depender dos estúdios e do próprio Zeller, é possível que a trilogia familiar ganhe um novo filme dedicado à figura da mãe, que é o centro da terceira peça produzida pelo roteirista, mas ele afirma ainda não saber. "Eu amo a ideia de uma trilogia. O fato é que fazer um filme leva tanto tempo e energia, então você precisa ter bons motivos”, contou em entrevista recente ao site Awards Watch. “Hoje, a resposta honesta é que não sei... Gosto de ficar um pouco no desconhecido para ver o que pode aparecer.”