Michael Keaton vai completar 50 anos de carreira em 2025. Todo mundo já viu e gosta de alguma atuação sua, seja em filmes de apelo popular (Os Fantasmas se Divertem, Batman) seja em trabalhos mais ambiciosos (Birdman ou a Inesperada Virtude da Ignorância, Spotlight – Segredos Revelados). Sua faceta de diretor é bem menos conhecida, até por se resumir a dois filmes, sendo que o segundo está em cartaz nos cinemas brasileiros (deve chegar ao streaming Max em breve) e merece ser prestigiado: Pacto de Redenção.
A primeira coisa que precisa ser dita sobre esse thriller criminal é que o nome em português deixa muito a desejar. No original, Knox Goes Away (Knox Vai Embora) alude ao nome do protagonista, o assassino de aluguel John Knox, vivido pelo próprio Keaton, que descobre uma doença cerebral degenerativa com poder de leva-lo a óbito em poucas semanas. Esse “vai embora”, portanto, refere-se tanto ao último trabalho que ele precisa concluir antes de se retirar de cena quanto às suas memórias e sentimentos, que a demência levará de forma inclemente em questão de dias.
O título em português entrega um pouco mais da história. O tal “pacto de redenção” advém de uma questão que envolve Knox e seu filho Miles (James Marsden), que cortou relações com o pai ao descobrir qual era sua real atividade laboral. Numa noite especialmente complicada para Knox, em que ele acaba executando acidentalmente um parceiro de crime já como um reflexo da progressão da demência, o filho bate à sua porta todo ensanguentado. Relata ter matado um nazista que havia engravidado sua filha (neta de Knox). Após anos sem contato com o progenitor, Miles recorre ao mesmo para que, com sua experiência de matador, ele dê fim ao cadáver e invente um álibi para que a família não seja ainda mais destroçada. E até onde um pai é capaz de se comprometer para salvar a pele de um filho que o abandonou?
O guru Al Pacino
Keaton encara bravamente a missão de retratar as angústias desse criminoso que precisa ajudar o filho antes que sua mente pife de vez. O filme simula apagões e visões embaralhadas para que o espectador sinta na pele a evolução da doença. Knox bola um arriscado plano para salvar a pele de Miles, enquanto começa a liquidar suas joias e quadros para deixar a herança organizada no dia em que ele não puder mais responder por si. Busca então o apoio do guru Xavier, papel da lenda Al Pacino, bandido aposentado que o colocou nesse submundo. Xavier é encarregado de ligar para Knox de vez em quando para checar se o pupilo segue consciente e executando as etapas do plano sem deixar pontas soltas.
Quem assiste a Pacto de Redenção fica na expectativa de saber se a doença vencerá o protagonista ou se a perspicácia e toda a experiência acumulada por Knox garantirão um final “feliz” (bem entre aspas, afinal não há cura para o seu mal). Também é interessante acompanhar como pai e filho vão se entendendo graças à situação desesperadora que os reúne. Numa outra ponta, Knox vive uma relação com uma garota de programa polonesa que sai da esfera comercial e entra na sentimental. Tanto que ele pretende deixar um terço de seus bens para ela, mas a vida demonstra que isso não é tão simples assim.
Mesmo que não seja a obra mais original do mundo, especialmente numa era em que sobram histórias no cinema em que um veterano precisa arregaçar as mangas para concluir uma última missão, Pacto de Redenção tem encontrado o seu público. Houve até crítico especializado cravando que esse é o filme do ano. Não é para tanto. Mas o longa tem um desenrolar satisfatório e não perde a audiência em nenhum momento. Keaton, do alto de seus 73 anos, dedicou-se imensamente para colocar esse projeto de pé, investindo também como produtor. Vai completar meio século nesse métier com um belo exemplo de sua vocação para a sétima arte.
- Pacto de Redenção
- 2023
- 114 minutos
- Indicado para maiores de 14 anos
- Em cartaz nos cinemas
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