Histórias em que um dos lados representa o gigante Golias e o oponente remete ao bravo Davi sempre despertam interesse. Na guerra das colas nos Estados Unidos, houve um momento em que a desafiante Pepsi se viu no papel de Golias (mais adequado ao seu concorrente, a Coca-Cola). Foi quando a marca de refrigerantes lançou uma campanha, em 1996, que incentivava os consumidores a adquirirem seus produtos para acumularem “pontos Pepsi”, a serem revertidos em camisetas, jaquetas e outros itens com o famoso logo vermelho, azul e branco. A propaganda exibia um rapaz cheio de roupas e assessórios conquistados com essa promoção, incluindo até um jato militar.
A parte do avião era obviamente uma brincadeira, mas motivou o jovem John Leonard, então um universitário de 20 anos, a bolar uma estratégia para chegar na pontuação usada pela peça publicitária e depois exigir seu jato como prêmio. Em quatro episódios de cerca de meia hora, Pepsi, Cadê meu Avião? recupera essa saga, que redundou numa batalha judicial, hoje estudada em vários cursos de Direito. A minissérie documental poderia ser até mais enxuta, porém a proposta não era somente apresentar o caso com depoimentos. Quase todos os relatos são encenados por atores, com músicas de sucesso dos anos 90 ao fundo, dando uma pegada bem pop para a série, lançada no fim de 2022 pela Netflix.
E John Leonard teve seus 15 minutos de fama no mundo pop. Enquanto a briga nos tribunais tomava vulto, o estudante levava sua narrativa a programas de rádio e tv locais, chegando até a ser sondado para uma entrevista no talk show de David Letterman. Pepsi, Cadê meu Avião? também joga luz em Todd Hoffman, amigo empresário que bancou os custos de Leonard na empreitada, no polêmico advogado Michael Avenatti, figura importante para popularizar a contenda, e na equipe de marketing responsável pela campanha da marca de refrigerantes. Ao longo dos episódios, todos os envolvidos participam do desafio Pepsi, um teste cego para saber qual das famosas colas vence no paladar. O placar final é um chamariz para manter o espectador até o fim da série.
Ainda que o resultado não seja idêntico ao do embate bíblico, Pepsi, Cadê meu Avião? mostra que todas as partes aprenderam e ganharam algo com o desenrolar da história. Leonard estreitou sua amizade com Todd Hoffman, formou família e hoje trabalha num parque no Alasca, enquanto a Pepsi nunca mais deu uma brecha tão grande em futuras campanhas publicitárias.