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Não se fazem mais filmes políticos como “Leões e Cordeiros”

Tom Cruise e Meryl Streep em cena de "Leões e Cordeiros" (Foto: MGM/Divulgação)

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A estimada jornalista televisiva Janine Roth consegue uma entrevista exclusiva de uma hora com o senador de Illinois, Jasper Irving. O político convocou sua repórter favorita para uma conversa privilegiada, incitando-a a produzir matérias jornalísticas que deem força a sua nova estratégia na guerra ultramarina em curso. Impressionado com as lisonjas do senador, a jornalista egoísta discute estratégia militar e depois é enfrentada por sua própria consciência. Após a conversa, ela é pressionada por seu chefe de redação, que está ansioso pelo furo. Todos eles sabem como é importante conquistar os corações e as mentes dos telespectadores dos EUA por meio de análises de políticas públicas.

Essa notável interação – cena do filme Leões e Cordeiros, de 2007, disponível no catálogo do Prime Video – ofusca todos os filmes políticos americanos da última década. E ele ainda tem uma qualidade mais estranha do que a ficção. Não se fazem mais filmes assim.

Lançado um ano antes da eleição de Barack Obama, o longa foi uma das últimas instâncias em que um cineasta de esquerda de Hollywood, caso do diretor e ator Robert Redford, demonstrou um pé atrás com alguma autoridade política. Foi feito quando a mídia criticava George W. Bush, pouco antes dele se tornar um queridinho dos principais veículos de imprensa, o que ninguém em Hollywood esperava na época. Leões e Cordeiros se opôs ao governo Bush, às guerras no Iraque e no Afeganistão, e às armas de destruição em massa com tanto comprometimento que também foi um dos raros filmes a criticar o jornalismo.

Estrutura inteligente 

Redford e o roteirista Matthew Michael Carnahan criaram uma estrutura tripartida inteligente que se assemelha aos três ramos do governo e da cultura: Mídia (representada pela repórter de Meryl Streep entrevistando o político feito por Tom Cruise); Política (Derek Luke e Michael Pena retratando soldados de combate no Afeganistão); e Opinião (Redford como o professor universitário que enviou aqueles jovens para a guerra, mas agora ensina educação cívica para salvar vidas a Andrew Garfield, seu aluno mais brilhante). A premissa do Afeganistão foi oportuna, representando o posicionamento de Redford, que remete ao pacifismo antiguerra dos anos 60. Hoje, políticos radicais e a mídia corporativa tornaram os emaranhados modernos (Covid-19 e a guerra por procuração contra a Rússia na Ucrânia) temas de filmes inacessíveis e invioláveis.

É por isso que o conluio entre a repórter Janine Roth e o senador Jasper Irving dá a sensação de ser o coração do longa-metragem. É exatamente como a relação praticada entre jornalistas e políticos na rotina cultural de hoje. Como Garret M. Graff, da revista Washingtonian, observou, em 1º de dezembro de 2005: “O jornalismo está tão firmemente entrelaçado com o governo, a política e tudo mais que é quase impossível separá-los. Está tão firmemente entrincheirado quanto qualquer estrutura de poder em Washington.”

As perguntas de Janine para Irving são mais céticas do que as entrevistas combinadas que vemos nas coletivas de imprensa da Casa Branca atualmente, mas Meryl e Cruise colocam rostos expressivos nos robóticos participantes da sala de imprensa que não são mais reconhecivelmente humanos – apenas comerciantes de poder insensíveis.

Meryl interpreta Janine como uma mulher de 58 anos de óculos, cujo corte de cabelo no estilo da comentarista política Mika Brzezinski mostra o desespero de uma trabalhadora da capital americana. “Você sabe que estou produzindo uma linha do tempo sobre a Guerra ao Terror”, ela explica ao senador, personagem abordado por Cruise como um cínico carismático e ansioso. O ator não tem aquela aparência confusa e arrogante de Blinken, Kirby, Milley, Sullivan e outros inexperientes e fracassados diplomatas-guerreiros-tigres de papel. Ele representa o “pensamento militar da nova escola”. Janine é enganada por ele quando diz: "Deixe-me dizer isso o mais alto possível: não estou concorrendo à presidência".

Sátira jornalística necessária 

A pretensão de Redford em Leões e Cordeiros – como se a burocracia noticiosa desconfiasse da burocracia governamental – vem do mesmo cinismo fácil exibido em Três Dias do CondorTodos os Homens do Presidente e O Candidato. Atualmente, essa é uma fantasia apreciada por aqueles que já estão no poder.

Ainda assim, o vaivém entre Janine e Irving, embora talvez datado, dispara o alarme: “Quando você diz 'nuclear', soa. . . amedrontador”. Ou, "Quando você diz 'isca', também soa como algo que vem direto do Pentágono". A maldade deles também é fantasia, mas é o mais próximo que provavelmente chegaremos da sátira jornalística de que precisamos.

Irving contra-ataca: “Vocês tiveram um auge com Abu Ghraib; foi um vale-refeição e tanto. Mas ele também bajula Janine: “De certa forma, estamos no mesmo time. Somos companheiros de equipe. Temos tudo o que precisamos para derrotar o inimigo agora, exceto a vontade pública de fazê-lo. É aí que você entra.”

O planejamento de Redford provavelmente não incluía uma crítica à imprensa. Ele recai sobre o medo obsoleto da era do alistamento, em que “crianças” eram enviadas para a guerra, embora a elite da mídia de hoje não tenha mais medo de que “os pobres” sejam enviados para a guerra. O antiquado sentimentalismo progressista de Redford atinge o clímax com o desgosto de Janine quando ela vê os monumentos de Washington pela janela de seu táxi, deslizando lentamente pelo Memorial do Vietnã, a Casa Branca e o Cemitério de Arlington. Essa sequência quase patriótica transmite o tipo de arrependimento que ainda não ouvimos dos propagandistas por trás da farsa do conluio russo ou dos julgamentos de 6 de janeiro. É uma demonstração improvável de vergonha para uma jornalista que sabe que tem a capacidade de fazer propaganda para o público americano. (A repórter arrependida de Meryl deveria ser seu papel mais icônico, revertendo a hagiografia autoritária em sua caracterização de Katharine Graham uma década depois, no The Post - A Guerra Secreta, dirigido por Spielberg, em 2017.)

Vale a pena revisitar Leões e Cordeiros especialmente após as revelações da conexão do canal Fox com a Dominion, empresa de sistemas de votos, e o esforço fracassado da CNN para conquistar os telespectadores de Trump que acabaram abandonando o canal. Na esteira dessas odiosas maquinações da mídia, só pode haver uma ingenuidade voluntária entre a população. O antagonismo entre leões/cordeiros/mentirosos substitui a velha batalha entre falcões e pombas. O filme também merece crédito por nos lembrar que a auto revelação desapareceu de nossa cultura manipuladora contemporânea, embora seja isso que estrelas de cinema da estatura de Redford, Cruise e Meryl devam fazer.

© 2023 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.

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