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Sucesso noventista

Nos 30 anos do filme, cabe a questão: ainda precisamos de “Forrest Gump”?

Tom Hanks na pele do seu lendário personagem
Tom Hanks na pele do seu lendário personagem, segurando a caixa de chocolates (Foto: Divulgação Netflix)

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O homem magro, sentado de pernas juntas no canto do banco, com uma caixa de chocolates no colo. Ou então o barbudo correndo quilômetros com seu boné vermelho. O tênis branco sujo com o logo vermelho da Nike, o “Bubba Gump”, a frase imortal “Run, Forrest! Run!”... Trinta anos depois da estreia de Forrest Gump – O Contador de Histórias (1994), é inegável que o personagem permanece no nosso imaginário. 

Mas isso não era, certamente, esperado pelos criadores. O livro que inspirou o filme (Forrest Gump, 1986, de Winston Groom) é um pouco confuso. Forrest tem mais consciência da sua própria dificuldade, é menos ingênuo. Ele acaba se tornando um astronauta, que enfrenta até canibais durante a obra. Ainda bem que o roteirista Eric Roth (Munique, 2006; Nasce uma Estrela, 2018; Duna, 2021) leu o livro e gostou do personagem, não da história. 

Com o diretor Robert Zemeckis (De Volta para o Futuro) e a escolha cirúrgica de Tom Hanks, o filme fugiu da obra original, em um dos raros casos em que o livro é inferior e ninguém precisa lê-lo. Basta dizer que o personagem literário é um herdeiro de uma tradição que remete a Dom Quixote, que hoje daria até para classificar como uma espécie de “Forrest Gump da cavalaria”.

Vida plena e realizada

Em entrevista recente, Eric Roth mostrou-se muito cuidadoso ao categorizar Forrest Gump. O livro usa a palavra “idiota” e, no filme, são os personagens mais maldosos que o chamam de “retardado”, expressão atualmente relacionada ao "capacitismo", o preconceito social com pessoas na condição dele. Mas aqui seria condição mesmo, no sentido de ser um efetivo traço do caráter, jamais uma deficiência.

Até porque é essa mesma condição que o faz ter uma vida plena e realizada. A sua inadequação social não o impede de ter amigos, amar uma mulher e até ter um filho, possibilitando que ele expresse os sentimentos de uma forma singular. Mais: sua habilidade de focar em alguma tarefa o leva a se tornar um gênio em todas a que se dedica.

Mesmo em uma época em que o diagnóstico para o autismo, por exemplo, não era tão disseminado como hoje, Forrest Gump – O Contador de Histórias conseguiu ser empático com pessoas que possivelmente estão dentro do espectro. O filme certamente se descuida em algumas coisas, como em definir mais especificamente o caso de Forrest, mas ninguém razoável acusaria a obra de ser preconceituosa.

Time original reunido

Eric Roth revelou na mesma entrevista que o roteiro de uma sequência estava pronto. O filme se chamaria Forrest Gump Forrest Gump, título que, com um humor bem “forrestgumpista”, explica de forma ingênua se tratar de um segundo ato. Mas Roth afirmou que, após o ataque terrorista às Torres Gêmeas, em 2001, Forrest Gump não fazia mais sentido. 

No entanto, está previsto para novembro uma produção que vai reunir Roth, Zemeckis, Hanks e até Robin Wright, atriz que interpreta Jenny, a esposa de Forrest. Here (ainda sem tradução) vai contar a história de uma família americana utilizando apenas um cenário: a sala de estar da casa. Não se espera que tenha alguma relação com o icônico filme, mas alguns traços dos criadores provavelmente estarão presentes.

Diferentemente do que acredita Roth, Forrest Gump ainda cabe nos dias de hoje. Ele tem uma sabedoria que, como mostra o filme, atravessa gerações. O personagem representa uma persistente escolha pela vida e assim ele a atravessa, seja mancando ou correndo. Isso mesmo sem saber articular sua sabedoria, dizendo apenas que foi sua mãe que o ensinou. O que, pensando bem, é mais do que suficiente.

  • Forrest Gump – O Contador de Histórias
  • 1994
  • 142 minutos
  • Indicado para maiores de 14 anos
  • Disponível na Netflix, Paramount+ e para locação via AppleTV, Amazon e Microsoft

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