A emocionante corrida de bigas de “Ben-Hur” entrou para os anais do cinema| Foto: Divulgação Mubi
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Uma curiosidade: assim que a Editoria de Cultura da Gazeta do Povo apresentou a ideia de uma série com os mais importantes filmes bíblicos de todos os tempos, concluiu-se de forma unânime que não poderia faltar na lista Ben-Hur, disponível em streaming pelo HBO Max e locação via AppleTV, Prime Video e Google Play. Um clássico indiscutível na antologia do cinema, trata-se de uma daquelas obras obrigatórias para qualquer cinéfilo e, nesse caso específico, contando uma história com pano de fundo bíblico de proporções épicas. E aqui temos um detalhe interessante: Ben-Hur, entre todos os filmes que decidimos destacar, é o único em que tanto o personagem central quanto a narrativa de ação que se desenrola na tela são ficcionais. Ou seja, nada do que vemos realmente existiu. Ou quase!

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Essa superprodução, dirigida por William Wyler, em 1959, é uma adaptação do romance Ben-Hur: um Conto do Cristo, escrito por Lew Wallace, em 1880. Registros biográficos dão conta de que o propósito de Wallace era o de construir uma obra de ação e aventura temperada com religiosidade e que sua inspiração para a jornada do herói Judah Ben-Hur, inclusive, foi Edmond Dantès, protagonista de O Conde de Monte Cristo, clássico romance francês escrito por Alexandre Dumas. Ocorre que Lew Wallace, um ateu convicto, mais do que discutir religião, pretendia defender a ideia de que Cristo não seria o filho de Deus. No entanto, enquanto pesquisava para escrever sua obra, foi aos poucos mudando seus conceitos e acabou até se convertendo ao cristianismo.

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Como todo bom escritor que se preze, Lew Wallace fez uma bela pesquisa sobre o tema, oferecendo uma série de elementos para nos fazer acreditar ser tudo verdade. Judah Ben-Hur carrega o nome de Hur, aquele que, com Aarão, foi responsável por cuidar dos hebreus enquanto Moisés subiu ao Monte Sinai. A palavra Ben, em hebraico, significa filho. São apenas referências, claro, uma vez que o Judah do filme não é filho do mesmo Hur que esteve com Moisés. Um homem bom e também muito rico, Judah Ben-Hur, apesar de ser judeu, passa sua infância muito próximo de seu melhor amigo, Messala, um garoto romano que mais tarde será governador do império.

Os conflitos entre eles começam a surgir quando ambos estão adultos. Judah é um idealista, que sempre buscou uma relação de paz entre romanos e judeus. Já Messala, que desde pequeno aprendeu o conceito de domínio, agora é o Imperador e ingenuamente propõe ao amigo trair seu povo e, junto com os romanos, dominar Jerusalém. Messala é então tomado pela ira ao ouvir a recusa do amigo, condenando-o a escravidão. Judah é enviado para bem longe, acorrentado a uma centena de outros homens remadores de uma galera romana a caminho da guerra. Judah experimenta essa situação por alguns anos, participa de inúmeros conflitos até que, muito tempo depois, consegue se livrar e decide retornar em busca de vingança.

Orçamento bem aproveitado 

É importante mencionar que essa produção leva a assinatura da MGM, que à época enfrentava dificuldades financeiras. No entanto, era uma década em que a indústria de Hollywood investira muito dinheiro nos épicos, e a MGM precisava desesperadamente enfrentar a enorme concorrência – sobretudo, após o lançamento do grande êxito comercial Os Dez Mandamentos, épico bíblico feito em 1956 com direção de Cecil B. DeMille e estrelado por Charlton Heston. Assim, numa decisão arriscada, a MGM colocou nas mãos do diretor William Wyler a quantia de US$ 15 milhões, uma fortuna para os padrões de então.

Mas Wyler sabia mito bem o que queria e aproveitou cada uma das incríveis sequências de ação e aventura nas páginas escritas por Lew Wallace. São tensas e frenéticas as cenas de guerra com a galeras em alto-mar, impressionam as multidões de extras colocadas em um único plano, assim como são inesquecíveis e espetaculares as famosas corridas de bigas, sendo essas, provavelmente, as mais memoráveis em toda a história do cinema. O resultado disso tudo não poderia ser outro senão o sucesso absoluto nas salas de cinema. Para se ter uma ideia, até o lançamento de A Paixão de Cristo, feito em 2004, Ben-Hur ocupava o posto de a maior bilheteria para um filme religioso em todos os tempos, tendo alcançado a cifra de U$65 milhões arrecadados (atualizado pela inflação, seriam hoje U$718 milhões).

Finalmente, a religiosidade. O autor Lew Wallace criou toda a narrativa de Judah Ben-Hur acontecendo paralelamente à vida de Jesus. O filme mostra inclusive o nascimento de Cristo até chegar à vida adulta, quando ele vai a Jerusalém e acaba sendo condenado à crucificação por Pôncio Pilatos. Judah e Jesus encontram-se algumas vezes durante a obra, mas sem resultados tão impactantes. Nesse sentido, a versão de Ben-Hur feita em 2016 (disponível no streaming pelo Prime Video e locação pela AppleTV) é mais certeira em dispor ao espectador momentos mais intensos da relação de Ben-Hur e Jesus (interpretado pelo brasileiro Rodrigo Santoro), que tanto se regozija dos poderes de Cristo quanto se padece do calvário do filho de Deus.

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