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Pergunte a qualquer pessoa qual seu filme brasileiro predileto. Caso ela não seja uma cinéfila voraz ou despreze completamente o cinema nacional, a chance é grande da resposta ser O Auto da Compadecida, longa baseado em livro de Ariano Suassuna (1927-2014) lançado em 2000. A película foi um sucesso estrondoso, levando mais de 2 milhões de espectadores às salas, segundo dado da Agência Nacional do Cinema, número incomum de uma época em que só Xuxa era capaz de lotar sessões. Por isso mesmo é que as chances de uma continuação sempre estiveram na mesa, mas tudo foi abandonado quando Suassuna faleceu. Ao menos, era o que parecia.
Surpreendentemente, em março deste ano, os atores Selton Mello e Matheus Nachtergaele, responsáveis por interpretar Chicó e João Grilo, anunciaram que O Auto da Compadecida 2 começaria a ser filmado, 23 anos após o original.
A decisão de rodar o novo longa é estranha, afinal Suassuna nunca chegou a escrever uma continuação de sua obra original, que data de 1955. Mas os envolvidos andaram divulgando informações que trazem mais clareza sobre o projeto. Vamos a elas.
Aprovado pela família
Sem o envolvimento do finado escritor paraibano radicado em Recife, o diretor e roteirista Guel Arraes procurou a família dele para conversar sobre a ideia e conseguir o aval. “Analisamos os prós e contras de se ter um texto que não é puramente de Ariano, mas que vai levar o nome dele. A peça é de muito sucesso, então consultamos vários escritores amigos para saber a opinião deles, para traçar um caminho”, afirmou Manuel Dantas Suassuna, filho do dramaturgo, em entrevista recente. “E também teve uma conversa de meu pai com Guel, quando ele estava vivo, para se fazer uma segunda versão. Depois, abandonaram a ideia. Agora, mais de 20 anos depois, ela veio à tona.” Apesar de estar por dentro da conversa entre os dois, o herdeiro afirma não saber o que Chicó e João Grilo enfrentarão no novo filme, que deve adaptar textos de outras peças de Suassuna.
Gravações já iniciadas
Esperando lançar O Auto da Compadecida 2 em 2024, a equipe iniciou as gravações no último mês de agosto. Arraes revelou que o roteiro não vai ignorar a passagem do tempo entre uma produção e outra. “Não se passaram 25 anos somente na vida real, mas na própria narrativa fictícia. Mesmo que seja um filme de época, temos de falar de assuntos de hoje, assim como Ariano foi extremamente atual em 1955 ao escrever sobre a religião e a sobrevivência dos mais pobres”, afirmou o diretor. Vale lembrar que o filme original debate os valores morais do homem e o fato dele ser passível de erro, algo a ser perdoado apenas por Nossa Senhora, a “Compadecida” na obra de Suassuna. Agora é torcer para o espírito da coisa não ser deturpado na continuação.
Elenco com novidades
Além de Mello e Nachtergaele, outros nomes estarão de volta para reprisar seus papéis originais. Dentre eles, podem ser citados Virginia Cavendish e Enrique Diaz, responsáveis por Rosinha e Joaquim Brejeiro. Mas há também a inclusão de novos rostos no elenco. Taís Araújo vai substituir Fernanda Montenegro (que estaria sem agenda para participar) interpretando Nossa Senhora. Já os atores Eduardo Sterblitch e Humberto Martins foram escalados para dar vida a novos personagens da trama.
Sem Juliette (a mala, não os óculos)
A cantora (e ex-BBB) Juliette tentou aproveitar seus minutos de fama para conseguir uma ponta no filme. Pediu para Selton Mello, mas foi ignorada – ao menos, até agora. “Não deixaram. Mandei mensagem para Selton: ‘tem como eu aparecer, nem que seja vendendo um picolé, dando um tchau, qualquer coisa?’”, disse Juliette, em entrevista a um podcast. “Meu sonho era aparecer, sendo eu mesma, perdida no Auto da Compadecida.” A produção, se for esperta, usará Juliette e esse seu “oferecimento” num teaser bem-humorado para promover o filme no ano que vem.