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Mario e Luigi, em imagem de divulgação de “Super Mario Bros. O Filme”
Mario e Luigi, em imagem de divulgação de “Super Mario Bros. O Filme”| Foto: Universal Pictures/Divulgação

Minha casa não era repleta de videogames, mas a Nintendo ainda assim foi um grande marco na minha infância, nos anos 80. Quando tinha seis anos, ia até a casa vizinha e sentava no carpete felpudo de um albergue multifamiliar para jogar Super Mario Bros. e Duck Hunt com um futuro delinquente juvenil chamado Tony, que me impressionava com seus palavrões e me convenceu que todos os jogos eram chamados “Mintendo”.

Depois, já na condição de estudante da quarta série, tiravam sarro de mim por eu não possuir um sistema Nintendo. A impiedade pré-adolescente foi tão forte que fez meus pais cederem e me comprarem um Game Boy. Foi um raro ato de apaziguamento cultural da parte deles; na verdade, dá para dizer que a Nintendo foi o único deus pagão a quem eles acenderam um incenso. Infelizmente, a decisão deles foi tarde demais para impactar minha posição social, os meninos da quarta série já tinham passado a ter um fascínio pela federação de luta livre (World Wrestling Federation). O Game Boy veio com dois cartuchos: Tetris e Super Mario Land. O último ainda é o único jogo que já zerei.

Toda essa história serve para dizer que, mesmo que eu não seja exatamente o público-alvo de Super Mario Bros. O Filme, a animação que está impactando as bilheterias da mesma forma que Top Gun: Maverick, não estou imune aos efeitos nostálgicos que ele está tendo em minha memória. Mas então, olhando sob outra perspectiva, sou seu exato público-alvo, afinal sou pai de crianças pequenas, e parte do sucesso do filme reflete o simples desespero de uma família por entretenimento, principalmente com a escassez de espetáculos para menores no cenário cinematográfico pós-Covid. Esse desespero dos pais ajudou a tornar a sequência do Gato de Botas um grande sucesso; agora está tornando Super Mario Bros. O Filme maior do que John Wick 4: Baba Yaga, maior do que qualquer filme recente de super-herói, talvez até maior do que a sequência de Avatar.

Caso você tenha assistido ao filme do Mario sem qualquer contexto cultural, a escala de seu sucesso seria algo totalmente inexplicável. E, honestamente, mesmo tendo esse contexto é algo um pouco surpreendente, mesmo considerando o alívio dos pais e a nostalgia do final da geração X e os nascidos no início do milênio, que estão impulsionando seu sucesso.

Fiel ao original 

O melhor que pode ser dito sobre Super Mario Bros. O Filme é que ele sabe exatamente o que deseja ser: um filme para crianças de sete anos que é fiel ao material original dos videogames, usando clássicos elementos como saltos, agachamentos, descida por canos e visuais de superpoderes com maestria, e sem tentar apelar para adultos usando referências pop aleatórias ou piadas sofisticadas. O roteiro todo pode ser resumido na seguinte frase: Mario e Luigi (dublados por Chris Pratt e Charlie Day, respectivamente), dois encanadores trapalhões do Brooklyn (Nova York), são sugados para uma dimensão paralela em que precisam salvar a Princesa Peach (Anya Taylor-Joy) e seu Reino dos Cogumelos das hordas de Bowser (Jack Black), simplesmente pulando por aí e encontrando caixas mágicas que dão poderes e mais força a eles.

É isso, essa é a história (com, ok, um pequeno desvio para o reino dos macacos controlado por Kong e seu filho Donkey Kong). Não há tentativa de uma “recauchutagem desconfortável”, do tipo que houve no estranho live-action de Mario com Bob Hoskins e John Leguizamo há 30 anos. Também não há nenhum tipo de sabedoria adulta que permeia o pior tipo de entretenimento infantil. Tampouco existe a tal da narrativa terapêutica, sem vilões ou romances, que define muitas das produções da Disney da era atual. As coisas são mais simples na terra de Mario: há um herói, uma princesa, um bandido para derrotar, um mundo para salvar, e você estará fora do cinema em 90 minutos.

Essa simplicidade explica o motivo de alguns conservadores estarem declarando online que essa é uma grande vitória na guerra cultural, afinal Mario conseguiu agitar as bilheterias sem ser “woke”. Eles não estão exatamente errados; a princesa Peach tem alguns momentos de chefona, mas no geral essa é uma narrativa muito mais convencional do que os fracassos recentes de filmes infantis como Lightyear ou Mundo Estranho.

Triunfo com ressalvas 

O filme do Mario é menos uma prova de conceito para uma nova era de histórias infantis com temas clássicos do que uma espécie de história de sucesso de menor denominador comum. Seu roteiro é básico e tradicional e não representa uma escolha criativa consciente. Ele foi salvo das fraquezas da narrativa infantil contemporânea porque, segundo as evidências, ninguém colocou nenhuma “energia criativa” em sua história.

Se há algum tipo de lição cultural com a animação, é que os arquétipos pré-acordados podem triunfar nas bilheterias quando estão incorporados em produções inofensivas lançadas no nível da primeira série do fundamental e desprovidas de todas as tentativas reais de inteligência, surpresa ou criatividade. Se isso é o que passa por um triunfo do conservadorismo cultural hoje em dia, que assim seja – mas não tenho certeza de quantas vitórias assim eu ainda aguento.

© 2023 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.

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