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“Paris, Texas”: a busca por reconciliação familiar que emociona há 40 anos
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Um dos filmes mais cultuados do cinema está fazendo 40 anos: Paris, Texas, de Wim Wenders. O road movie sobre um homem misterioso e calado, Travis (Harry Dean Stanton), que é encontrado andando sozinho pelos desertos do Texas (EUA) e acaba resgatado pelo irmão, Walt (Dean Stockwell), e parte numa jornada com o filho pequeno, Hunter (Hunter Carson) em busca da esposa, Jane (Nastassja Kinski), vem encantando cinéfilos desde o lançamento, em 1984.

Paris, Texas é um filme peculiar: dirigido por um alemão, é uma grande carta de amor aos cenários desérticos dos Estados Unidos, usando as paisagens áridas como metáfora para a solidão e tristeza dos personagens. Wenders sempre gostou de filmes passados em longas jornadas, tendo dirigido, na Europa, uma trilogia de road movies: Alice nas Cidades (1974), Movimento em Falso (1975) e No Decurso do Tempo (1976).

Da notável geração de cineastas surgida na chamada “Nova Onda do Cinema Alemão”, na virada dos anos 60 para os 70, que revelou nomes como Rainer Werner Fassbinder, Werner Herzog, Volker Schlöndorff e Margarethe Von Trotta, Wenders sempre foi o mais americanófilo. Cultuava cineastas como Nicholas Ray (fez até um documentário sobre ele) e a música americana (algo presente até mesmo em seu trabalho mais recente, Dias Perfeitos).

Paris, Texas surgiu de conversas de Wenders com o grande dramaturgo, autor e ator norte-americano Sam Shepard. Os dois bolaram uma história sobre dois irmãos que eram separados por uma tragédia familiar. Com a chegada do roteirista L.M. Kit Carson, a história foi centrada na figura de Travis e sua busca por reconciliação com a família, depois de ter abandonado o filho pequeno, Hunter, aos cuidados do irmão, Walt.

Blues, U2 e Nirvana

A produção do filme é espartana: filmado em cenários reais e fotografado com um estilo documental por Robby Müller, parceiro habitual de Wenders, Paris, Texas parece os filmes da chamada Nova Hollywood do fim dos anos 60, como Sem Destino. O elenco, minúsculo, foi incentivado a improvisar falas para criar um clima mais naturalista, e a música folk de Ry Cooder, um blues assumidamente inspirado na obra do bluesmen Blind Willie Johnson, confere ao filme um ar ainda mais realista.

Foi o primeiro filme protagonizado por Harry Dean Stanton, que já havia trabalhado em cerca de 100 produções, mas sempre como coadjuvante. Outro personagem importante do filme, Walt, foi vivido por Dean Stockwell, que à época estava tão esquecido em Hollywood que planejava largar a carreira de ator para virar corretor de imóveis. Paris, Texas ressuscitou as carreiras dos dois atores.

Os papéis femininos ficaram com duas excelentes atrizes europeias: a francesa Aurore Clément faz Anne, esposa de Walt, e a alemã Nastassja Kinski (filha de Klaus Kinski, ator habitual dos filmes de Werner Herzog) faz Jane, a esposa de Travis. O menino Hunter foi interpretado por Hunter Carson, filho do roteirista L. M. Kit Carson.

Paris, Texas foi um filme baratíssimo, custou menos de 2 milhões de dólares, mas ganhou quase todos os prêmios que disputou em 1984, incluindo três troféus no Festival de Cannes.  Ao longo dos últimos 40 anos, serviu de inspiração para bandas de rock (o U2 fez o disco The Joshua Tree inspirado no filme) e tornou-se o filme favorito de músicos como Kurt Cobain, do Nirvana.

Paris, Texas pode ser visto no Globoplay.

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