“Em primeiro lugar, a violência extrema que é difícil de entender. Depois a gente não quer acreditar que este comportamento seja humano, mas é”. Esta é a teoria da criminóloga Ilana Casoy sobre o fascínio que os serial killers provocam.
A pesquisadora que acaba de lançar numa caixa os livros Arquivos S erial Killers: Louco ou Cruel? e Made in Brazil. Neles, disseca à luz da criminologia, do direito, da psiquiatria e psicologia o universo dos assassinatos em série: crimes cometidos mais de duas vezes por uma mesma pessoa, com o mesmo ritual semelhante e que estejam presentes as mesmas necessidades psicológicas do autor.
“É importante entender que serial killer é a definição de um comportamento criminoso e não um diagnóstico psicológico”, diz Ilana.
Sua pesquisa é feita a partir de provas de investigações policiais, autos dos processos criminais e laudos médicos, entrevistas e farta documentação com os quais tenta mostrar o que diferencia essa modalidade criminosa, quem são as vítimas, os mitos e crenças comuns a respeito do tema e também traça um perfil psicológico e pessoal dos criminosos.
No primeiro livro ela apresenta em detalhes 16 casos de serial killers que apavoraram os Estados Unidos no século 20.
No segundo volume, ela se ocupa dos casos brasileiros. Para escrever esta parte da história, a autora entrevistou pessoalmente Francisco Costa Rocha, o Chico Picadinho, Pedro Rodrigues Filho, o Pedrinho Matador e Marcelo Costa de Andrade, o vampiro de Niterói, em um depoimento chocante.
Os dois livros juntos são um soco no estômago. A sensação de incômodo cresce quando o leitor percebe, ao ler os perfis, que o criminoso é o cara do apartamento ao lado.
Pior é perceber que no Brasil nem a legislação nem as investigações policiais estão aparelhadas para tratar de casos como esses.
“O maior problema no Brasil, apesar de termos progredido bastante, é que não há uma legislação específica para esses casos e as investigações esbarram na falta de recursos”, diz.
Uma das preocupações recorrentes no texto da autora é evitar a glamourização e as explicações simplistas sobre a origem dos crimes.
Por exemplo, ao traçar o perfil dos serial killers, ela percebeu que a grande maioria experimentou o que ela chama de “infância em vermelho”, ou seja, foram vítimas de abusos e de violência na infância. Isso, porém, não serve para justificar as condutas.
Para ela, o que faz com que algumas pessoas delinquam e outras não é a “resiliência” das personalidades.
“Assim como a mola estica ou distorce dependendo do material, com os seres humanos se dá a mesma coisa. Passando pelas mesmas circunstâncias, alguns são feitos de um material ‘psicobiossocial’ mais ou menos resiliente”, afirma.
“Uns passam por traumas e voltam, outros não. Mas uma infância em vermelho não ajuda”, diz.
Ilana confessa que um objeto de pesquisa tão macabro gera efeitos sobre a sua personalidade.
“Os mortos andam bem aqui na minha sala. Às vezes eu tomo um uísque no fim do dia para sair do buraco. A experiência faz com que a gente lide melhor com isso. Mas eu tenho habilidade para estudar esse tema e preciso ajudar. Se uma vida for salva, já terá valido a pena”.
Livros
Ilana Casoy. Dark Side, 360 pp. (cada um), R$ 39,90 (a caixa, no site do Submarino)
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