Durante 20 anos, a grande preocupação de um jovem americano era a de se alistar para o exército e acabar despachado para a Guerra do Vietnã. Não à toa, esse momento da civilização, iniciado em 1955 e concluído em 1975, foi o combustível para grandes obras no cinema. Apocalypse Now, do genial Francis Ford Coppola, costuma ser a primeira e óbvia referência. Mas, conforme o próprio diretor já afirmou, o longa de 1979 “não é um filme antiguerra", o que gera críticas bem fundamentadas à película até hoje. Não é o caso de outro clássico: Platoon, lançado em 1986, pelo cineasta Oliver Stone.
A história, que chegou recentemente ao streaming da Brasil Paralelo e também integra o catálogo do Prime Video, acompanha Chris Taylor, um jovem idealista que se voluntaria ao exército em 1967 e passa a fazer parte de um pelotão no sul do Vietnã. A visão dele é baseada nas próprias experiências de Stone na guerra, que começou a trabalhar no roteiro em 1968, logo após voltar da guerra e entender seus horrores.
Ao conhecer a 25ª Divisão de Infantaria, a mesma em que o cineasta participou na vida real, Taylor (interpretado por Charlie Sheen) percebe que o grupo é chefiado por um tenente inexperiente, fazendo com que eles respondam melhor aos mais velhos no local, os sargentos Barnes e Elias.
Com essa relação estabelecida, Platoon joga na cara do espectador um dos grandes problemas da guerra: muitos dos soldados são apenas garotos que querem se tornar homens ao ajudar seu país. Contudo, a falta de experiência e as emoções à flor da pele, características da idade, tornam a experiência ainda mais intensa.
Sem bússola moral
Outro aspecto importante de Platoon é o retrato feito de crimes que acontecem dentro da guerra, mas que não estão ligados ao objetivo daquela incursão em um país estrangeiro. Assassinatos, estupros e outras transgressões viram parte da rotina e mostram como, em uma situação como essa, um homem é capaz de perder sua bússola moral – ainda mais sem a devida mentoria que uma situação desse tipo requer.
Se esses artifícios do roteiro de Stone já não fossem suficientes para formar uma mensagem antiguerra, o diretor ainda se esforça e consegue construir tragédia até em cima de um ato de heroísmo. A cena mais icônica do filme é baseada justamente nessa ideia. Com o épico Adagio para Corda, Op.11, do compositor Samuel Barber, como trilha sonora, levamos um soco no estômago quando o admirado sargento Elias, interpretado por Willem Dafoe, é esquecido na batalha por seus companheiros de pelotão e é brutalmente morto por diversos disparos. A sequência dele jogando seus braços para cima no formato de um Y, suplicando por socorro, não poderia tornar mais nítido o posicionamento de Oliver Stone.
É esse fator que faz Platoon ser um longa-metragem atemporal e tão amado sobre a temática. Longe de suplantar Apocalypse Now no nível artístico (afinal, o conto cinematográfico de Stone não tem nenhuma atuação tão monumental quanto a de Marlon Brando como o Coronel Walter E. Kurtz), o filme dos anos 80 é um complemento perfeito para quem busca uma história mais realista e construída pela ótica de um sobrevivente do pior que há na existência humana.
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