A estreia de A Morte do Demônio: A Ascensão nos cinemas brasileiros na semana passada levou um público bastante heterogêneo para as salas. Entre desavisados apenas querendo levar alguns sustos e uma turma mais jovem que nem era nascida quando o filme que deu origem à série foi lançado (1981), destacavam-se os fãs ardorosos de The Evil Dead, o nome original, que consomem tudo relacionado a essa marca. No Brasil, o primeiro filme chegou às locadoras de VHS como Uma Noite Alucinante: A Morte do Demônio, mas o título em inglês foi o que marcou.
A Morte do Demônio: A Ascensão já é o quinto filme da franquia e mantém parte da essência que deu fama a Evil Dead. No filme inaugural, bancado por dois amigos de infância, o diretor Sam Raimi e o ator principal Bruce Campbell, cinco jovens vão curtir um fim de semana numa cabana na floresta e encontram um livro maldito, que ao ser folheado desperta espíritos malignos que incorporam em quem estiver por perto. Na nova obra, o que muda é que a ação se passa na cidade, na casa de uma família de classe média, que dá o azar de encontrar o tal livro nos escombros produzidos por um terremoto. O resultado é satisfatório, mas muito aquém do impacto que Evil Dead causou na década de 80.
Raimi e Campbell eram dois novatos, empolgados para rodar o longa de terror mais sanguinolento e agressivo que conseguissem. Deram sorte porque Stephen King, o mestre da literatura de horror e suspense, assistiu ao filme num festival e escreveu um texto se derretendo pela novidade. Seu aval foi decisivo para ajudar na distribuição da obra e pavimentou o caminho para que os amigos de infância retornassem seis anos depois com Evil Dead 2: Dead by Dawn (Uma Noite Alucinante 2 no Brasil), que surpreendeu por injetar elementos de humor na trama.
Após o terceiro filme da série, lançado em 1992, Sam Raimi passou a ser um diretor cortejado para grandes produções. Sharon Stone, então no auge do sucesso, avisou que só pegaria o papel principal de Rápida e Mortal (1995) se a direção ficasse a cargo de Raimi. Em 1998, ele filmou o formidável Um Plano Simples, que ganhou muitos prêmios e duas indicações para o Oscar. E, na década seguinte, ficou encarregado da trilogia do Homem-Aranha, que foi um arraso nas bilheterias do mundo todo.
Enquanto Raimi trilhava seu caminho trabalhando em outros filmes, Evil Dead ia se tornando cada vez mais cult. Virou jogo de Playstation, musical off-Broadway, todo tipo de boneco colecionável (o mais popular sendo o de Ash, personagem de Bruce Campbell, com uma serra elétrica no lugar de um dos braços), uma série de tv (Ash vs Evil Dead)... Até que os dois amigos resolveram retomar o projeto para um quarto capítulo em 2013, mas apenas na condição de produtores, algo que se repete em A Morte do Demônio: A Ascensão.
Para quem nunca viu o original, vale mencionar que as cenas seguem impressionantes 42 anos depois, especialmente a que uma das personagens é violentada pelos galhos de uma árvore. Raimi inovou com um movimento de câmera que emulava os espíritos do mal perseguindo suas vítimas. E contou com a contribuição na mesa de edição de um outro novato que depois viraria uma lenda do cinema alternativo americano: Joel Coen, um dos irmãos Coen, não só editou as partes que se passam no galpão da cabana, como se inspirou em métodos usados por Raimi para decolar em sua própria carreira de cineasta.