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Por que os estúdios de cinema gostam tanto de remakes?

Cena de ‘Ben-Hur’: nova versão foi um fiasco nos cinemas | /Divulgação
Cena de ‘Ben-Hur’: nova versão foi um fiasco nos cinemas (Foto: /Divulgação)

Após 11 premiações no Oscar, o épico “Ben-Hur”, de 1959, parecia uma aposta certa para um remake. Mas o público americano não o recebeu de forma lá muito calorosa.

O remake, estrelando Jack Huston, Rodrigo Santoro e Morgan Freeman, rendeu US$ 11,4 milhões em bilheteira doméstica em seu fim de semana de estreia, ou US$ 4 milhões a menos do que custou para produzir o original há mais de 57 anos.

É mais um caso dos incontáveis remakes que foram um fiasco na bilheteria, mas, segundo os analistas da indústria do cinema, os estúdios continuarão tentando empurrá-los nos cinemas.

Outros remakes do verão (inverno no Hemisfério Sul), que incluem “Independence Day: O Ressurgimento”, “Caça-Fantasmas” e “A Lenda de Tarzan”, ainda não conseguiram recuperar o que foi investido neles apenas com as vendas de ingressos, mas a bilheteria estrangeira deverá dar uma força, pelo menos o suficiente para evitar que os produtores abandonem a produção de remakes futuros.

“Estamos jogando um jogo de bilheteria global, e a América do Norte sozinha não tem a palavra final sobre todo o panorama global de bilheteria”, disse Daniel Loria, diretor editorial da Boxoffice Media. “Muitas vezes, quando um filme fracassa na América do Norte, o que decide se ele vai ter ou não uma sequência é como ele se sai no estrangeiro”.

Novos mercados

O mercado norte-americano rende apenas um terço da arrecadação global de bilheteria, segundo as estimativas da indústria. Ainda assim é o maior mercado do mundo, mas de modo algum é o árbitro definitivo do sucesso de bilheteria.

“Independence Day: O Ressurgimento”, por exemplo, fez US$ 383 milhões de bilheteria mundial. Mais de US$ 280 milhões desses ingressos vendidos partiram de mercados estrangeiros, dos quais US$ 75 milhões vieram da China e outros US$ 6 milhões da Rússia.

A versão de 1996 do filme não chegou às telonas desses dois países.

Menos de 20% da arrecadação de “Caça-Fantasmas” veio de espectadores estrangeiros em 1984. Mais de 40% da bilheteria da versão de 2016 é de origem estrangeira, e US$ 6 milhões desses ingressos vendidos veio da Rússia. Nenhuma das versões do filme passou na China.

Remakes que poderiam parecer sem graça na América do Norte são novidade para públicos de países que não puderam ver o original.

Linha tênue

Domesticamente, um remake é uma entidade bem conhecida. Eles têm vantagens de marketing naturais, e, o que é melhor, são relativamente baratos, segundo os analistas. Você não precisa pagar uma equipe de roteiristas para começarem do zero se você for fazer outra versão do “Homem-Aranha”.

“Tem um ponto de referência. Tem um conceito já embutido”, disse Paul Dergarabedian, analista de mídia sênior na firma de pesquisa de mercado comScore. “O filme é rápido para você descrever, e esse é o apelo do remake. É por isso que tantas sequências são liberadas para produção também. Pelo menos no papel, você meio que já tem essa vantagem, em teoria”.

Mas isso não quer dizer que os remakes sempre funcionem. Os estúdios escolhem fazer remakes com base na popularidade dos filmes originais. E se, para os fãs dedicados, uma nova versão acabar parecendo inautêntica? Há muito espaço para errar a mão na hora de lidar com filmes que as pessoas consideram icônicos.

Os estúdios caminham numa linha tênue, segundo analistas, entre atrair os espectadores com algo que eles nunca viram e estragar a nostalgia que mantém vivas ainda certas franquias de filmes.

O exemplo perfeito

“Jurassic World: o Mundo dos Dinossauros” (apesar que os cinéfilos costumam partir para o braço com discussões sobre se o filme é um remake de verdade ou não).

Lançado em 2015, este thriller rendeu US$ 1,67 bilhões em ingressos vendidos e trouxe toda uma apreciação nova por brinquedos, camisetas e bonequinhos do Chris Pratt. Ele se saiu tão bem que a Universal Pictures lançou “Jurassic World: o Reino ameaçado” em 2018. E, se esse filme se sair bem também, dizem os analistas, é possível que haja um terceiro.

Veja por esse ângulo: Um segundo e terceiro filmes baseados num remake de um filme que já tem mais de 20 anos existem com base no sucesso de uma marca preexistente. Eles se saem bem na bilheteria por causa dessa marca, o que irá pegar o lugar de outros filmes que poderiam ser feitos também por causa dela.

Os estúdios olham para essa fórmula e logo se convencem de que remakes são um bom negócio, diz Bruce Nash, fundador e editor do The Numbers, um site de compilação de dados de bilheteria e análise da indústria cinematográfica. É como produzir três filmes pelo preço de um, se você levar em consideração toda a propaganda que o primeiro filme faz para o resto da série.

E, quando um remake fracassa – o que é bem comum; basta dar uma olhada no “Ben-Hur” agora ou no “Conan, o Bárbaro” de 2011 –, eles são jogados de lado, e os estúdios desmancham o restante da série e pegam outro roteiro.

Quando um estúdio faz um remakes ou recomeça uma série de filmes, isso faz com que, para os analistas, os filmes que vêm depois (o segundo, o terceiro, o quarto...) se tornem uma aposta mais segura, mas ainda assim é preciso fazer um bom filme, ou corre-se o risco de o público não aparecer.

E, é claro, os espectadores reclamarão se forem ver os trailers e não tiver nada de novo saindo de Hollywood, mas também gastarão dinheiro em ingressos para o próximo filme da série “Star Wars”.

São centenas de milhares de dólares entrando fácil para os estúdios. E esse é um negócio que eles topam tranquilamente, segundo os analistas, apesar do sentimento estranho de déjà vu.

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