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Foi revelado no começo de março que a Warner Bros./New Line fechou um acordo com a produtora sueca de games Embracer Group, que é a detentora dos direitos de adaptação dos livros de O Senhor dos Anéis e O Hobbit, para a produção de novos filmes ambientados nesse universo. Até o momento, muito pouco foi revelado sobre os longas. Mas ambas as partes já revelaram certos detalhes e enfatizaram os desafios que terão pela frente com essas novas adaptações do trabalho de J. R. R. Tolkien, independentemente do formato escolhido.
De acordo com o The Hollywood Reporter, o acordo limita as adaptações à Terceira Era da Terra-Média, período em que se passam os acontecimentos de O Senhor dos Anéis e O Hobbit. Isso dá para a Warner Bros. os direitos para os personagens e histórias mais famosas, enquanto corta muito do material que nunca foi adaptado para as telonas – a rica trama de O Silmarillion, por exemplo, parece estar fora da negociação. A publicação define isso como um voo por um universo familiar; já Ross Douthat, colunista do New York Times, enxerga isso como um atestado de “decadência”, indicando a inabilidade de uma sociedade em criar qualquer coisa nova e insistir no retorno ao antigo. Talvez seja isso mesmo. Mas remakes e readaptações são tão antigos quanto o próprio cinema. A única diferença é que agora a produção de filmes é tão cara e arriscada que poucos estão dispostos a apostar em quaisquer projetos que não sejam tiros certeiros e sucessos de bilheteria. O desafio que a Warner enfrentará, considerando que ela vai adaptar material já familiar, é fazer com que as novas adaptações façam valer o tempo do espectador (ou seja, evitando seguir o mesmo rumo já tomado) e sem alienar a base de fãs reconhecidamente exigente ou afastar espectadores comuns.
Algumas pessoas que podem ser úteis em ajudar a traçar um bom caminho são: Peter Jackson, Fran Walsh e Philippa Boyens, que comandaram e escreveram a criticamente e comercialmente bem-sucedida trilogia de filmes de Senhor dos Anéis lançada há duas décadas. O envolvimento deles não está garantido até o momento, mas aparentemente estão sendo cortejados pelo estúdio de filmes. Outro desafio aqui, contudo, além de simplesmente fazer com que eles aceitem participar do projeto, é garantir que não cometam os mesmos erros que levaram à desastrosa trilogia Hobbit há uma década.
Projetos concorrentes
O envolvimento dos três ajudaria a distinguir o novo Senhor dos Anéis feito pela Warner da série que a Amazon está produzindo, Os Anéis do Poder. Jackson e companhia chegaram a ser abordados para este projeto, mas nunca se envolveram. Os Anéis do Poder também difere das novas adaptações, pois mostra acontecimentos da Segunda Era, em que os eventos e alguns personagens se desenvolvem e são citados na famosa Terceira Era. Desta forma, já existe algum tipo de desconforto com a existência desses dois projetos ao mesmo tempo.
O último desafio, já destacado pelas poucas informações divulgadas sobre o projeto, é superar a sensação avassaladora de recauchutagem e de superfluidade. Uma parte de mim – talvez encontrada perto da mesma parte que achou a primeira temporada de Os Anéis do Poder mediana – já está cheia de receio, em vez de ânimo, com o prospecto de mais Senhor dos Anéis. O histórico da Hollywood moderna com amadas propriedades intelectuais não tem sido muito inspiradora ultimamente. Tem acontecido uma tendência de desconstruir ou modernizar as obras de uma forma que acaba por arruiná-las. Mas “aquele que quebra algo para descobrir o que é, deixou o caminho da sabedoria”, como diria o próprio Tolkien. E o aparente desejo da Warner de “transformar Senhor dos Anéis em uma franquia como o Star Wars” me deixa com vontade de mandar todo o estúdio de volta às trevas. Há muito material, mesmo situado na Terceira Era, que pode ser interessante para a adaptação em alguma forma, sem dúvidas. Mas, provavelmente, acabaremos ganhando algo como as aventuras do jovem Aragorn ou coisa do tipo.
A esperança de um tolo
As coisas que realmente são interessantes, e ainda não foram adaptadas para o cinema, estão em obras como O Silmarillion – sim, nem mesmo Os Anéis do Poder tem liberdade para usar esse trabalho, por razões complicadas. Dê-me uma adaptação de quatro horas do Ainulindalë (o relato da criação do mundo de Tolkien). Dê ao criador de Samurai Jack, Genndy Tartakovsky, liberdade artística para fazer uma série animada retratando as primeiras guerras dos elfos com Melkor (e entre si). Caramba, me dê um relato brutal do colapso de Arnor, o grande reino dos homens do norte que o Rei Bruxo e suas forças dividiram e depois derrotaram. isso não acontece em O Silmarillion, admito, mas na Terceira Era...
Posso dizer, de maneira resumida, que me sinto em conflito. Há bom material para adaptação, e eu não sou totalmente oposto à ideia de revisitar a Terra-Média de alguma maneira. Mas me falta fé nos possíveis adaptadores; em suas vontades de fazer algo (relativamente) novo; e em suas habilidades de cuidar bem do novo material, se tentarem seguir esse caminho. Não há muito o que esperar, creio eu. Mas nunca houve qualquer tipo de esperança. Apenas aquela de um tolo, como já dizia o mago Gandalf.
© 2023 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.