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Há algum tempo, comediantes têm precisado tomar cuidado com suas piadas. O ator americano Shane Gillis sabe bem disso. Em 2019, quando estava prestes a assumir um posto no badalado programa de comédia Saturday Night Live, acabou cancelado após internautas publicarem vídeos dele fazendo piadas que foram consideradas ofensivas na época. Não deu outra: foi afastado da TV antes de poder estourar. Acontece que agora, cinco ano depois, Gillis deu a volta por cima e emplacou O Rei dos Pneus, novo seriado da Netflix que diverte sem ligar para frescuras.
Desde o primeiro episódio, o politicamente correto passa longe. O espectador acompanha uma oficina automotiva que está passando por problemas financeiros e busca maneiras para atrair mais clientes e levantar dinheiro. Inicialmente, o gerente Will, um homem que não sabe se impor, tem a ideia de realizar uma ação para atrair o público feminino e fazer com que isso seja noticiado em um jornal.
E aqui começam as risadas. O personagem de Gillis, que também se chama Shane, enxerga aquela como uma oportunidade para “dar em cima” de mulheres, deixando o chefe desesperado para conter os impulsos do “sem noção”.
Nos episódios seguintes, outras situações desconfortáveis e engraçadíssimas vão se desdobrando, geralmente baseadas na inconveniência e despreparo dos cinco funcionários que tocam a rotina da oficina.
Mesmo que sejam “canceláveis”, as tiradas nunca passam do limite ou se tornam ofensivas, mostrando que Gillis e os outros criadores da série, Steve Gerben e John McKeever, souberam pesar a mão na hora da escrita.
Comédia sincera
Para quem está familiarizado com o universo das sitcoms (comédias situacionais), a referência mais próxima é The Office. O novo seriado da Netflix não tem entrevistas com os mecânicos, mas possui um estilo de filmagem documental e simplista, privilegiando a reação dos personagens aos absurdos.
O Rei dos Pneus também não tem aquela famosa risada falsa de auditório, permitindo que o espectador se empolgue naturalmente com as presepadas de Will e Shane.
Parte desse estilo mais cru de filmagem vem do fato de Gillis ter financiado o projeto do próprio bolso. Inicialmente, o comediante criou o programa com baixo custo e sem pretensão, esperando lançá-lo em alguma plataforma ou no mínimo atraindo pessoas para seus shows de stand-up, conforme confidenciou ao podcast Pardon My Take.
No final das contas, o projeto cresceu mais que o esperado. A Netflix comprou os direitos de exibição do produto e já renovou o seriado para uma segunda temporada, ainda sem data de estreia.
O sucesso da série mostra que o momento é de alta para a carreira de Shane Gillis. Assim que estreou no streaming, ele foi chamado para apresentar um set de piadas no Saturday Night Live, revelando que seu cancelamento virou coisa do passado. “A maioria de vocês provavelmente não tem ideia de quem eu sou. Fui demitido deste programa há um tempo, mas se você não sabe quem eu sou, por favor, não pesquise no Google”, brincou.