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Setentão nostálgico

Último romance de Paul Auster, “Baumgartner” reflete sobre finitude da vida

Capa de "Baumgartner", último livro de Paul Auster
Detalhe da capa de "Baumgartner", livro de Paul Auster publicado pela Companhia das Letras (Foto: Elliott Erwitt/Companhia das Letras/Divulgação)

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Após ser diagnosticado com um câncer de pulmão, o imparável e premiado Paul Auster (1947-2024) se recolheu dos holofotes e viveu uma vida pacata. Pouco antes de falecer, em abril deste ano, o autor de A Trilogia de Nova York e outras obras celebradas publicou seu último livro, uma história íntima contada na perspectiva de um senhor de 77 anos prestes a se aposentar.

O protagonista, Baumgartner, é um professor emérito de filosofia na Universidade de Princeton que decidiu escrever um ensaio sobre a síndrome do membro fantasma, condição em que a pessoa amputada segue sentindo dores, coceiras e espasmos, como se o membro retirado ainda estivesse preso ao corpo. O tema é bastante simbólico, principalmente se levarmos em conta que Baumgartner é um alter egodo autor americano. 

O personagem que nomeia o livro (lançado no Brasil pela Companhia das Letras) revisita papéis de seu passado, evoca memórias de família e, acima de tudo, de seu grande amor, Anna. Já se passaram quase dez anos desde sua morte e ele não consegue esquecê-la. Eles não puderam ter filhos, então, após a morte dela, Baumgartner ficou sozinho. Por esse motivo, ele decide construir um futuro afetivo e inicia um novo relacionamento amoroso com Judith, muito mais jovem do que ele. Mas nada é igual.

O romancista americano Paul Auster, em evento em Madri em 2017O romancista americano Paul Auster, em evento em Madri, em 2017 (Foto: EFE/J.P.Gandul)

Auster apresenta a reflexão de um setentão que anseia pelo que perdeu, ao mesmo tempo que enfrenta as limitações da idade: esquecimentos, fracassos, doenças. Tudo é contado com nostalgia, mas sem amargura, por meio de uma narrativa profunda, emotiva e rica, como se o autor tivesse utilizado toda a sua artilharia literária.  

Ele escreve como se pintasse emoções, valorizando o poder da literatura para transcender a realidade e preservar memórias, mesmo que doenças e mortes inevitáveis estejam no horizonte. O protagonista afirma: “Envelheci, mas me sinto jovem enquanto ainda consigo segurar um lápis na mão e ver a frase que escrevo”. 

Romance luminoso, tanto estilisticamente quanto tematicamente, profundo, humano e sincero. Auster emprega uma prosa ágil, muito visual, quase cinematográfica, e constrói um personagem – ele mesmo – que consegue cativar o leitor com seus pontos fortes e fracos. 

© 2024 Aceprensa. Publicado com permissão. Original em espanhol

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