Há dois anos, o mundo inteiro estava falando da mesma série coreana: Round 6, uma história sobre pessoas que se sujeitam a participar de um programa mortal para concorrer a um grande prêmio em dinheiro. “Eu queria escrever um roteiro que fosse uma alegoria ou fábula sobre a sociedade capitalista moderna”, contou Hwang Dong-hyuk à revista Variety na época da febre. O objetivo era propor uma reflexão sobre como algumas pessoas se deixam corromper pelo dinheiro. Já a Netflix, que transmitiu o seriado, parece não ter sacado isso e decidiu fazer um reality show inspirado no programa.
Lançado em novembro, Round 6: O Desafio levou a crueldade de provas extremas como “Batatinha Frita 1, 2, 3” e “Ponte de Cristal” a uma escala global, convidando 456 pessoas de todo o mundo para concorrer a 4,56 milhões de dólares – o maior prêmio já liberado na história de um reality show. As pessoas não são mortas, mas são corrompidas logo de imediato. Nos minutos iniciais do primeiro de dez episódios, um homem afirma que não verá problema algum em passar a perna no seu “melhor amigo”.
Assim como na série original, também há algumas relações que trazem mais esperança ao espectador. Alianças improváveis mostram que, mesmo quando interessadas em uma grana preta, certas pessoas não abandonam seus valores. É difícil não sorrir quando aparecem na tela Trey e LeAnn, um filho e sua mãe idosa. Os dois sempre estão lado-a-lado e fazendo piadas, mas no final acabam jogados um contra o outro pelo programa.
Preservativos nos lábios
Trey foi um dos participantes que revelou pela imprensa situações que não aparecem nas telas e estão gerando processos contra a Netflix. Segundo ele, diversas pessoas foram obrigadas a utilizar preservativos lubrificados para cuidar da boca machucada, porque a produção não queria fornecer protetores labiais. Temperaturas extremas causaram esse problema e outros ainda mais sérios. De acordo com o tabloide britânico The Sun, houve desmaios, danos nos nervos e até hipotermia, com direito a pessoas com as mãos roxas. Na “Batatinha Frita 1, 2, 3”, as pessoas chegaram a ficar imóveis por mais de 30 minutos.
Não dá para dizer que tais situações foram intencionais. Afinal, para a plataforma de streaming, em tese, traumatizar os participantes não traria benefício algum ao produto. Mas isso não deixa de ser um reflexo de como os produtores de Round 6: O Desafio não entenderam o que se passou pela mente de Dong-hyuk quando criou o roteiro.
“Para nós, a alegoria anticapitalista é apenas uma pequena parte de Round 6”, disse Tim Harcourt, produtor executivo do reality show, à publicação TV Guide. “A série também é sobre como as pessoas se comportam sob pressão – e é isso que torna os reality shows interessantes”, completou em outra entrevista, ao The Hollywood Reporter.
Nesse último apontamento, ele está certo. Round 6: O Desafio é o programa em língua inglesa mais assistido da plataforma entre os dias 27 de novembro e 4 de dezembro, conquistando 11,4 milhões de visualizações. O reality show recria fielmente a estética do seriado e agrada quem gostou do original. As provas inéditas, como a batalha-naval, são divertidas e ajudam a mostrar como diferentes pessoas agem em situações com muita bufunfa em jogo.
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