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Seriado “sobre nada”

“Seinfeld” faz 35 anos sem medo de ser cancelado por seu humor sem filtro

"Seinfeld" completa 35 anos com nove temporadas, todas disponíveis na Netflix
Em nove temporadas, "Seinfeld" fez todo mundo rir com Elaine, George, Jerry e Kramer. (Foto: Divulgação/Columbia Pictures)

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No dia 5 de julho de 1989, os personagens Jerry Seinfeld e George Costanza apareciam pela primeira vez em televisores americanos, mostrando os dois discutindo seriamente sobre o posicionamento do botão na camisa de um deles. A cena inicial de Seinfeld era simples, mas revolucionou a história da TV ao oferecer o primeiro grande “programa sobre nada”. Exatos 35 anos depois, o seriado de nove temporadas continua relevante e prova que, na verdade, debatia sobre absolutamente tudo. 

Atualmente, o comediante Jerry Seinfeld, que vive uma versão de si próprio na produção, é um dos nomes mais respeitados do humor – mesmo que seu filme mais recente não tenha sido lá grandes coisas. Isso ocorre não só pelo que produziu entre os anos 1980 e 1990, mas também por não baixar a cabeça para o politicamente correto. Em uma entrevista recente à revista The New Yorker, se queixou da falta de programas interessantes de comédia na tevê: "Este é o resultado da extrema-esquerda, da porcaria do politicamente correto e das pessoas se preocuparem tanto em não ofender os outros”. 

O humorista critica o cenário atual abertamente, porque a principal joia de sua carreira hoje não seria transmitida com tanta facilidade na televisão aberta. Embora tenha causado histeria com seu famoso episódio da “aposta” na época do lançamento, Seinfeld seria facilmente cancelado se tivesse sido criado hoje. Nele, Jerry, Kramer, Constanza e Elaine travam uma disputa de cunho sexual. O episódio arranca intensas risadas e foi o que fez a série estourar nos Estados Unidos 

Em outro episódio, do auge do seriado, o comediante se desentende com uma de suas várias namoradas após presentear a amiga Elaine com uma estátua indígena comprada em uma loja de charutos. Já outro capítulo retrata Kramer pulando de maneira exagerada sobre uma bandeira de Porto Rico – o que faz parecer que ele odeia o país. Como sempre no universo da sitcom, tudo é explicado pela falta de noção dos personagens. Mas fato é: o quarteto também nunca se importava em ser politicamente correto. 

Mesmo com os momentos polêmicos, não faltam exemplos de cenários atemporais explorados em Seinfeld, dignos de fazer rir qualquer pessoa verdadeiramente bem-humoradaAlém das brincadeiras com o mundo dos relacionamentos entre amigos e namorados, o programa fazia centenas de piadas sobre costumes não muito bem explicados do universo ocidental e modismos. Como não lembrar do episódio em que comer uma barra de chocolate com garfo e faca vira febre entre os nova-iorquinos?  

Basicamente, existe um capítulo do seriado para qualquer situação que se possa imaginar. E é por isso que Seinfeld ainda faz tanto sentido nos dias de hoje. 

Final ruim? 

Em maio de 1998, Seinfeld foi encerrada com uma decisão polêmica de roteiro: encarcerar os quatro protagonistas por tudo que fizeram de errado ao longo dos 180 episódios. Em tom de coletânea de melhores momentos, personagens emblemáticos reaparecem em um “julgamento do caráter” de Seinfeld, Elaine, Costanza e Kramer. É o caso do paquistanês Babu Bhatt, que foi deportado por culpa do comediante. Ou também do Soup Nazi, que ganha o apelido “carinhoso” por ofertar sopa com um sistema muito rígido de regras.

Aquele episódio final praticamente previu como seriam as coisas depois do fim da série: todo mundo deveria ser politicamente correto ou pagaria com a liberdade. Não à toa, apenas oito anos depois, o ator Michael Richards, que vivia o exagerado e engraçadíssimo Kramer, teve a sua carreira detonada após “surtar” e xingar dois homens que o interromperam durante uma de suas apresentações de stand-up.  

Já neste ano, o próprio Seinfeld, que é judeu, foi “cancelado”. Durante seu discurso inspirador na colação de grau de uma faculdade, acabou ignorado por um grupo estudantil contrário a Israel que achou legal abandonar a própria formatura para boicotar o comediante no palco. Em junho, ele também teve uma de suas apresentações interrompidas por um homem berrando que o humorista é um “apoiador de genocidas”. Não deu outra, Seinfeld devolveu na mesma moeda: “Temos um gênio aqui, senhoras e senhores. Ele resolveu a questão Oriente Médio. Ele resolveu! São os comediantes judeus, são eles que precisamos pegar”. 

Felizmente, nenhuma dessas ocasiões fez a produção ser censurada ou tirada de catálogo. Todos os episódios continuam na Netflix e sem cortes abruptos para adaptá-los às novas sensibilidades da sociedade – não à toa, em 2019, o serviço de streaming pagou U$ 500 milhões para ter os direitos da série. O bom disso é que, quem assiste hoje, consegue ver que a premissa do final de Seinfeld não é tão absurda quanto seus fãs acharam nos anos 1990. Vale rever com novos olhos. 

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