A dupla The White Stripes anunciou a reedição do álbum Elephant para marcar o aniversário de 20 anos desse clássico, que foi para as lojas em 1º de abril de 2003. O disco merece ser consumido e relembrado em sua totalidade, mas sua história gira em torno da faixa de abertura, Seven Nation Army. Na verdade, ela tem fortes predicados para ser considerada a melhor música lançada neste século até o momento.
Uma afirmação ousada, com certeza, e que será contestada por ouvintes cujas preferências vão muito além do rock e ritmos adjacentes. Mas, ao menos dentre os gêneros de música moderna que tocaram no rádio neste século, o que mais se compara? Eu tabularia Rolling in the Deep, da Adele, como a melhor canção da segunda década deste século, com sua versão atualizada da sonoridade R&B dos anos 60, porém Seven Nation Army atingiu uma posição mais icônica e merecida. Seu trunfo é a simplicidade, a cadência hipnótica, e mais do que tudo seu indefectível riff melódico de guitarra. Trata-se de uma criação de Jack White como compositor, guitarrista e vocalista, ajudada apenas pela batida singela de sua ex-mulher Meg White na bateria. A letra, como em muitos rocks, forma mais uma atmosfera poética do que algo literalmente compreensível. A tensão e a ameaça nua e crua são anunciadas logo de cara pelos primeiros acordes de guitarra (Jack tira sons que parecem de um contrabaixo) e um vocal frágil e sarcástico:
I’m gonna fight ’em all
A seven nation army couldn’t hold me back
They’re gonna rip it off
Taking their time right behind my back
And I’m talking to myself at night
Because I can’t forget
Back and forth through my mind
Behind a cigarette
Jack constrói um crescendo de desencanto.
I’m going to Wichita
Far from this opera forevermore
I’m gonna work the straw
Make the sweat drip out of every pore
And I’m bleeding, and I’m bleeding, and I’m bleeding
Right before the Lord
All the words are gonna bleed from me
And I will sing no more
A iconografia simples e repetitiva e o esquema de cores preto-vermelho-branco do videoclipe da música combinam perfeitamente com o clima hipnótico.
A mistura de uma melodia simples, uma batida forte e um gancho reconhecível instantaneamente, que qualquer um pode cantar, deu a Seven Nation Army uma vida totalmente separada, sendo entoada por fanfarras e torcidas em diversos tipos de eventos esportivos.
Uma das marcas de grandes canções é que elas podem ser interpretadas de muitas maneiras. Seven Nation Army foi regravada por uma grande variedade de artistas. Duas versões bem diferentes ilustram essas possibilidades de abordagem. A popstar Kelly Clarkson fez uma cover bem hard rock da canção em sua turnê de 2009, com uma banda completa, incluindo sopros e teclados. Por outro lado, os veteranos da country music Oak Ridge Boys levaram o riff para o piano e cantaram como se fossem velhos caubóis cavalgando em direção ao sol.
Uma das diversas razões para o declínio do rock como potência cultural no século 21 é a sensação de que já foi extraído tudo que era possível dos grandes riffs de guitarra. O White Stripes provou que ainda havia vida no rock se você cunhasse um novo riff. Por ora, essa é a altura máxima que qualquer artista conseguiu chegar na música popular neste novo milênio.
© 2023 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
A gestão pública, um pouco menos engessada
Projeto petista para criminalizar “fake news” é similar à Lei de Imprensa da ditadura
Deixe sua opinião