Os personagens Ellie e Joel precisam sobreviver em um ambiente apocalíptico| Foto: Warner Bros. Discovery/Divulgação
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The Last of Us, seriado da HBO que inicialmente celebrei e depois critiquei duramente, conseguiu realizar uma ótima conclusão para sua primeira temporada – muito parecida com a investida cheia de adrenalina pela porta de uma sala segura no final do videogame Left 4 Dead. As críticas que surgiram no meio da temporada tiveram muito a ver com o enfoque dos produtores da série em contar histórias de amor subversivas no fim dos dias – em vez de fazer a trama progredir ou manter a integridade lógica de seu próprio universo. O que separa o clímax final do que aconteceu antes é a forte mensagem a favor da vida que permeia o episódio.

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(Cuidado: spoilers a seguir)

Depois de enfrentar pedófilos e canibais que se dizem cristãos (aparentemente, o único tipo de crente que Hollywood consegue imaginar) e, antes disso, anarquistas e zumbis, Ellie (a jovem garota cujo sangue – tecnicamente, cérebro – pode salvar o mundo) e Joel (seu guardião e figura paterna) finalmente chegam à Salt Lake City. Após cruzar os Estados Unidos, os dois protagonistas são pegos pelos Vagalumes, uma organização rebelde com planos de substituir o que sobrou do governo federal.

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Quando Joel acorda no quartel dos rebeldes, ele é avisado por Marlene, a líder, que Ellie passará por uma cirurgia. Marlene apenas assiste e aguarda, enquanto Joel percebe que o procedimento para remover o organismo da cura em Ellie poderia resultar em sua morte – algo que a garota não sabia que aconteceria quando foi anestesiada.

Joel protesta e é levado embora, até que ele se livra dos guardas que o escoltavam para fora do edifício e segue matando todo homem que tenta bloquear o caminho entre ele e Ellie. As cenas são sombrias e os tiroteios rápidos. Enquanto Joel enfrenta uma série de homens, ele se preocupa em pegar suas armas (a munição limitada é um tema recorrente da série e uma homenagem ao videogame em que o seriado é baseado) para matar o próximo homem mais à frente no corredor. Neste momento, Joel remete a personagens como John Wick, Rick Grimes e William Munny – o arquétipo do homem da lei semi-corrompido no faroeste; um cara que se condena toda vez que usa sua arma de fogo, mas que também precisa aplicar a justiça de qualquer maneira.

Após deixar uma montanha de homens mortos, Joel chega à sala da operação, na qual ele não poupa a vida do neurocirurgião e manda que seus enfermeiros assistentes removam os tubos de Ellie. O “herói” então carrega a garota inconsciente pelo abatedouro que ele mesmo criou. Quando finalmente chega à garagem e encontra um veículo que funciona, a líder dos Vagalumes o aborda, exigindo Ellie de volta para o bem de todos que poderiam ser salvos se pudessem colher seu material. Toda a humanidade pelo preço de apenas uma garota.

Como imaginado, Joel não concorda.

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Apesar da morte de dúzias e, possivelmente, de outros milhares por evitar o desenvolvimento de uma cura, o final da temporada é um grande argumento pró-vida. Isso ocorre porque a ideia principal é de que vidas não são intercambiáveis. Uma jovem garota estaria marcada para morrer apenas porque o mundo sofreria um pouco mais se ela continuasse vida. Não havia quaisquer garantias de que sua morte resultaria em uma panaceia.

Essa linha de raciocínio remete ao argumento pró-aborto de que crianças abortadas cresceriam na pobreza se tivessem sua vida permitida, então seria “melhor” que a criança nunca nascesse (poupando os pais das dificuldades). Os quase assassinos de Ellie – não importa o quão convincentes sejam seus argumentos, nem que as circunstâncias sejam extremas – defendem que a possibilidade de uma cura vale a morte certeira de uma jovem. A cena final, com Joel mentindo para Ellie sobre o porquê de eles terem deixado a sala de operação, é de quebrar o coração. Ela achava que salvaria o mundo com o poder do seu corpo, sem saber que isso custaria sua vida. E Joel, o adulto e guardião, precisa protegê-la de todos e, inclusive, dela mesma, ao esconder a verdade. Mesmo que Ellie soubesse e consentisse com sua morte na mesa de cirurgia, Joel teria o direito de resgatá-la. Ela é uma criança que jamais poderia consentir com sua própria destruição.

No começo do episódio, assistimos ao nascimento de Ellie. Sua mãe, gravidíssima e perseguida por infectados, encontra uma casa arruinada, na qual seus amigos deveriam estar. Encontrando-se sozinha, a mãe luta contra os zumbis enquanto dá à luz a filha – preservando a vida em frente à morte. É uma cena horrível. A mãe de Ellie então encontra uma marca de mordida, o beijo da morte. Na sequência, ela entrega sua filha, a qual teve um breve contato com a infecção por meio do cordão umbilical, ao time que retornou à casa, liderado por Marlene. A mãe então exige que seja sacrificada antes que sucumba à infecção. Marlene acata o pedido e leva Ellie.

Aparentemente, The Last of Us descartou seus comentários sociais gratuitos para a confecção de seu final – contudo, ao fazer isso, criou um incrível trabalho de drama com uma mensagem pró-vida, uma vez que reconhece a imoralidade no sacrifício de uma criança.

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© 2023 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.