“O Trem Italiano da Felicidade” relembra ato que separou famílias no pós-guerra

Por Gema Pérez Herrera
Por Aceprensa
03/01/2025 às 16:06

O filme recria uma das muitas histórias vividas por crianças no sul da Itália entre 1946 e 1952 (Foto: Divulgação Netflix)

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Amerigo é um menino que sobreviveu à Segunda Guerra Mundial na Itália, vive em Nápoles com a mãe, num contexto de fome e pobreza extrema. A sua mãe decide enviá-lo num dos comboios que o Partido Comunista Italiano providencia para levar as crianças para as regiões do norte, com famílias adotivas que as podem alimentar e oferecer-lhes uma melhor educação. Essa é a sinopse de O Trem Italiano de Felicidade, que está no catálogo da Netflix.

O filme é baseado no romance homônimo de Viola Ardone, que recria uma das muitas histórias vividas por mais de 70.000 crianças nas regiões do sul da Itália durante o pós-guerra, entre 1946 e 1952. A narrativa se concentra em Amerigo, que vivencia a dura separação de sua mãe e precisa aprender a conviver com uma nova família em um ambiente estranho.

O olhar do garoto não evita a dureza da situação, embora dê ao filme um tom gentil e muitas vezes simpático. A ambientação cuidadosa e a interpretação das crianças protagonistas refletem bem uma época e os dramas humanos típicos daquele contexto social de grande precariedade. Um retrato que, descontando-se o período de cada produção, lembra grandes clássicos de Vittorio de Sica, como O Ladrão de Bicicleta (1948) e Vítimas da Tormenta (1946), principalmente pelo protagonismo infantil e pelo toque dos costumes italianos.

Embora o roteiro seja simples e falte um pouco mais de profundidade psicológica em seus personagens, O Trem Italiano de Felicidade funciona como uma história familiar que aborda um episódio pouco conhecido do pós-guerra mundial e que enaltece valores humanos muito positivos, como família, a amizade, a generosidade e o sacrifício de tantas mães e pessoas anônimas. O filme não entra, apenas menciona de passagem, na polêmica que essa iniciativa do Partido Comunista Italiano desencadeou entre setores cristãos e o próprio Vaticano, que se opôs aos chamados “comboios da felicidade” e à mobilização em massa de crianças e ao afastamento de suas famílias.