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De volta à TV

Trinta anos depois, ainda faz sentido assistir ao “Manhattan Connection”?

Lucas Mendes, Diogo Mainardi, Caio Blinder, Sil Curiati e Bruno Corano, o time atual do Manhattan Connection (Foto: Reprodução YouTube)

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Em 1993, possuir assinatura de canais da TV fechada era um luxo. O brasileiro ainda tentava entender as vantagens de comprar pacotes e ampliar suas opções televisivas para além dos parcos canais abertos quando, no GNT, o Manhattan Connection fez suas primeiras transmissões diretamente de Nova York. Para o espectador privilegiado, era a oportunidade de ver os temas da semana sendo debatidos pelo ícone Paulo Francis, que assinava colunas de jornais e tinha presença pontual na Rede Globo, pelo produtor musical Nelson Motta, e pelo jornalista Caio Blinder, com mediação do sempre sereno Lucas Mendes.

Caio Blinder, Paulo Francis, Lucas Mendes e Nelson Motta, o quarteto original

A verve de Francis garantiu que o programa – conforme a TV fechada ganhava terreno – virasse um xodó de formadores de opinião, políticos de visão mais liberal e aspirantes a jornalistas. Toda essa turma esperava pela noite de domingo para saber se o astro do Manhattan Connection iria discutir com Blinder, se iria reclamar do apreço de Motta pela música pop, se iria esculachar Lula ou Bill Clinton, e se cantaria uma canção de algum filme que formara seu caráter. Mas Francis morreu quatro anos após o início do programa, que seguiu com outros polemistas à mesa (Gerald Thomas, Arnaldo Jabor), até encontrar o substituto mais apropriado para a missão, o escritor Diogo Mainardi.

Quase no fim de 2023, chega a notícia de que o MC voltaria a ser exibido num canal de TV por assinatura. O programa passou por diversas casas e por momentos fora do ar e sem perspectiva de retorno desde que atingiu sua maioridade. Primeiramente, indo da GNT para a Globo News, com a novidade de algumas edições rolarem ao vivo, não gravadas às sextas, como era tradicional. Depois, houve o breve período na TV Cultura, que custou caro a Diogo Mainardi, afastado do programa após fazer um gracejo com um convidado indigesto usando um palavrão. 2022 foi o ano de mais uma curta temporada, dessa vez só na internet, no canal de notícias MyNews. E, agora, há três domingos, as “manhattazanas” ocupam o horário das 22h no canal focado em investimentos BM&C News (563 na Claro TV, 579 na Vivo, e com vídeo de cada edição postado na íntegra no YouTube).

Osasco Connection

Antes da estreia, havia a informação de que Danilo Gentili, a convite do amigo Diogo Mainardi, integraria o time como correspondente em São Paulo. Mas, nas três edições exibidas até agora, o comediante sequer foi citado pela bancada. As tentativas de contato com ele e com o BM&C News para esclarecer se, em algum momento, o apresentador do The Noite (que por anos levou ao ar a paródia Osasco Connection, muitas vezes destacando os comentários de Gil Brother, humorista que morreu no último dia 4) será um dos debatedores não tiveram resposta. O que de fato importa é que Mainardi – falando de Veneza, Itália – e os nova-iorquinos por adoção Blinder e Mendes estão de volta com a mesma proposta de 1993 de resumir o mundo em poucos minutos (90, nessa encarnação).

Completam o time atual a publicitária Sil Curiati e o gestor de fundos Bruno Corano, que é uma espécie de mecenas desse regresso do MC e assume o papel de falar com mais profundidade de assuntos econômicos, algo que por muitos anos ficou a cargo de Ricardo Amorim. Aliás, tanto Amorim, quanto Nelson Motta e outros nomes que integraram a gangue de “manhattazanas” em alguma época deram as caras nos três primeiros episódios de retorno, mostrando que o programa pretende se conectar com sua história gloriosa, não apenas criar uma nova.

E é esse aspecto nostálgico que pode prender o espectador novamente ao MC. O formato deixou de ser novidade faz muito tempo e os mesacasts espalhados pela internet cumprem o papel de escarafunchar qualquer assunto quente numa velocidade que supera a periodicidade semanal da atração comandada por Lucas Mendes. Em tese, os tempos atuais deixaram o palco no qual Francis brilhou lá no comecinho obsoleto e desimportante. Mas basta o freguês de priscas eras assistir a um ou dois episódios que algo se aloja em seu cérebro e o desejo de acompanhar os debates dos velhos jornalistas volta com força. Experiência própria.

Até aqui, o quinteto já falou bastante do conflito entre Israel e Hamas, das eleições argentinas, da possível volta de Trump, do irascível Elon Musk, do futuro da economia brasileira, de jornalistas que nos deixaram, de livros que precisam ser lidos e filmes que precisam ser vistos. Tudo bem aos moldes de como o MC se estruturou ao longo das décadas – agora com Lucas Mendes segurando um mouse e fazendo scroll pelos temas a serem abordados. Claro que a visão de mundo dos participantes não é capaz de agradar a todos. Mas uma arena com pessoas bem informadas dando pitacos sobre os destinos da humanidade é algo que nunca caducará.

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