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Liberdade de expressão

“Trumbo” defende que até o abominável comunismo tem o direito de existir

Diane Lane, Bryan Cranston e Helen Mirren encabeçam o elenco de "Trumbo: Lista Negra" (Foto: Divulgação Prime Video)

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Antes da Cientologia e da harmonização facial, houve um tempo no qual a excentricidade do momento em Hollywood era pertencer ao Partido Comunista. O filme Trumbo: Lista Negra (2015), disponível no Prime Video, Paramount+, Pluto TV e para aluguel no Now, conta a história de um roteirista de renome que aderiu à moda da época e enfrentou as consequências de sua escolha.

Dalton Trumbo (interpretado de forma convincente por Bryan Cranston) entrou para o partido em 1943, ainda durante a Segunda Guerra Mundial. Mas as coisas mudaram em poucos anos, com o começo da Guerra Fria. Agora que a União Soviética desafiava os americanos e buscava construir uma rede de influência global, membros do Congresso dos Estados Unidos queriam remover da vida pública os membros do Partido Comunista dos Estados Unidos (que era e continua sendo legalmente reconhecido), num movimento que ficou conhecido como macarthismo.

Trumbo e outros nomes da indústria cinematográfica (conhecidos como Os 10 de Hollywood) se viram convocados a depor ao Congresso sobre suas ligações com o Partido Comunista. Outras consequências seriam ainda piores. O filme, dirigido por John McNamara, acompanha Trumbo enquanto ele tenta contornar a recusa dos grandes estúdios de contratá-lo. Um dos subterfúgios era escrever usando pseudônimos. Ainda assim, poucos empresários estavam dispostos a correr o risco de se associarem a ele.

Visão ingênua do regime

Dalton Trumbo era um comunista de outra geração: dedicado à família, empenhado em seu trabalho, ele não costumava usar os filmes para fazer política. O envolvimento real de Trumbo com o regime soviético é incerto. Mas é fato que os crimes do stalinismo foram denunciados formalmente no Congresso do Partido Comunista, em 1956, e que Trumbo não renegou suas convicções comunistas depois disso.

Trumbo: Lista Negra peca pela ingenuidade em alguns aspectos. De propósito ou não, a obra evidencia a superficialidade das ideias comunistas entre as figuras de Hollywood. Em uma das cenas, o protagonista descreve o comunismo como a simples preocupação com os mais pobres, o que é incorreto. Dalton Trumbo e outros membros do Partido Comunista não foram perseguidos simplesmente por suas ideias, mas também porque ser um comunista era visto como uma ameaça à sobrevivência dos Estados Unidos. Pertencer ao Partido Comunista era, em certa medida, ser um membro de uma organização ligada a uma ditadura hostil aos americanos. O monstro do totalitarismo estava fresco na memória: os Estados Unidos haviam acabado de perder 400 mil soldados na luta contra o nazi-fascismo e queriam manter distância do regime autoritário soviético.

Com toda a complexidade do caso, Trumbo: Lista Negra põe em evidência um dos episódios mais delicados envolvendo a liberdade de expressão nos EUA. Não por acaso, o filme tem como ator coadjuvante ninguém menos do que Louis CK, humorista conhecido por suas piadas ofensivas. Ele interpreta o personagem Arlen Hird, outro roteirista com vínculos com o Partido Comunista. Ao fim, o filme tenta convencer o espectador de que a liberdade de expressão se aplica sobretudo àquilo que causa aversão na maioria das pessoas. Em um diálogo do filme, Trumbo demonstra entender isto: “Nós dois temos o direito de estarmos errados”, diz ele ao ator John Wayne. Até mesmo as ideias estúpidas têm o direito de existir.

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