Radhika Jones cresceu em meio à música. Seu pai, Robert L. Jones, cantor e guitarrista, era uma figura proeminente na cena folk de Cambridge, Massachusetts, no fim dos anos 1950 e começo dos anos 1960. Quando ele decidiu viajar menos, ela começou a vender camisetas e a trabalhar nas bilheterias nos muitos eventos que ele ajudava a produzir, incluindo os festivais Newport Jazz e Folk.
"Uma coisa que eu realmente aprendi com meu pai foi a emoção e a pressa de descobrir novos talentos, manter uma mente aberta para novas vozes e reunir artistas", disse Jones em uma entrevista.
O amor pela descoberta será importante agora para Jones, diretora editorial do departamento de livros do New York Times e ex-editora da revista Time, agora que aceitou um dos trabalhos de maior destaque na mídia: editora-chefe da Vanity Fair.
Jones, de 44 anos, será a sexta editora da revista desde sua fundação em 1913 e a quinta desde que foi relançada no início dos anos 80. Ela irá suceder Graydon Carter, 68, que disse em setembro que sairia após 25 anos no comando. Sua nomeação entrará em vigor no dia 11 de dezembro.
É uma transferência notável de poder em uma revista definida pela sensibilidade de Carter – uma mistura de anglofilia, política liberal, estilo glamouroso de Hollywood e um pouco de acidez. Ao contrário de Carter, cofundador da revista satírica Spy, que se tornou um marco na manutenção do establishment, Jones dificilmente será o tipo de editora de celebridades bajuladora, que muitos observadores de mídia assumiram como sucessor de Carter.
De uma inteligência rápida e despretensiosa, com uma escrita meticulosa e uma queda por Tetris, Jones parece adequada para uma nova era – de transformação, mas também de restrição – na Vanity Fair e na Condé Nast, a empresa proprietária da revista.
"Com relação à Radhika, estamos muito orgulhosos de ter uma editora corajosa e brilhante cuja inteligência e curiosidade irão definir o futuro da Vanity Fair", disse em um comunicado Anna Wintour, editora-chefe da Vogue e diretora artística da Condé Nast.
Um compêndio de cultura, política e visuais distintos, a Vanity Fair foi ressuscitada em 1983, após uma ausência de 47 anos, para adicionar alguma ostentação e inteligência ao grupo Condé Nast, dias antes de a empresa ter comprado a revista The New Yorker. Suas páginas apresentaram os textos combativos de Christopher Hitchens, o conteúdo atrativo de Dominick Dunne e as fotos superproduzidas de Annie Leibovitz – mas a revista também resiste, e há planos para torná-la mais enxuta e menos vinculada aos títulos impressos.
Carter disse que pensou em deixar a revista no início deste ano, mas resolveu permanecer por causa da eleição frustrante de Donald Trump. (A revista viu um pico nas assinaturas depois de Trump ter tuitado no ano passado que a revista estava "decaindo, com grandes problemas, morta!".) Ele resistiu ao corte de custos da Condé Nast e às tentativas da empresa de consolidar seu design, pesquisa, equipes de fotos e redação.
Não foi um bom momento na Condé Nast, ou em qualquer outro lugar do setor de revistas, cada vez mais sem dinheiro, para desafiar o corte de custos. A empresa espera ter US$100 milhões a menos em receita este ano do que em 2016, e está no meio da demissão de 80 funcionários. Recentemente, disse que estava reduzindo a periodicidade de títulos como GQ, Glamour e Architectural Digest e fechando a edição impressa da Teen Vogue.
Para substituir o longevo Carter, os executivos buscaram um editor que pudesse continuar as tradições jornalísticas da Vanity Fair e se mover sem problemas entre as esferas de Hollywood, Washington e Nova York. Ao mesmo tempo, o novo editor seria encarregado de levar o título para além do seu formato impresso – e com menos recursos – de acordo com um executivo informado sobre o processo de seleção.
Descobrir quem substituiria Carter tornou-se um jogo de salão. Entre os nomes, estavam Adam Moss, editor da revista New York; Janice Min, que revitalizou a Us Weekly e The Hollywood Reporter; e Andrew Ross Sorkin, colunista do New York Times e apresentador do "Squawk Box" da CNBC.
A decisão era de Robert Sauerberg, executivo-chefe da Condé Nast, que supervisionou a busca junto com Wintour. David Remnick, editor da New Yorker, também esteve envolvido.
Jones era a opção de Remnick, disse o executivo.
"Nós não precisamos apenas de um sucessor ou de uma celebridade. Realmente queríamos alguém que pudesse fazer o trabalho e ser um sucessor digno de Graydon, e acho que encontramos alguém", disse em uma entrevista Steven O. Newhouse, sobrinho do falecido Samuel I. Newhouse e alto executivo da empresa-mãe da Condé Nast, a Advance Publications.
"Ela tem visão e energia e uma mente muito ativa, e acho que é isso que a Vanity Fair precisa", acrescentou Newhouse.
Jones foi a única candidata com quem Newhouse conversou.
Russo enferrujado
Nascida em Ridgefield, Connecticut, entre Nova York e Cincinnati, Jones se formou em Harvard e tem doutorado em literatura inglesa comparada pela Universidade de Columbia. Morou em Taipei e Moscou, onde começou no jornalismo como editora de artes no The Moscow Times, um jornal de língua inglesa. (Ela afirmou que seu russo está enferrujado.)
Muitos editores em sua posição proclamariam seu amor pelas revistas, particularmente pela que estavam prestes a comandar, mas uma das características de Jones é a sinceridade.
"É difícil descobrir exatamente quando fiquei obcecada por revistas", disse ela.
Ela cresceu lendo a Vanity Fair?
"Sim e não", respondeu.
Ela preferiu não descrever seus planos para a Vanity Fair. "Preciso me orientar primeiro – há muito para entender." Ela também despistou quando questionada sobre os escritores que estava considerando. "Estou realmente interessada em descobrir", disse ela.
Aqueles que conhecem Jones acreditam que irá prosperar, citando seus antecedentes acadêmicos e sua amplitude de interesses. Antes de se juntar ao Times, ela era vice-diretora da revista Time, onde transformou a lista Time 100 em uma mistura eclética de visionários desconhecidos e celebridades. Após a gala anual da edição correspondente, ela organizava uma festa de karaokê que durava toda a noite em Midtown. Também foi editora-chefe da Paris Review, a revista literária trimestral capaz de fazer a carreira de um jovem escritor.
"Uma vez se referiu a si mesma como uma ‘ex-tímida’, como alguém que teve que aprender a falar. Ela não aparenta ser incrivelmente forte, não tenta dominar os outros com suas ideias – é um tipo diferente de presença", disse Nancy Gibbs, que recentemente se demitiu como editora da Time.
Em seu quarto de século na Vanity Fair, Carter deu status social de elite à editoria. Foi anfitrião de festas, produtor de documentários e shows da Broadway, comentarista político e restaurador, tornou-se parte do mundo das celebridades. Sob seu comando, a festa anual da Vanity Fair após o Oscar se tornou um dos eventos mais glamourosos, lotado de astros.
Talvez seja inevitável que Jones acabe sendo comparada a Carter, assim como ele teve que viver de acordo com as expectativas dos leitores que cresceram adorando a versão da Vanity Fair criada por sua antecessora, Tina Brown. Alguns no mundo da mídia já vasculham sua experiência em busca de sinais de que não irá conseguir, particularmente quando se trata da habilidade de Carter para transitar em Hollywood.
Seus apoiadores rejeitam qualquer ideia de que ela não terá sucesso em todos os níveis. E no caso de alguém se perguntar, sim, ela comandará a festa do Oscar de 2018.
"A realidade é que ela tem credenciais incríveis para dirigir uma revista tão concentrada na cultura", disse Newhouse.
E acrescentou: "Acho que é totalmente capaz de dar conta de todos os elementos da Vanity Fair. Obviamente, você não começa – como Graydon não começou – da maneira como Graydon acabou".
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