Peter Finch de “Network – Rede de Intrigas” e Heath Leadger de “O Cavaleiro das Sombras” são exemplos famosos de atores que ganharam Oscars póstumos por atuações emocionalmente penetrantes. Agora, dada uma atuação chave digitalmente auxiliada em “Rogue One: Uma História Star Wars”, estamos na iminência de uma era em que grandes prêmios podem ir para atores que morreram muito antes de suas cenas terem sido concebidas, muito menos filmadas.
Isso porque o rosto de Peter Cushing, o imponente ator britânico que morreu em 1994, empresta uma presença especialmente memorável a “Rogue One” ao ajudar a reviver seu personagem em “Star Wars”, Grand Moff Tarkin, o comandante imperial que praticamente reina pela força de encaradas, tom de voz e maçãs do rosto salientes.
Na linha do tempo de “Star Wars”, “Rogue One” vem imediatamente antes do filme original de 1977, então há uma requerida teia de conexões visuais, bem como narrativas, incluindo participações de alguns dos personagens mais icônicos da franquia. E, embora George Lucas possa não ter antevisto completamente esse aspecto há quatro décadas, um dos benefícios de se povoar seu universo com tantas máscaras, droides e maquiagem de criaturas é a facilidade com que suas aparências podem ser recriadas em qualquer versão posterior. Em termos de acessibilidade, seus visuais são imortais.
Mas como invocar atuações completamente novas e que pareçam verdadeiras de rostos humanos?
Temido efeito “olhos mortos”
Sob a direção de Gareth Edwards, “Rogue One” representa mais um marco na busca de décadas pelas melhores réplicas de seres humanos em computação gráfica. Os cineastas fizeram uma seleção para o “papel” do Tarkin de Cushing, decidindo-se pelo ator de novelas da BBC Guy Henry. Esse Tarkin, portanto, está livre do temido efeito “olhos mortos”, comum em personagens gerados por computação gráfica alguns anos atrás.
Apesar dos magos dos efeitos andarem pelo “vale sinistro” dos olhos gerados por computação gráfica, Tarkin parece muito vivo – ainda que suas proporções faciais às vezes pareçam levemente diferentes das da trilogia original. Estamos nos aproximando da realidade de uma atuação completa, auxiliada por computação gráfica, muito depois de o ator ter falecido.
Se “Rogue One” ganhar um Oscar por efeitos especiais, Cushing deve ser uma boa parte do motivo.
Atores criogênicos
Isso parece uma continuação natural daquilo por que algumas das mentes mais afiadas de Lucasfilm/ILM/Disney-Pixar, entre outros (inclusive o veterano em efeitos especiais John Knoll) estavam se esforçando desde ao menos o início dos anos 80, conforme os marcos do progresso digital começaram a ser estabelecidos cada vez mais velozmente. Agora, o poder de se manipular o pixel para sempre agita a imaginação, e 2016 pôs o estado dessa longa jornada de aspecto Jedi em destaque.
Afinal de contas, a Disney chegou a nos dar uma cena este ano na qual Robert Downey Jr., com a aparência de seu eu dos anos 80, parece bastante real em “Capitão América: Guerra Civil”, mesmo que os pequenos ajustes de uma performance em captura de movimento ainda possam ser uma distração quando envolvem um rosto demasiado humano.
E, ainda assim, mesmo entre os magos da Disney/Lucasfilm, computação gráfica que faça o ator parecer mais jovem ainda pode ser mostrar um feito elusivo de se realizar, mesmo na atual era de scans computadorizados de corpo inteiro dos atores que podem ser reunidos com toda a esperança do pensamento visionário e todos os sonhos de imortalidade congelada, para sempre acessíveis, como um Walt Disney digitalmente criogênico.
Porque na outra ponta do espectro da computação gráfica em “Rogue One”, o filme oferece uma olhadela (sem spoilers aqui) sobre outro personagem icônico da Trilogia Original – contudo o efeito parece artificial a ponto de ser uma distração e estranho, como uma máscara da morte moldada em gesso e incapaz de invocar autenticamente um ator, para muito além do usual artifício do Botox.
A força da magia da computação gráfica dá, e então a mesma força tira.
Tradução: Pedro de Castro