Um dos grandes indícios de esnobismo cultural e também claro sinal de tolice mesmo são aquelas pessoas que defendem que os títulos dos filmes americanos sejam simplesmente traduzidos para o português, sem passar por nenhuma adaptação.
Fazem isso para mostrar que sabem outra língua (na real, geralmente não sabem) ou por submissão cultural mesmo. Desprezam uma longa tradição nacional de títulos geralmente melhorados pelos nossos competentes tradutores.
Por causa desta mentalidade néscia de tradução quase literal, já inventaram aberrações do naipe “Superbad”, com o ridículo subtítulo “é hoje”. Vejamos. O filme é sobre três amigos que querem aprontar altas confusões. Não dá para levantar a bola melhor que isso. E daí me vêm com “Superbad, é hoje”? Não dá. Coloca aí: “Um trio muito louco”, “Loucuras na universidade” ou “Altas confusões de verão”. Superbad é a imundície de título que mantiveram aqui no Brasil.
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Para princípio de conversa, se o título é realmente bom, ele não precisa ser traduzido
Robocop, por exemplo. Tipo, o filme é sobre um robô que é policial. Não dá para ser melhor e mais claro que isso. Talvez eu mudasse para “Robô do futuro”, mas, mesmo pro populacho, é perfeitamente entendível. Já Ghostbusters é um caso especial. É preciso traduzir, mas não mudar o título. Foi o que fizeram e se deram bem.
Agora, leitor, veja que destino cruel teriam certas obras-primas do cinema sem a devida adaptação. “Um tira da pesada”, se já não se bastasse por ser uma excelente película com Eddie Murphy, tem um dos melhores títulos adaptados de toda a história do universo. Deixa claro que Axl Foley, o personagem de Murphy, não é, apesar da aparência indolente e desleixada, um tira qualquer. Ele é um tira “da pesada”, pronto para resolver os crimes mais cabeludos. Do autor do título, merecedor do Oscar dos títulos adaptados, pouco posso dizer além da palavra “gênio”. Imaginem este filme com o título original: “Beverly Hills Cop”. Não daria nem pro cheiro.
Outro caso de semelhante sapiência na hora de adaptar o título original em inglês para o português é “Loucademia de Polícia”. Atentem para a síntese, simplesmente ausente do excessivamente didático título americano “Police Academy”. Em um brilhante neologismo, “Loucademia”, o autor resumiu o espírito do filme: a academia de polícia é composta por oficiais não muito ortodoxos, que se meterão em situações exageradas e hilariantes. Bingo. E, sem medo de gastar a palavra, “gênio”. Adjetivo que não se aplica a Stanley Kubrick. “Full metal jacket” é um título bem mais ou menos. Compare com “Nascido para matar” e veja quem é o real mestre: Kubrick ou o cara que fez o título em português? A resposta é óbvia...
Os bons títulos adaptados podem ser um atalho para o sucesso. Filmes de arte como ‘O Poderoso Chefão’ e ‘Psicose’ não foram bem nas bilheterias à toa. Além de conterem doses saudáveis da velha ultraviolência, ambos possuem títulos que já mostram serviço. Quem deixaria de assistir a um filme chamado “Psicose”? A menos que “A hora do pesadelo” esteja no cinema vizinho, ninguém.
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Veja por exemplo Ingmar Bergman. Foi prejudicado no Brasil pelo título “O sétimo selo”. O mais apropriado seria algo como “Uma partida de xadrez do além”, “Jogando com a morte” ou, ao estilo Van Damme, “Jogo Mortal”. Seria um sucesso. “Apocalipse Now” é um bom título. Aliás, não existem títulos ruins com as palavras “Apocalipse”, “Mortal”, “Futuro”, “Robô” (mesmo que não existam robôs no filme), “Inferno” ou alguma variação de “Louco”. É só usar a imaginação.
Os tradutores de “Um morto muito louco” - olhe que título original pequeno-burguês: “Weekend at Bernie’s” - realizaram o melhor título de todos os tempos. Não é à toa que fizeram a continuação “Um morto muito louco 2” e surgiu um funk com o mesmo título.
Assim, espero ter ajudado a debelar esta terrível mania esnobe de querer títulos em português iguais aos em inglês, tolhendo a criatividade de nossos tradutores. E aproveito para sugerir títulos para filmes clássicos com títulos manés:
“Morangos silvestres” = “Robôs assassinos do futuro”
“Tudo sobre minha mãe” = “Apocalipse mortal”
“Cidadão Kane” = “Um magnata muito louco”
“A festa de Babete” = “Uma festa do barulho”
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