Nora e Hae Sung se amam com ternura. A cumplicidade deles é absoluta e eles sabem tudo um do outro. Eles têm 10 anos e moram na Coreia do Sul. As duas crianças são separadas quando a família de Nora emigra para o Canadá. Vinte anos depois, eles se reencontram.
Vidas Passadas, longa-metragem de estreia da coreana-canadense Celine Song, surpreendeu no último festival de Sundance ao receber críticas entusiasmadas. Há duas semanas, o filme que está em cartaz nos cinemas brasileiros conquistou duas indicações para o Oscar: Melhor Filme e Melhor Roteiro Original. As grandes expectativas muitas vezes trabalham contra nós, mas, neste caso, é preciso dizer que os elogios e destaques em premiações são mais do que merecidos.
Se há um gênero que é maltratado atualmente é o romântico. No aspecto cômico, principalmente, mas também no drama. Muitas vezes, na tela grande, testemunhamos histórias de amor destruídas pelo sentimentalismo ou pelos lugares-comuns, pelo politicamente correto, pela frivolidade ou pela hipersexualização. Uma verdadeira desgraça, porque se o cinema fez alguma coisa nestes 125 anos de história, foi proporcionar-nos histórias de amor inesquecíveis.
É por isso que dá para entender a recepção entusiasmada de Vidas Passadas por parte do público e da crítica. Celine Song conseguiu contar um triângulo amoroso que não segue o roteiro convencional do cinema atual, mas sim os caminhos muito mais universais do coração humano. A diretora de 36 anos foi capaz de trazer o primeiro amor e a primeira dor para a tela. E o reencontro. E a dúvida. E a nostalgia do que poderia ser e não é. E a lealdade à amizade, amor e memória. E respeito pela própria identidade e pela identidade do amante. E o compromisso com a felicidade do outro. E o perdão. E o caminho de volta.
Os personagens criados por Celine Song não falam muito, mas dizem tudo. Com o olhar. Com gestos. Com um toque de mãos. Com um olho enevoado. Com o desejo radical de não colocar em palavras o que não quer ser definido porque pode causar danos. Com dois abraços que capta toda a complexidade, fragilidade e grandeza do ser humano. E com um plano final prodigioso e muito difícil de contemplar sem se emocionar e sem agradecer à sétima arte pela sua capacidade de expressar o inefável.
© 2024 Aceprensa. Publicado com permissão. Original em espanhol.
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