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Imagem de divulgação do filme O Refúgio Secreto, baseado em livro homônimo de Corrie Ten Boom.
“O Refúgio Secreto” conta a história de Corrie Ten Boom e já ganhou duas versões em filme.| Foto: Divulgação/K Cole Communications

Duas décadas depois do fim da Segunda Guerra Mundial, uma mulher que vivenciou os horrores do conflito decidiu contar sua história, marcada pelo sofrimento e, na mesma medida, pelo altruísmo. O livro, lançado em 1971 sob o título de O Refúgio Secreto (Publicações Pão Diário), traz o relato autobiográfico de Corrie Ten Boom, uma relojoeira da comunidade judaica holandesa que salvou quase 800 judeus durante a ocupação nazista no país. E que, sem jamais atribuir tal ato a um suposto heroísmo, o dedicou à existência de Deus e ao encontro com o real sentido da vida.

Sucesso instantâneo à época, a obra vendeu mais de 4 milhões de exemplares e não demorou a virar filme. A primeira versão foi lançada em 1975, sob a direção de James Collier, e uma outra, mais recente, veio em 2021, dirigida por Laura Matula. Apenas a versão da década de 1970 está disponível ao público brasileiro, na plataforma de streaming Univer Video ou para aluguel pelo Google Play.

Corrie Ten Boom era, de registro, Cornelia Arnolda Johanna. Ela nasceu em 1892 na pequena cidade de Haarlem, na Holanda, a 20 quilômetros de Amsterdã. Seu pai era um relojoeiro e o exemplo dele foi tão forte que Corrie se tornou a primeira relojoeira de seu país. A mãe teve uma morte precoce e a deixou com mais três irmãs. A família levava uma vida tranquila, até Hitler determinar a invasão da Holanda em 1940.

A Holanda sempre teve uma comunidade judaica numerosa e logo alguns membros começaram a pedir ajuda aos Ten Boom. De início, a família ajudava dando comida, mas aos poucos passaram a precisar também de abrigo. Corrie, ainda que cristã, sempre teve profundo respeito pelo “Deus do Antigo Testamento” e se viu na obrigação de socorrer aqueles a quem via também como irmãos.

Foi preciso afastar um armário, rearranjar alguns móveis e assim criar uma entrada, ou melhor, um “refúgio secreto”, em uma parede do quarto de Ten Boom. Como era no andar de cima, dava tempo suficiente para judeus se abrigarem ali, caso a Gestapo entrasse pela porta. Assim, desta forma simples e insuspeita, ela livrou centenas deles dos horrores dos campos de concentração.

Porém, em 1944, a família foi delatada e todos foram presos. No campo de concentração de Ravensbruck, próximo a Berlim, na Alemanha, o pai de Corrie e sua irmã Betsie não resistiram e morreram. A Bíblia se tornou sua companhia diária e ela chegou a converter vários prisioneiros. Por sorte, mais tarde foi liberada e conseguiu escapar do horror nazista.

Uma jornada espiritual

O nazismo tirou anos de convivência com seu pai e sua irmã, além da existência da própria Corrie Ten Boom. Mas estas duras perdas serviram para que ela lembrasse da lição de Jesus Cristo e carregasse sua cruz, fazendo do sofrimento uma mostra de fé. A exemplo do sucesso da obra, seu exemplo de vida permaneceu, pois foi aquele de quem, mesmo contra todas as justificativas racionais, decidiu se arriscar para salvar o outro. 

“A medida da vida, afinal, não é a sua duração, mas sua doação”, dizia a autora. Ten Boom se tornou uma palestrante de renome mundial e costumava proferir essas pequenas frases, aparentemente simples, mas que carregavam abismos de significados sobre o real sentido da vida, como as do evangelho. Ela de fato se doou, até o final de sua vida, e por graça divina ainda teve uma vida longa. Curiosamente, ou milagrosamente, morreu no dia do seu aniversário, aos 91 anos.

A autobiografia de Corrie Ten Boom nos convida a pensar a respeito da presença de Deus e a entender seus desígnios. A escritora ainda lançou, posteriormente, a obra Tramp for the Lord (Andarilha de Deus, em tradução livre), ainda não publicado no Brasil. O livro conta sua jornada como palestrante ao redor do mundo, inclusive em países frontalmente anticristãos, como a antiga União Soviética, China e Cuba.

Em uma das passagens, ela lembra que ia dar uma palestra na Alemanha Oriental, país sob regime comunista. Seu nome estava na lista negra e por isso foi interrogada por horas, logo ao chegar. Revoltou-se contra Deus por mantê-la ali, em vez de deixá-la conversar com os cristãos do país. Foi então que ela entendeu que Deus ama não só os que o seguem, mas igualmente aqueles que o perseguem. Afinal, seu filho veio não pelos justos, mas pelos pecadores.

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