Em 11 de fevereiro, uma árvore caiu e atingiu um carro estacionado na Unidade de Saúde Xapinhal, no bairro Sítio Cercado, em Curitiba. Naquele dia, a Defesa Civil registrou 11 casos de quedas de árvores ou galhos grandes nas ruas da capital após uma forte chuva. No dia 6 de março, uma rua do bairro Santa Quitéria ficou totalmente interditada e várias residências ficaram sem energia elétrica por causa da queda de uma árvore.
Esses episódios viraram rotina na vida dos curitibanos durante o verão de 2019. Balanço da prefeitura mostra que somente nos meses de janeiro e fevereiro foram registradas 540 quedas de árvore na cidade. O número representa 23% de todas as árvores derrubadas por temporais durante todo o ano de 2018.
A queda de árvores causa sérios transtornos à população, com risco de morte e danos a residências, estabelecimentos comerciais e veículos, corte no fornecimento de energia elétrica, além de provocar aumento dos acidentes de trânsito.
Curitiba tem hoje cerca de 320 mil árvores distribuídas pelas ruas, parques, bosques, praças e outros espaços - média de uma árvore para cada seis habitantes. De acordo com a Secretaria Municipal do Meio Ambiente (SMMA), 30% dessas plantas apresentam algum risco de cair durante temporais. Em números, seriam mais de 90 mil árvores em situação de risco.
O engenheiro agrônomo José Fernando Rios, do departamento de Produção Vegetal da SMMA, explica que atualmente as equipes da prefeitura que atuam na arborização não podem mais se basear em dados históricos para fazer projeções e planejamento. “Nós trabalhávamos com base na média dos dados de órgãos de meteorologia, mas nos últimos anos esses dados saíram da curva da média histórica de precipitações, principalmente no verão. Estamos tendo mais calor, mais tempestades. Ocorreram uma série de fatores, como aquecimento global, que alteraram o clima”, diz.
Com as mudanças climáticas, os técnicos da prefeitura têm buscado alternativas. Entre as medidas estão o acompanhamento das árvores para desenvolver ações preventivas. “Além dos atendimentos pontuais, fazemos podas preventivas, limpeza de erva de passarinho [parasita disseminado pelas aves e que em épocas de chuva provocam a queda de galhos]”, relata Fernando Rios.
Causas
Os fatores que contribuem para a queda de árvores durante chuvas fortes são muitos. Entre os motivos mais comuns estão a presença de erva de passarinho em grande volume, a idade das plantas - muitas delas têm mais de 50 anos -, podridão, dano estrutural causado por batida de veículo e outros acidentes e galhos que apresentam alguma ruptura. Há ainda árvores com risco decorrente da poda para evitar danificação da rede elétrica, o que deixa a planta com um formato de V.
O aumento da impermeabilização do solo também é apontado pelos técnicos da prefeitura como fator que facilita a queda. “Quando muitas das árvores de Curitiba foram plantadas, a cidade tinha mais canteiros permeáveis, calçadas mais largas. Havia canteiros na frente das casas, jardins. Conforme o desenvolvimento urbano foi se expandido, houve a necessidade de dar mais espaço para os carros. Um exemplo disso ocorreu nas vias rápidas. Com a redução das áreas permeáveis, a ampliação das áreas asfaltadas e mais calçamento, as plantas ficaram sem espaço para o desenvolvimento das raízes. Então, em muitos locais é visível as raízes das árvores para fora do solo. E isso torna a fixação da árvore mais frágil, o que facilita sua queda durante um temporal”, explica Fernando Rios.
Os jacarandás na Avenida Iguaçu são exemplos de árvores antigas que sofrem com a falta de área permeável. Todo ano a prefeitura registra queda de jacarandá. Na maioria das vezes a árvores está sadia, mas cai porque a raiz se desenvolveu superficialmente.
Algumas espécies, segundo Rios, não aceitam poda. Isto é, quando tem um galho cortado elas são atacadas por uma série de doenças, bactérias, fungos, cupins, formigas. Dependendo da espécie, acaba apodrecendo, em um processo demorado. Com o passar do tempo, cai.
Mas não são somente as plantas com problemas que apresentam riscos de queda. “Mesmo árvores saudáveis, às vezes pelo porte muito grande, podem cair durante uma tempestade. Uma árvore, por exemplo, que tem um desenvolvimento vertical muito grande, pode oferecer algum risco”, diz o engenheiro agrônomo.
Para evitar que o problema se repita no futuro com as árvores que estão sendo plantadas hoje, a prefeitura adotou o plantio apenas de espécies de médio e pequeno portes. As tipuanas, por exemplo, espécie comum nas ruas da capital e que apresentam queda de galhos com frequência, já não são mais plantadas em ruas.
Quando uma árvore cai ou é cortada, os técnicos da prefeitura fazem a substituição por uma espécie de menor porte. Nos novos plantios, eles levam em consideração as características do espaço – desde a largura da calçada até a existência de fiação elétrica – além da função que a planta deverá cumprir. Em 2018 foram plantadas cerca de 20 mil árvores na cidade.
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