A cada três meses, Curitiba ganha novas cores. Frio ou calor, a cidade se mantém colorida o ano todo por causa da troca das flores de todos os canteiros de responsabilidade do município. São 450 mil novas flores a cada três meses para deixar a capital menos cinza. Para o Jardim Botânico, por exemplo, que recebe o maior número delas, são 100 mil. Para os canteiros do centro da cidade, 21 mil.
Veja fotos das flores produzidas no Horto Municipal
A responsabilidade de deixar a cidade mais bonita é do Horto Municipal de Curitiba, no bairro Guabirotuba, onde são criadas 150 mil flores por mês em três estufas. “Nós planejamos a plantação de flores com cores que tenham a ver com o calendário da cidade, como Outubro Rosa e Natal, por exemplo. Criamos os desenhos feitos com flores nos parques e estamos sempre tentando buscar novas maneiras de enfeitar a cidade”, explica Daniel Schlichta, de 29 anos, engenheiro agrônomo-chefe do Horto Municipal.
Apesar do volume considerável de flores produzidas, o trabalho direto no cultivo é feito por uma equipe experiente de apenas nove servidores. E todos passam em cada uma das etapas do processo. O cuidado da equipe e o gosto em tratar das flores é tanto, que o mais recente funcionário está completando 21 anos de Horto.
Matilde Chimaliski, 55 anos, 23 de Horto, se sente orgulhosa e diz que é preciso carinho com as flores. “Elas são sensíveis e a gente tem que tratá-las com amor e respeito. Não tem como a gente ficar estressado trabalhando assim. É muito gratificante ver desde a semente sendo plantada, até a flor aberta saindo para a rua”, conta Matilde.
E não é preciso muito tempo no Horto Municipal para perceber como toda a equipe pensa como ela. Todos trabalham em harmonia. O funcionário Luiz Carlos Straube, de 60 anos, está entre a felicidade de se aposentar e a tristeza de deixar o trabalho e os colegas. “Estou com um pouco de dó de sair da equipe, porque a gente trabalha com vontade. É capaz de eu vir aqui alguns dias como voluntário”, brinca Straube, que completou 30 anos no Horto.
Apesar de produzir e abastecer com flores todas as terras, vasos e floreiras de responsabilidade de Curitiba, o Horto Municipal é responsável pelo plantio das flores apenas na Rua XV de Novembro e no Jardim Botânico. Nos demais parques e praças, o órgão responsável pelo plantio é o Departamento de Parques e Praças do município.
Cultivo
O ciclo todo, da semeadura até a saída da flor para ser plantada na cidade, dura entre 60 e 90 dias, a depender da espécie e do clima — no verão, mais próximo dos 60 dias e, no inverno, mais próximo dos 90.
Tudo começa com a semeadura. As sementes, importadas dos Estados Unidos, Europa e Japão são alojadas por uma máquina em bandejas com 450 divisões, em meio a um substrato para plantas trazida do Canadá, ideal para semeaduras, chamado turfa de Sphagnum.
Segundo o engenheiro agrônomo, as pequenas sementes vêm revestidas com uma camada industrializada de elementos que ajudam no brotamento. “Cada espécie contém uma camada de elementos específica para ela e é nesse revestimento que estão os segredos das empresas que produzem as sementes”, comenta Schlichta.
No segundo momento, as bandejas com 450 sementes vão para a primeira estufa, chamada sementeira, para que brotem. Podem ficar de 30 a 60 dias, dependendo da espécie e do clima. Quando nasce o primeiro caule e a raiz está bem unida à terra, formando o que chamam de plug, as bandejas com os pequenos brotos são levadas à uma segunda máquina, para serem realocados em outro tipo de bandeja, com apenas 15 divisões, mas com mais espaço para cada um dos plugs se desenvolverem.
Essa etapa é chama de repicagem e é o único momento em que há uma linha de produção. Um primeiro servidor coloca as bandejas com 15 nichos vazios no início da máquina. Ela roda, colocando um substrato diferente do primeiro nas divisões, até alcançar o funcionário que está no início da esteira, responsável por abrir espaço na terra. Os demais servidores da linha de produção colocam plugs na terra e o último da fila fica responsável por fazer a primeira regagem.
Por fim, as bandejas são levadas às outras duas estufas onde poderão crescer até a hora de serem plantadas em algum ponto da cidade. “O melhor momento para a flor sair daqui para ser plantada em algum parque ou praça é quando está na fase de botão, antes de desabrochar. Assim, elas terminam de florescer no local e duram os três meses que planejamos”, afirma o engenheiro-chefe do horto.
As flores que não são destinadas a nenhum local e que acabam florescendo na estufa ficam por lá durante um mês e são consideradas sobras. Quando isso acontece — não é todo mês, mas pode chegar a 15 mil flores — o Horto Municipal doa esse excedente para instituições públicas, escolas municipais e estaduais, sedes da Fundação de Ação Social (FAS) e até para igrejas.
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