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Urbanismo

A história do calçadão de Curitiba e a volta da “Rua das Flores”

calçadão de curitiba
(Foto: Albari Rosa/ Arquivo/ Gazeta do Povo)

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Jaime Lerner: "Quebrar o paradigma foi tão importante quanto a revitalização"

Jaime Lerner, arquiteto e ex-prefeito de Curitiba por três vezes, a primeira delas de 1971 a 1975.

Prefeito em 1972, Jaime Lerner encabeçou a revitalização da Rua XV de Novembro, uma medida que, a priori, não agradava a maioria dos comerciantes da região:

Qual a importância da intervenção na Rua XV?

Ela ocorreu no momento em que outras cidades investiam em obras para o automóvel. Nós trabalhamos no contrafluxo disso. Porém o mais importante não foi a obra física do calçadão, mas a revitalização urbana, estimulando atividades que reuniam gente.

Qual era a situação da rua na década de 70?

Não havia condição de todo o trânsito da cidade continuar passando pelo Centro, como estava ocorrendo. Decidimos fechar e tínhamos de fazer rapidamente para evitar demandas judiciais que inviabilizariam a continuidade das obras – e para ter um trecho para efeito de demonstração. Se a obra fosse parada, nunca mais seria retomada. Quando ficou pronto, aqueles comerciantes que haviam assinado uma petição para parar a obra entregaram uma cópia desse documento para mim, como souvenir. Eles tinham aprovado as obras.

Qual foi a dinâmica das obras?

A obra começou na sexta-feira e na segunda-feira de noite um trecho estava concluído, passadas 72 horas. Anteriormente, quando perguntei ao secretário de obras quanto tempo a obra levaria, ele me disse cinco meses. Eu pedi em 48 horas. Ele falou: "Você está louco!" Após muita negociação, ele disse que poderíamos fazer algo em três dias. Fizemos, quebramos um paradigma e foi aberta uma legitimidade para as outras mudanças que vieram depois. (AJ)

Cronologia

O Plano Diretor, criado em 1965 e aprovado no ano seguinte, possibilitou que o acesso e o estacionamento de veículos em algumas ruas fossem impedidos:

19 mai 1972 – A prefeitura distribui uma carta à população, explicando os motivos da obra: "após a conclusão, a Rua XV de Novembro não será palco de intermináveis congestionamentos, será um oásis de tranquilidade". Os comerciantes vão à Justiça contra o fechamento, contratando o jurista Renê Dotti.

20 mai – Município publica anúncio na Gazeta do Povo sobre o calçadão dizendo que a Rua XV vai ficar "linda de viver". O petit pavê já recobre o primeiro trecho, entre as Ruas Muricy e Monsenhor Celso.

26 mai – Após uma semana de obras, o trecho do calçadão é entregue com floreiras e sem solenidade de inauguração.

27 mai – Prefeitura promove uma sessão de pintura ao ar livre na Rua XV de Novembro, com mais de 150 crianças. Segundo o jornal publicou na época, elas tornaram "mais colorida a bela manhã de sol" em Curitiba.

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