A sinalização precária é um perigo, mas ainda assim não é a causa primária dos acidentes constantes entre trens e veículos no encontro das ruas Reinaldo Rodrigues Lima com a Rutildo Pulido, no bairro Cajuru, em Curitiba, onde uma colisão com locomotiva feriu 25 passageiros de um ônibus de transporte coletivo na manhã desta terça-feira (18). A impressão é de moradores próximos ao cruzamento, que acusam a imprudência de muitos motoristas como o principal motivo dos acidentes no trecho.
“Não tem como não ver um trem se aproximando ali. O que acontece é que as pessoas realmente não querem esperar porque mais à frente há um cruzamento em que a composição tem que esperar. Então às vezes ela para uns cinco minutos. Como o caminho alternativo é muito longo, os motoristas preferem cruzar a linha e se arriscar”, observa o eletricista Lauro Loreny, 51 anos, morador vizinho.
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Loreny conta que essa é a terceira vez em dois anos que um ônibus da mesma linha – a Vila Reno, alimentador que vai até o terminal Centenário – foi atingido por uma locomotiva ao cruzar a linha férrea entre as ruas Reinaldo Rodrigues Lima com a Rutildo Pulido. Os outros dois coletivos que passam pela região, a Acrópole e a Agrícola, até hoje não entraram para as estatísticas. “Já virou até piadinha aqui no bairro. Quando a gente fica sabendo de acidente com trem já fala ‘É o Reno de novo?’ Porque é sempre ele. E, na verdade, poderiam ser quatro acidentes em dois anos, mas houve um outro em que o motorista conseguiu evitar a batida”, relembra o eletricista, acostumado a usar a linha em momentos de menos pico.
O acidente desta manhã destruiu a frente do ônibus. O ferido mais grave foi o próprio motorista. Ele teve uma fratura no fêmur e foi apontado pela Rumo Logística, que administra da ferrovia, como o causador da colisão. “O abalroamento ocorreu devido à imprudência do motorista, que tentou cruzar a ferrovia no momento em que o trem se aproximava. O maquinista acionou os procedimentos de emergência, mas não foi possível parar a tempo”, disse, em nota, a concessionária. A CCD, empresa que opera a linha envolvida no acidente, não se manifestou sobre a suposta decisão do motorista de cruzar os trilhos às pressas, uma vez que as circunstâncias da batida ainda não foram esclarecidas.
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Empregado na construção civil, Joaquim Barbosa, 37 anos, foi um dos primeiros a prestar socorro às vítimas do acidente da manhã desta terça. Morador de uma casa em frente à via férrea, ele correu para a rua após ouvir o barulho da colisão – já velho conhecido de quem reside por perto. “Eu escutei o barulho e já sabia do que se tratava. Nós aqui já conhecemos esse som de acidente com trem”, comentou.
Quando chegou para ajudar os feridos, uma das portas do ônibus já tinha sido aberta pelo motorista, mas as outras duas tiveram que ser forçadas. Muitos dos passageiros precisaram de ajuda para deixar o coletivo que, por sorte, não transportava nem crianças, nem idosos naquele horário. “Tinha gente com a cabeça cortada, era muito sangue por ali, só que não foi nada grave. Ali de mais delicado só tinha uma mulher grávida, mas ela não se machucou muito. O perigo foi mais o susto”, descreveu Barbosa.
Segundo ele, o motorista contou que diminuiu a velocidade ao se aproximar da linha, mas que decidiu cruzar porque não ouviu o apito do trem. Embora não tenha presenciado o momento da batida, o morador reitera que a desatenção de motoristas – de todos os tipos de veículos que circulam por ali – é bastante comum. “Tem alguns que abusam muito. Tem muitas pessoas que, mesmo vendo que o trem está vindo, atravessam na frente”.
O Sindicato das Empresas de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana (Setransp) disse que a empresa das linhas que circulam pelo cruzamento reforça os pedidos de atenção dos motoristas durante treinamentos.
Sem cancela, mais acidentes
Moradores relataram que a linha que corta as ruas Reinaldo Rodrigues Lima com a Rutildo Pulido está sem cancela há pelo menos quatro antes. Antes, com o resguardo, eram raras as colisões no local, o que deixava a comunidade mais sossegada. “Antes tinha uma cancela aqui. Eu não sei o que aconteceu, se foi vandalismo ou o que, que eles tiraram. Mas quando tinha a gente não via nada disso porque daí fechava e não tinha como os carros avançarem. Agora é meio direto”, comenta a cabeleireira Evellin Caroline da Silva, 23 anos, que mora e trabalha na região.
Hoje, apenas uma placa horizontal na chegada do cruzamento alerta sobre a passagem de trens no local. O semáforo instalado não funciona e, ainda que os residentes apontem a irresponsabilidade de motoristas, eles admitem que uma sinalização reforçada poderia frear as colisões e evitar acidentes ainda mais graves. “Colocar mais sinais ali que indicam a passagem do trem é uma questão de respeito mesmo porque só o trem buzinando a gente já viu que não dá certo”, acrescenta Barbosa.
Empurra-empurra
No último mês de outubro, vereadores de Curitiba aprovaram um projeto de lei apresentado pela gestão de Rafael Greca (PMN) desobrigando a prefeitura de implantar sinalização de trânsito em passagens de nível. O texto revoga legislação que estabelecia que o custo para a instalação dos dispositivos deveria ser contemplado pelo orçamento municipal.
A lei já foi sancionada e, nesta terça, a prefeitura reforçou que “a responsabilidade pela instalação e manutenção dos sinais sonoro e luminoso no cruzamento com a linha férrea no qual aconteceu o acidente desta manhã é da empresa Rumo”.
Em resposta, a concessionária contrapôs a determinação, jogando para a prefeitura o dever de sinalizar os trechos de passagem de trem. “Conforme estabelece art. 24 do CTB [Código de Trânsito Brasileiro], as melhorias nos cruzamentos rodoferroviários, tais como dispositivos de sinalização rodoviária, condições do pavimento, acessibilidade e demais melhorias para pedestres e veículos é de responsabilidade da prefeitura, por se tratar de vias municipais. Porém, a concessionária mantém diálogo com o município para discutir possíveis ações que contribuam para a segurança da população”, afirmou, em nota.
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