“Descobrimos apenas 30% de todas as riquezas do Egito antigo”. A afirmação é do arqueólogo egípcio Zahi Hawass, que esteve em Curitiba neste sábado (7) para a inauguração do novo museu Rei Menino de Ouro: Tutankhamon, que faz parte do complexo da Ordem Rosa Cruz, no bairro do Bacacheri.
Hawass, que é uma das maiores autoridades do mundo em egiptologia, fez parte da curadoria do novo museu e roda o mundo palestrando sobre as descobertas de seu país, além de apresentar o programa O Caçador de Múmias, no History Channel.
Em entrevista pouco antes da abertura do Museu Rei Menino de Ouro: Tutankhamon, Zahi Hawass explicou porque as peças exibidas não são as originais descobertas na tumba do faraó, o que a história ainda deve contar sobre o passado do Egito e como será o Grande Museu Egípcio, que abre as portas em outubro de 2020 perto das pirâmides de Giza.
Confira a entrevista:
Por que as peças expostas em Curitiba não são originais, e sim réplicas dos artefatos descobertos na tumba do Rei Tut?
Você não pode fazer um museu inteiro sobre Tutankhamon com peças originais, são exatos 3.598 artefatos encontrados na tumba dele e que serão exibidos apenas no Grande Museu Egípcio do Cairo, a ser inaugurado em outubro de 2020. Não teria como mostrar às pessoas daqui estas peças senão com réplicas idênticas autorizadas pelo Ministério das Antiguidades do Egito. Foi utilizada uma técnica única de desenho e reprodução dos artefatos para este museu, de modo que elas parecem vivas (como eram quando foram produzidas na época).
E, na minha opinião, este museu será de grande valia principalmente para educar as crianças sobre a grande civilização do Egito antigo e este menino que governou o país por tão pouco tempo (apenas dos 9 aos 19 anos de idade). Os objetos que vocês podem ver no museu nunca teriam saído do Egito se fossem originais, por isso é importante para Tutankhamon e para o mundo a existência destas réplicas.
Quais mistérios ainda rondam a morte de Tutankhamon que ainda estão sendo descobertos?
Muito se fala que ele foi morto, por isso teria tido um reinado tão curto. Mas, através de exames e imagens tomográficas, nós descobrimos que ele não foi assassinado como se divulga em tantos programas de TV. Eles acham que ele foi morto por conta de uma perfuração que ele tem na altura da nuca, mas essa lesão foi causada durante o processo de mumificação de Tutankhamon.
No momento em que coloquei a múmia dele em um tomógrafo, pudemos constatar que ele não era um menino normal. Ele tinha alguns problemas físicos, entre eles uma má formação dos pés que afetava a circulação sanguínea (não chegava até os dedos), e ainda sofria de malária. Quando examinamos a múmia, percebemos uma fratura na perna esquerda dele que estimamos ter sido causada em um acidente dois dias antes de sua morte.
Isso ainda é um mistério que devemos descobrir no mês que vem, quando faremos mais uma análise da múmia de Tutankhamon utilizando uma nova tecnologia para identificar infecções passadas que podem ter piorado o estado de saúde dele.
Além da própria morte de Tutankhamon, o que mais ainda falta descobrir da história do reinado dos faraós?
Atualmente nós estamos escavando a parte ocidental do Rio Nilo, em frente à cidade de Luxor, no chamado Vale das Rainhas. Ainda se sabe muito pouco sobre as rainhas e princesas da época do Império Novo, das 19ª e 20ª dinastias.
Estamos buscando lá as tumbas de Nefertiti e da filha dela, além dos membros da 18ª dinastia. Estas tumbas começaram a ser escavadas em meados da década de 1990, ainda há muito a ser descoberto. Tenho dois times de historiadores nos dois lados do Vale dos Reis que vem descobrindo coisas muito interessantes, mas que só poderemos anunciar publicamente a partir do mês que vem.
Estimo que tenhamos descoberto apenas 30% do que foi todo o período dos faraós, até porque o Egito moderno foi construído sobre o Egito antigo. Um habitante egípcio pode achar uma tumba apenas cavando no jardim de casa. Eu mesmo encontrei várias tumbas em casas da parte antiga do Cairo, perto do aeroporto da cidade.
Sobre as peças originais da tumba de Tutankhamon e outras que ainda estão no Egito e que serão expostas no Grande Museu Egípcio a ser inaugurado no ano que vem, há algum receio de que tenham pouca visibilidade, por conta da instabilidade política do país?
O Egito tem um grande potencial turístico, mas o movimento de turistas caiu muito desde os protestos de 2011 na Praça Tahrir, quando o então presidente Hosni Mubarak renunciou ao cargo após pressão popular – o Egito passou a ser governado por uma junta militar sob o comando do general Abdul Fatah Khalil Al-Sisi.
É claro que ainda temos problemas por conta dos protestos de 2011, mas, desde 2014 (quando foi instituída uma nova constituição), o Egito tem um governo mais bem organizado e os turistas estão começando a voltar ao país. Não podemos comparar o Egito com a Líbia, a Síria, Iraque ou o Iêmen. É um país único, com uma história única que não pode ser afetada.
O Grande Museu Egípcio será inaugurado em outubro do ano que vem com uma ópera que está sendo escrita na Itália e, dois anos depois, será apresentada no lado ocidental do Vale dos Reis, onde estão ocorrendo novas escavações, em comemoração ao centenário das descobertas do Egito antigo. Depois disso, a ópera começa uma turnê internacional pelas grandes capitais do mundo.
SERVIÇO:
Onde: Museu Rei Menino de Ouro: Tutankhamon (Rua Nicarágua, 2620, Bacacheri)
Entrada: R$24 (inteira) e R$12 (meia-entrada).
Horários:
De terça a sexta das 08h às 12h e das 13h às 17h30
Sábados das 10h às 17h
Domingos das 13h30 às 17h
Feriados das 10h às 17h
*O acesso às instalações dos museus é permitido até meia hora antes do horário de fechamento.
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