A forte chuva que atingiu a região do bairro Água Verde, em Curitiba, na última terça-feira (16), mais uma vez gerou alagamentos e causou estragos nos arredores do cemitério municipal da região. Além de ter danificado e até aberto vários túmulos, como já havia acontecido depois de uma chuva em dezembro do ano passado, a água chegou a alagar ruas, comércios e garagens de condomínios. A situação traz preocupação aos moradores sobre os problemas que uma próxima tempestade pode vir a causar.
IMAGENS: Veja fotos dos danos causados pela chuva nesta terça (16)
“Foi a primeira vez, em 14 anos que eu moro aqui, que a água chegou a invadir a nossa garagem”, explica Nilson Martins Lima, síndico de um condomínio de prédios na Rua Samuel Cezar. De acordo com o síndico, alagamentos na região são recorrentes, mas dessa vez a água invadiu o fosso do elevador do edifício, que teve de ficar desativado ao longo de toda a quarta-feira (17) e deixou alguns condôminos presos em casa. “Uma senhora que mora aqui não pôde ir ao médico, porque ela sabia que não conseguiria subir a escada na hora de voltar”, exemplifica.
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Como o problema de enchente já é conhecido da região do cemitério, que foi construída por cima de um afluente do Rio Água Verde, o condomínio de Lima tem duas bombas de drenagem instaladas no subsolo. Elas são responsáveis por pegar a água que se acumula na garagem do edifício e jogá-la para as galerias da rua. Mas, com a chuva de terça-feira as galerias ficaram cheias, fazendo a água voltar e subiu até a metade das rodas dos carros estacionados.
Outra rua que costuma ter problemas em dias de chuva é a rua Salustiano Cordeiro, onde a Pizzaria Baggio chegou a construir uma barreira para impedir a água de invadir o estabelecimento. Mesmo assim, não teve jeito de evitar totalmente a enxurrada. “Como essa é a parte mais baixa da região, toda a água se acumula aqui”, avalia a gerente do restaurante, Juliana Rodacinski. Segundo ela, a chuva de terça-feira alagou a rua e só não danificou os carros estacionados em frente à pizzaria porque eles foram retirados antes.“Da outra vez, um cliente deve que sair correndo atrás do carro”, lembra a gerente.
Para a advogada Joyce Moreira, que mora em um prédio na mesma rua, o problema tem se agravado nos últimos meses: “Antes a água subia um pouco na garagem, mas a gente vê que nas últimas tempestades ficou ainda pior. Daqui a pouco os carros vão ficar boiando”, comenta.
Túmulos danificados
Vários túmulos do Cemitério Municipal Água Verde amanheceram danificados pela água da chuva na quarta-feira (17). O local enfrenta há anos problemas de enchentes em suas áreas mais baixas. Mas a situação parece se agravar cada vez mais, com a água chegando na altura da segunda gaveta de alguns dos túmulos, a cerca de um metro do chão. “Já tem anos que as galerias enchem e invadem as calçadas, mas dessa vez a água abriu buraco na calçada e deixou caixão exposto”, contou um funcionário, que preferiu não se identificar.
Já ao longo da tarde de quarta, porém, funcionários da prefeitura fecharam os túmulos abertos e sinalizaram áreas em que a calçada ficou danificada e aberta. Mas, além dos danos às sepulturas, outra preocupação das enchentes no cemitério é a contaminação da água, que pode ter entrado em contato com corpos em decomposição e levado componentes tóxicos ao lençol freático.
Na situação de dezembro de 2017, uma tempestade também deixou alguns túmulos abertos. Na ocasião, a prefeitura informou que foram executados reparos emergenciais em sete sepulturas danificadas pela subida do nível de água da chuva.
Solução pode demorar
De acordo com a Secretaria Municipal de Obras Públicas (SMOP), as enchentes na região acontecem há mais de 30 anos, porque as galerias são antigas e pequenas demais para dar conta do fluxo. Para resolver o problema, o Departamento de Pontes e Drenagem tem um projeto técnico de ampliação das galerias da região do Cemitério do Água Verde, que incluiria também a construção de um reservatório para aumentar a vazão e reduzir os alagamentos.
A execução do projeto, porém, não deve acontecer num futuro próximo. A secretaria alega que o motivo é o tamanho da obra, que é considerada de grande porte e precisaria de recursos do governo federal ou estadual.
A médio prazo, a secretaria afirma que algumas que já estão em andamento pela cidade devem ajudar a diminuir a intensidade das enchentes. Entre elas, a transformação de afluentes do rio Pinheirinho, que fica pronta em janeiro de 2019, e a drenagem de 22 km do Rio Barigui, que deve ser entregue ainda no primeiro semestre deste ano.