O acidente envolvendo uma viatura da Polícia Militar (PM) em que quatro mulheres morreram na terça-feira (31) na Linha Verde, em Curitiba, retomou o questionamento sobre quais veículos têm autorização para circular nas canaletas do transporte coletivo da capital e quais são as situações em que isso é permitido. O carro oficial transitava pela via exclusiva dos coletivos quando perdeu o controle e atropelou as vítimas, paradas em um ponto de ônibus. Duas delas morreram no local. As outras chegaram a ser socorridas, mas não resistiram aos ferimentos.
A Superintendência Municipal de Trânsito (Setran) informou que carros das forças de segurança e socorro têm permissão para trafegar pelas vias dos ônibus, mas desde que estejam em atendimento e com alarme sonoro e giroflex ligados. Prevista pelo Código de Trânsito Brasileiro (CTB), essa permissão vale não só para a Polícia Militar, mas para qualquer veículo oficial usado em situação de socorro de incêndio, salvamento e atendimento de ocorrências policiais, como ambulâncias, carros do Corpo de Bombeiros, da Polícia Civil, da Guarda Municipal e órgãos de operação de trânsito, por exemplo.
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À imprensa, a PM justificou que a viatura seguia pela canaleta porque os policiais estavam atendendo a uma ocorrência. No entanto, a corporação ainda não deu detalhes sobre a situação que teria mobilizado os dois policiais. “Esta questão deve ser tratada durante os procedimentos investigatórios e durante oitiva dos policiais militares”, afirmou a Polícia Militar, em nota, nesta quarta-feira. O texto diz também que as circunstâncias serão apuradas internamente em um inquérito policial militar e em um inquérito técnico.
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Em coletiva de imprensa na noite desta terça, a PM afirmou que o giroflex da viatura envolvida no acidente estava ligado. Contudo, o motorista de um dos dois carros atingidos pelo carro dos policiais depois que as mulheres foram atropeladas disse não visto o acessório ligado, nem ouvido o barulho da sirene. Ele contou que também não o viu. “Eu só vi a viatura em cima de mim porque foi muito rápido”, descreveu o motorista, que preferiu não se identificar.
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Vídeo compartilhado nesta quarta pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) flagrou a passagem da viatura instantes antes do local do acidente e nele não é possível observar se o sinal luminoso da viatura ligado. As imagens são das câmeras do prédio da PRF, que fica próximo ao local do acidente. A perícia feita pela Polícia Científica é que poderá dirimir essa duvida. Segundo a Setran, veículos, mesmo que oficiais, que transitarem pelas canaletas em desacordo com a lei cometem infração gravíssima.
Ainda que a PM tenha tratado o caso como uma fatalidade, a Delegacia de Delitos de Trânsito (Dedetran) comunicou que vai apurar as causas do acidente. Em depoimento já prestado, o PM que dirigia a viatura envolvida no acidente disse que o estouro do airbag fez com que ele perdesse o controle do carro. O dispositivo de segurança teria sido acionado no momento em que o carro bateu no meio-fio, antes de atingir o ponto de ônibus e os dois veículos que estavam na rodovia, na pista sentido Fazenda Rio Grande. A informação foi repassada pela Dedetran à Gazeta do Povo. O outro PM que estava na carona ainda não foi ouvido e não há data definida para o depoimento dele.
Além dos dois policiais, outras três testemunhas também devem ser ouvidas. “Vamos coletar o máximo de informações para chegar ao mais próximo possível do que aconteceu. As três testemunhas são pessoas que estavam no local e viram o acidente”, disse o delegado titular da Dedetran, Vinicius Augustus de Carvalho. Também serão ouvidos os familiares das quatro vítimas e os policiais rodoviários federais que atenderam a ocorrência. Nas investigações, a especializada vai analisar as imagens das câmeras de segurança da região.