Sinônimo de progresso para o bairro Santa Cândida, em Curitiba, até a década de 90, o complexo que abrigava a administração do Banco do Estado do Paraná (Banestado), privatizado em 2000, virou motivo de preocupação e medo para os moradores da região. Com salas sem uso, sem manutenção e com pouca segurança, o espaço de cerca de 190 mil metros quadrados caminha para ser mais um mocó. A situação de decadência teve início há cerca de dois anos, mas foi nos últimos dois meses que os vizinhos entraram em alerta total, passando a presenciar pessoas pulando o muro da propriedade quase todos os dias.
“Em vários períodos, a portaria do complexo fica vazia. O mato está alto e, de pouco em pouco, os órgãos que ocupam o prédio estão se mudando dali. A gente nunca sabe o que pode acontecer lá dentro”, conta o empresário Eduardo Possebom, que mora há nove anos em um condomínio na frente do complexo do qual é síndico.
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Há cerca de duas semanas, Possebom encontrou imagens de um homem saindo com um saco de fios roubados do complexo, gravadas pela câmera de segurança do condomínio. O furto acabou interrompendo as atividades na sede da Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba (Comec), órgão do governo do estado que ainda ocupa o prédio e ficou sem luz.
De propriedade do Grupo Itaú, que adquiriu o Banestado em 2000, o complexo na rua Máximo João Kopp está sob administração do governo do Paraná por um termo de comodato desde a dissolução do banco estadual. Outros órgãos também já funcionaram no local, como o Centro Judiciário do Paraná, do Tribunal de Justiça - hoje instalado no antigo Presídio do Ahú - e o Museu da Imagem do Som do Paraná enquanto a sede do Centro passava por reformas.
Hoje, além da Comec, apenas outros dois órgãos estaduais estão no prédio: o almoxarifado da Secretaria da Família e Desenvolvimento Social (Seds) e o arquivo da Secretaria da Justiça, Trabalho e Direitos Humanos (Seju). Mas não por muito tempo. O governo do Paraná afirma que as três pastas estão de saída do Santa Cândida - o que aumenta ainda mais a preocupação dos moradores quanto ao abandono do complexo.
Apesar da presença da Comec, vidros quebrados, lixo e pias jogadas nos gramados, guaritas vazias e latas que indicam uso de drogas são parte do cenário. “O nosso maior medo é o complexo virar uma cracolândia, uma moradia de pessoas sem teto. Até porque são vários barracões. É muito grande”, acrescenta o síndico.
Outro morador da região, o administrador Rodrigo Castro explica que teme que a situação se agrave. “Já há trechos em que pedestres não conseguem passar por causa do tamanho do mato. Imagina se alguém se esconde ali e aborda qualquer um de nós quando estivermos entrado em casa”, afirma.
Denúncias e responsabilidade
De acordo com Possebom, vizinhos já denunciaram o caso à prefeitura de Curitiba por meio da Central 156. Ele próprio chegou a ir ao núcleo regional de administração da cidade, na Rua da Cidadania do Boa Vista, porém, não houve nenhuma ação da prefeitura. A administração municipal afirma que está de mãos atadas, já que o complexo está sob responsabilidade do governo.
Já Castro chegou até mesmo a ligar para a Polícia Militar, no 190: “Foi há cerca de um mês, quando presenciei um homem pulando o muro do complexo. Mas quando a polícia chegou, cerca de 40 minutos depois, já não tinha mais ninguém no terreno”, lembra.
Com a falta de solução, os próprios moradores da região tiveram que tomar iniciativas para impedir que a deterioração se estenda também para a rua, fazendo com que mato alto tome conta calçada, por exemplo.
O Banco Itaú não se pronunciou sobre o destino do complexo. Também não confirmou se o imóvel teria sido vendido. No entanto, reforçou que a responsabilidade de gestão é do estado pelo acordo de comodato. Em nota, o Itaú acrescentou que “uma vez que [o complexo] retorne para administração do banco, será realizada uma avaliação das necessidades para preservação e segurança do local”.
Em um segundo contato com a Secretaria da Administração e da Previdência do governo do Paraná, pasta responsável pelo edifício, a reportagem solicitou informações sobre o motivo do abandono e os planos para o complexo. Mas até a publicação desta reportagem não obteve resposta.
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